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quarta-feira, 23 de maio de 2018

Amor e Egoísmo



Amor e Egoísmo
por Vinícius (Pedro de Camargo)
Reformador (FEB) Junho 1944

            "Disse o Rei aos que se achavam à sua direita: Vinde benditos do meu Pai; possui como herança o reino que vos está destinado desde a fundação do mundo. Pois tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era forasteiro, e recolhestes-me; estava nu, e vestistes-me; estava prisioneiro e enfermo e visitastes-me. Então perguntaram os justos, Senhor, quando te vimos faminto, sedento, nu, forasteiro, encarcerado e enfermo, e te assistimos? E o Rei responderá: Em, verdade vos digo que quantas vezes o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes. Prosseguindo, disse o Rei aos que se encontravam à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, destinado ao diabo e seus anjos. Pois tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; estava nu e não me vestistes; era forasteiro, e não me recolhestes; enfermo e preso, e não me visitastes. Estes também indagarão: Senhor, quando te vimos faminto, sedento, nu, forasteiro, enfermo e encarcerado, e não te assistimos! Então lhe responderá: Em verdade vos digo que todas as vezes que o deixastes de fazer a um dos meus irmãos mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer.”  (Evangelho).

Os trechos acima, extraídos da Parábola dos Cabritos e das Ovelhas, são dignos de toda a meditação e apreço, por isso que encerram, numa síntese concisa, clara como a luz meridiana, a súmula da lei que rege os nossos destinos.

Os dois grupos - o dos eleitos e o dos réprobos - distinguem-se por uma só e única característica; O primeiro, conduziu-se pelo influxo do amor; o segundo, pela influência do egoísmo. Uma só virtude salvou os bem-aventurados. Um só pecado perdeu os precitos (que está previamente condenado). Céu e inferno resultam, pois, respectivamente, de uma única norma de conduta: solidarismo ou isolacionismo. A condenação dos esquerdistas não procedeu propriamente do mal que houvessem cometido, porém do bem que deixaram de praticar. Sua atitude foi negativa, em obediência ao programa ditado pelo egoísmo, enquanto que a dos direitistas foi positiva, atendendo aos impulsos do amor, Dessas circunstâncias, que representam causas distintas, resultaram, como é natural, efeitos opostos, isto é, a felicidade de um grupo, e a desventura do outro.

Havendo, portanto, uma só virtude que salva, e um só pecado que condena, torna-se simples e sumário o julgamento das almas. Não se faz mister aparatos, defensores e acusadores, o Juiz não precisa recorrer a testemunhas, informes e pesquisas fastidiosas. Não lhe interessa a religião, a raça, a naturalidade, os conhecimentos, a política e a posição daqueles a quem vai julgar. Uma só informação, um só antecedente lhe basta para formular o único quesito de cuja resposta depende a sentença, esse quesito resume-se no seguinte: as necessidades, as vicissitudes e as angústias dos pequeninos encontraram, ou não, eco em seu coração? Nada mais. A resposta afirmativa é a vida a negativa é a morte.

A vida está no sentimento. A morte na impiedade. E o que é o sentimento, que nos desperta interesse pelos que sofrem, senão o reclamo do amor? E o que é a indiferença, a frieza, numa palavra a impiedade, senão a resistência do egoísmo? Entre o amor e o egoísmo oscila, inclinando-se para a direita ou para a esquerda, o fiel da balança, símbolo da soberana e indefectível Justiça Divina.

O amor faz os justos; o egoísmo, os réprobos. Não há, pois, necessidade de enumerar faltas, delitos e crimes, tais como o homicídio, o roubo, o adultério, a inveja, a cobiça, a hipocrisia, a luxúria. etc. por isso que o egoísmo reveste no mal, todos os aspectos e modalidades, Outrossim, torna-se dispensável aconselhar e encarecer o valor e a excelência das virtudes, essas ou aquelas, porque todas elas são aspectos e modalidades que o amor assume na infinita esfera do Bem e do Belo.
            
Jesus encarna todos os sofredores, todos os abandonados e todos os párias deste mundo, Ele tomará sobre si as nossas dores, disse o profeta.

Cada um dos padecentes a que se reporta a Parábola representa certo problema social, até hoje sem solução. Os famintos, sedentos e nus personificam o pauperismo, a miséria, os doentes, a enfermidade, os encarcerados, o crime; e, finalmente, o forasteiro que perambula ao léu, os desocupados. Tais problemas são do passado e são do presente, por isso que são de todos os tempos, constituindo, alguns deles, o fermento de agitações que convulsionam a humanidade, e de guerras cruentas e bárbaras que, por vezes, tem ensopado a terra de sangue e de lágrimas, quando Deus determinou que ela fosse regada com o suor do nosso rosto.

Não basta, portanto, dar de comer ao que padece fome ao nosso lado; vestir o nu que está ao alcance de nossa vista; assistir o forasteiro e o enfermo e o prisioneiro, de nosso conhecimento, Cumpre encararmos de frente os problemas sociais que esses sofredores personificam, trabalhando pela sua solução.

Sabemos que mesmo através das iniquidades do século, cumpre-se a Divina Justiça. O sofrimento por que o homem passa importa no reajustamento do seu passado ao presente. Todavia faz parte dos nossos deveres porfiar pelo progresso do planeta que ora nos hospeda, contribuindo com o nosso esforço pessoal, para que,
mediante a nossa, se consume a sua evolução.

Ora, as raízes dos males, que infelicitam o nosso orbe, estão na organização social vigente, organização esta urdida de egoísmo, falha de sentimento, divorciada do amor. Sua finalidade é invariavelmente, o lucro, o interesse, sendo que este se desdobra em várias formas, desde o interesse velado, cujo objetivo é a vaidade particular ou o prestígio dos credos, instituições e partidos. Todas as atenções convergem para semelhante alvo, ao qual tudo o mais é sacrificado. 

Para Jesus, o indivíduo constitui o valor supremo, conforme demonstra a sua atitude diante dos leprosos, da mulher adúltera e de todos os deserdados que o procuravam. Este é o critério que deve orientar a sociedade futura.

Se a guerra mundial, que ora assola o planeta, trouxer essa transformação, estará devidamente compensando o sacrifício de tantas vidas nela imoladas. É necessário, pois, como já foi dito com justeza, ganharmos a paz, por isso que a vitória desse ou daquele grupo de beligerantes, de per si, nada representa. A vitória do amor sobre o egoísmo, do sentimento sobre os interesses, esse, sim, é a única capaz de assegurar a felicidade humana implantando na Terra o reino de Deus.


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