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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

João, o discípulo amado


João, o discípulo amado

por Pedro de Camargo, o Vinícius
in (Reformador (FEB) página 240 Ano 1933

            “João, o evangelista, é conhecido como o discípulo amado. Porque? Dar-se-á que Jesus tivesse por ele predileção?  Ama-lo-ía o Mestre mais que aos outros?

            O amor de Jesus é o reflexo do amor de Deus. Ele veio revelar o Pai em todo o sentido, sob todos os aspectos. Portanto, o seu amor é invariavelmente o mesmo para todos. A diferença para mais ou para menos procede dos homens. Aquele que mais se identifica com o ideal que Ele incarna, mais recebe e melhor sente o influxo de seu afeto.

            Jesus não mede o seu amor. A medida maior ou menor é o homem que estabelece. “quem tiver sede, venha a mim e beba.” Perceber, pois, o seu amor em maior ou menor intensidade, depende do homem, isto é, da sua capacidade de sentir.

            Se mergulharmos na imensidade do oceano um dedal, só recolheremos a porção de água relativa a capacidade daquele utensílio. Será bem pouca a quantidade; porém, não pode ser mais, em virtude das diminutas proporções do recipiente.

            Tal é a relação entre o amor de Deus revelado em Cristo Jesus e a capacidade maior ou menor do coração humano para conte-lo. É ainda semelhante ao sol que nos ilumina, aquece e vivifica. Se nos expusermos totalmente aos seus raios, receberemos todos os efeitos e influências que deles dimanam; se, porém, nos afastarmos, fugindo à sua ação, tanto menos a perceberemos, quanto mais nos distanciarmos.

            Possuindo o jovem apóstolo um coração simples, meigo e sensível, aberto aos esplendores do bem e do belo; sentimentos afinados em alta diapasão, vibrando às mais suaves e doces emoções espirituais, era, por isso, o que melhor percebia o amor de Jesus, em cujo seio aprazia em reclinar-se.

            João, portanto, não era o mais amado, mas o que mais amava, o que mais se embebia no amor do Mestre, porque a grandeza de seu coração excedia à da dos seus companheiros de apostolado.   

            Igual critério deve prevalecer com ao caso de Jesus aparecer à Madalena em primeiro lugar, quando ressurgiu.

            Sendo uma mulher, foi, todavia, a única pessoa que, afrontando perigos e expondo-se à ojeriza dos Judeus, se dirigiu ao túmulo de Jesus pela madrugada, ainda escuro, para inteirar-se do que era feito daquele a quem tanto amava. Vendo a pedra removida, apressa-se a procurar Pedro, afim de po-lo ao corrente do sucedido. Corre, então, este apóstolo, em companhia de outro discípulo e verificam ambos a realidade do fato. Voltam para casa. Madalena, porém, chumbada ao sepulcro, ali permanece, só e triste, pranteando a ausência do Senhor.

            Como, pois, não havia Jesus de se manifestar a ela antes que aos demais, se foi ela a primeira pessoa que o procurou e a única que permaneceu à beira do túmulo que guardara seus despojos? A preferência, portanto, não partiu de Jesus. Maria de Magdala é que teria sido, talvez, o cérebro que melhor o compreendeu e o coração que mais ardentemente o amou neste mundo.

            É assim o amor de Deus revelado pelo maior expoente de sua divindade: imensurável, infinito. Cada um toma desse amor tanto quanto seja capaz de comportar - ‘ad libitum’.”  



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