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sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Eutanásia



Eutanásia
Editorial
Reformador (FEB) Maio 1994

              
            Que dizer de alguém que obriga uma pessoa a empreender, sem qualquer aviso ou concordância, uma viagem imprevisível, rumo ao desconhecido, sem o preparo indispensável para tanto?
            E a morte corporal, não será a maior e a mais importante das viagens que o Espírito encarnado é forçado a empreender, e para a qual deve preparar-se com o máximo cuidado?
            Nas longas viagens pela crosta planetária, o excursionista prevenido mune-se da bagagem necessária, para enfrentar tão bem quanto possível as exigências e os imprevistos da jornada, de modo a evitar ou minimizar possíveis contratempos.
            Na viagem desencarnatória, de regresso aos planos invisíveis, o Espírito não pode levar consigo bens materiais, alimentos, roupagens, recursos financeiros, privilégios, titulações ou serviçais... Deve devolver ao mundo material, imediatamente e por completo, tudo o que é próprio dele, a começar pelo seu próprio corpo físico e a terminar por todos os seus pretensos direitos sociais, familiares ou sentimentais.
            A única bagagem que o Espírito levará obrigatoriamente para essa magna viagem é a dos seus conhecimentos e sentimentos verdadeiros, acrescidos das vibrações de simpatia, amor e gratidão dos seus afeiçoados, ou das terríveis emissões de ódio dos desafetos que teve a desventura de semear.
            Cada dia e cada minuto de vida, antes do hausto final, são preciosíssimos para o Espírito prestes a abandonar a roupagem material, no rumo do Infinito, porque é exatamente nas vascas da agonia corporal, quando se afrouxam os laços físicos que prendem a alma e o enfermo pressente a aproximação do grande desenlace, que a visão da realidade espiritual se aclara como nunca, propiciando condições inusitadas de reajustamento moral, na preparação do desprendimento inevitável.
            Mesmo o coma físico, que atinge o cérebro carnal, não significa inconsciência da mente espiritual, que, ao contrário disso, na maioria dos casos, desfruta, nessa oportunidade, de alto grau de lucidez, capacitando o Espírito, geralmente assistido por amigos invisíveis, para importantes reajustamentos emocionais na hora próxima.
            Agredir violentamente alguém neste instante supremo, decretando-lhe a morte antecipada, não passa, portanto, de cruel assassinato, das mais funestas consequências, porque, sob a falsa aparência de misericórdia, não somente subtrai ao desencarnante preciosos ensejos de mais tranquilo traspasse, como, além disso, desorganiza-lhe as estruturas perispirituais, mergulhando-o num choque de perturbação indesejável.
            A chamada “morte piedosa” não é, portanto, nada piedosa. É sobretudo um crime.


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