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quinta-feira, 31 de outubro de 2019

A voz de Jesus



A voz de Jesus
Lino Carmo
Reformador (FEB) Novembro 1920

“Não vos admireis disso, porque vem o tempo em que todos aqueles que estão nos sepulcros ouvirão a voz do filho de Deus. (João, V, v. 28).

Assim falou Jesus aos Judeus que, hipocritamente submissos à letra da lei, contra ele se revoltavam e procuravam elimina-lo, por querer mostrar lhes que a lei é amor, que a que produz o ódio e exclui a caridade não é lei de Deus, que, em si mesmo, é amor, Não quiseram então muitos, a maioria dos que estavam nos sepulcros, ouvir a voz do filho de Deus. Mas este não falou apenas para aquele momento. Suas palavras foram ditas para todos os tempos que aos de então se seguiriam na vida em humanidade. Por isso é que, tendo a presciência do futuro, ele anunciou que tempo viria em que a sua voz seria ouvida por todos os que estivessem nos sepulcros.

Tudo demonstra que chegou esse tempo. Por toda parte, por todos os cantos do planeta, nos centros populosos e civilizados, como nos mais pequeninos lugarejos da terra, como pelo espaço inteiro que a circunda, a voz do filho de Deus ressoa pela boca de seus mensageiros e enviados, invisíveis c visíveis. Num comércio íntimo de pensamentos e sentimentos, a humanidade do aquém e a do além conjugam cada vez mais seus esforços, se fazem mais fortemente solidárias na procura do verdadeiro pão celestial, único que realmente mata a fome do espírito - a palavra de Jesus em espírito e verdade.

Que importa surjam os díscolos (insubordinados), outros fariseus ou os mesmos de outrora, hoje reencarnados, pretendendo abafar essa voz que reboa pela imensidade? O mesmo que conseguiram há dois mil anos – nada. O gênero humano se adiantou, progredindo os espíritos que o compõem na sua maioria. As inteligências se desenvolveram, tornando- se capazes de descortinar os destinos espirituais de todas as criaturas, de lhes conhecer a origem comum e a trajetória para a realização daqueles destinos. A razão humana, já em parte emancipada e tendendo, sob a ação da força incoercível do progresso espiritual, a se emancipar completamente, não mais poderá ser escravizada por crenças que só foram apropriadas à infância da humanidade, ou por dogmas de qualquer espécie ou procedência. Ela hoje atinge a virilidade e se liberta de todas as peias, para só se inclinar perante o tribunal de Deus, cuja sede está, em cada criatura, na sua consciência esclarecida pela razão, iluminada esta pela luz pura da verdade.

Chegaram, pois, os tempos preditos por Jesus. Largo rasgão se abriu no véu que tolhia a visão do homem. Por aí ele divisa jubiloso as claridades da nova fase que surge no evolver da sua vida infinita de ser, vê perto o cume que terá de galgar e sente que dessa altura contemplará esplendores novos da obra divina. Serão, portanto, inúteis todos os esforços que empreguem os que ainda se comprazem “na sombra da morte”, que é a obscuridade do erro, sob todos os aspectos que possa revestir, por conserva-lo imobilizado na charneca escura, que se lhe vai tornando sempre mais e mais intolerável.

É que os mortos, de fato, começam a ouvir a voz do Messias que o Pai lhes enviou. Que mortos? Os corpos enterrados nos cemitérios e algures? Não. Os mortos a quem Jesus se referia são os que se encontram nos sepulcros da carne, mortos pelas faltas, pelos crimes cometidos contra a lei divina, sofrendo a encarnação material para expiação e resgate desses crimes e faltas, depois do que ressurgirão, isto é, ganharão a vida livre e ditosa do espírito purificado, não mais submetido às reencarnações expiatórias. De um modo ainda mais geral, os que estão nos sepulcros são todos aqueles que se acham encarnados ou sujeitos a reencarnar, os quais todos são os mortos do passado.

Eis o de que cumpre se compenetrem os homens, para que a voz do divino pastor lhes chegue plenamente aos ouvidos, em ondas de celeste harmonia. Eis o que a palavra de seus mensageiros lhes veio ensinar, trazendo-lhes a revelação espírita. Eis o que importa lhes repitam e façam compreender os que no plano terreno se constituíram arautos dessa revelação, principalmente nesses dias de comemoração oficial, em que os verdadeiramente mortos se encaminham em multidões a visitar sepulcros, onde não se encontramos  os que eles choram, a fim de que, o mais cedo possível, como os das necrópoles, vazios fiquem todos os túmulos a que aludia Jesus, por haverem ressurgido para a vida eterna, pela observância da sua palavra, todos os que, à única morte real nos temos condenado divorciando-nos dessa palavra. 

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