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sábado, 2 de dezembro de 2017

Retrato de uma época


Retrato de uma época
Vitor Hugo
Reformador (FEB) Fevereiro 1956

Trechos de um discurso de Vítor Hugo pronunciado junto ao túmulo de Jean Bousquet, proscrito francês, no cemitério de Saint-Jean, em Jersey, a 20 de Abril de 1853:

... os homens do progresso, os homens da democracia, os homens da revolução sabem que o destino da alma é duplo, e a abnegação que eles mostram nesta vida prova quanto eles esperam profundamente na outra. Sua fé nesse grande e misterioso futuro resiste mesmo ao espetáculo vergonhoso que nos dá, desde 2 de Dezembro, o clero católico aviltado. O papismo romano neste momento assusta a consciência humana. Ah! é cheio de amargor que contemplo tanta abjeção e tanta vergonha, que vejo esses sacerdotes, que por dinheiro, palácios, mitras e báculos, que por amor aos bens temporais abençoam e glorificam o perjúrio, o assassínio e a traição nas igrejas onde se cantam Te-Deus ao crime coroado; e esse espetáculo bastaria de per si só, sim, de per si só, para abalar as mais firmes convicções nas almas profundas, se não se visse acima da Igreja o Céu, e acima do padre, Deus."

"Cidadãos, neste momento, momento fatal, e que será contado nos séculos, o princípio absolutista, o velho princípio do passado, triunfa em toda a Europa; triunfa como lhe convém triunfar, pela espada, pelo cutelo, peja corda e pelo cepo, pelos massacres, pelos fuzilamentos, pelas torturas, pelos suplícios. O despotismo, esse Moloque cercado de ossadas, celebra à face do Sol seus terríveis mistérios sob o pontificado sangrento dos Haynau, dos Bonapartes e dos Radtzky, Forcas na Hungria, forcas na Sicília; em França a guilhotina, a deportação e o desterro. Só nos estados do Papa (e cito o papa que se intitula rei da doçura), só nos estados do Papa, em três anos, mil seiscentos e quarenta e quatro patriotas morreram fuzilados ou enforcados; O número é autêntico, sem contar as inúmeras vítimas enterradas vivas nos calabouços e nas masmorras. No momento em que falo, o continente, como nos piores tempos da História, está coberto de cadafalsos e cadáveres."



("Actes et Paroles – Pendant l’Exil”, vol 1)

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