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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

A Mediunidade



Ismael Gomes Braga

A Mediunidade
Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Novembro 1947

            Acontecerá depois que derramarei o meu espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos sonharão, terão visões os vossos mancebos; também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu espírito.                Joel, II. 28 e 29.

            São chegados os tempos preditos pelo profeta. Por toda a parte surgem médiuns: homens e mulheres, jovens e anciãos, gente iletrada e professores de Universidade. América Delgado, Zilda Gama, Francisco Cândido Xavier, Porto Carreiro Neto já representam uma longa escala!

            Dos três primeiros não precisamos falar, porque todos os leitores de Reformador os conhecem em livros que circulam há decênios. Vamos tratar somente do quarto, cujo primeiro livro apareceu neste momento.

            Por alguns poemetos em português e Esperanto recebidos mediunicamente e publicados nestas colunas, já os leitores sabem que Porto Carreiro Neto é médium de sublime inspiração poética, mas ainda ninguém sabia que esse ilustre professor da Universidade do Brasil receberia igualmente mensagens de impressionante expressão científica, como agora vemos no primoroso livro Ciência Divina, de Jayme Braga.

            É um livro desconcertante para os professores da ciência oficial, entre os quais se acha o médium, cujo lápis escreveu essas páginas que em muitos pontos lhe contestam as convicções científicas. Talvez seja audácia nossa escrever sobre essas lições, mas pareceu-nos necessário que um membro do povo simples, um estudioso da Doutrina, dissesse algo, suas impressões do livro que se destina a todo o público espírita, não somente aos sábios das Universidades.

            Num prefácio de 15 páginas, em excelente português, composição elegante, revisão perfeita, o médium nos esclarece sobre a sua mediunidade, faculdade pela qual revela muito respeito. Diz-nos: “...as ideias me assaltam aos turbilhões, tendo eu, pois, necessidade de acompanha-las com o lápis o mais depressa possível. Não tenho a menor ideia nem do que vou escrever de início, quando sinto a aproximação de algum manifestante nem, outrossim, do que escreverei ao fazer ponto nalgum período”.

            Só trata nesse prefácio da mediunidade psicográfica, mas quem escreve estas linhas o conhece igualmente como médium de incorporação. Já o temos visto por muitas vezes incorporado, ora com o Guia, dirigindo trabalhos durante mais de uma hora, ora com Espíritos perturbados a serem doutrinados. Convém ficar aqui registrado, portanto, que Porto Carreiro não é somente médium psicógrafo, como se deduziria da leitura do livro: sua missão mediúnica é muito mais complexa. Ainda outra forma de mediunidade muito original de Porto Carreiro é a artística, tão diferente da que se nota em Francisco Cândido Xavier. Este último recebe um poema com a mesma desenvoltura com que recebe prosa, ao correr do lápis; Porto Carreiro recebe um soneto lentamente, por inspiração, verso e verso, sem ação mecânica do braço. Por vezes o poeta invisível o visita em momento inesperado, durante uma viagem, ou o interrompe quando escrevendo ou lendo. Num ônibus, por exemplo, sente a presença de um Espírito e toma de um cartão e lápis e vai escrevendo, em letra muito miúda, os versos que lhe são inspirados. Ao fim da viagem tem o trabalho pronto ou quase pronto. Assim tem recebido lindos sonetos de Camões, de Bocage, de Abel Gomes e outros. Não raro recebe belos versos em Esperanto, alguns dos quais já se acham impressos em Reformador e outros e muitos em sua pasta, sem publicidade.

            Passa a declarar no mesmo longo preâmbulo que gostaria muito de poder apresentar o livro como seu, porque o acha interessante, mas não o faz, porque tem certeza de que a obra não é sua e sim de Jayme Braga. Refuta a teoria do subconsciente, porque muitas ideias do livro são inteiramente novas e desconhecidas do mundo.

            A seguir dá explicações de termos científicos, para que os leigos em ciência possam compreender o pensamento do Autor, tornando assim o prefácio uma breve iniciação em Física e Química.

            Apesar do esforço do prefaciador, o livro requer muita reflexão e certa instrução e não está ao alcance de todas as inteligências, como os romances mediúnicos ou as mensagens morais. A obra parece destinada às rodas intelectuais e não ao povo em geral. Nesse sentido, surpreende-nos a coragem da Editora, dando a primeira edição de cinco mil exemplares que é demasiado grande para livro de compreensão difícil. Bastariam dois mil exemplares para muitos anos.

            Nalguns lugares mais difíceis, interfere Bezerra de Menezes, dando esclarecimentos, ajudando o leitor a penetrar no pensamento do Autor.

            Em outros artiguetes prosseguiremos dando nossas impressões do livro e desde já expressamos nossa imensa curiosidade por saber como será recebida no mundo espírita brasileiro uma obra dessa natureza, por enquanto quase única, pois que a única de natureza semelhante, “A Grande Síntese”, de Pedro Ubaldi, em tradução de Guillon Ribeiro, só teve uma edição e ficou em pequenas rodas de eruditos.

            Não se suponha, no entanto, de nossas palavras acima, que se trate de um livro friamente científico, sem Deus nem fé, como costumam ser as obras de mera ciência. Nada disso! O livro é um hino de louvores ao Criador e ao Universo. Os seus esforços mais ingentes são para entendermos o poema de Deus na Criação, para aprendermos a ler o Livro Divino da Natureza. Neste sentido pode ele figurar como páginas de ouro da literatura religiosa.

            Findo o preâmbulo do médium, vem uma “Apresentação” do Autor, apenas de uma página, na qual define ele sua missão sobre a Terra. Essa missão resume-se a isto: “...esclarecer todas essas questões que se debatem em livros, sem que se entendam". “Desejo que tudo se esclareça de modo elevado e consentâneo com a grandeza do Criador... , diz-nos o Autor invisível.

            Não deve ficar olvidado neste primeiro artiguete o aspecto literário do livro. Português de lei, excelente pontuação, boa revisão, dá-nos a impressão de obra clássica de nossa literatura vernácula.

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