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domingo, 1 de abril de 2012

Mensagem do Perdão



MENSAGEM DO
 PERDÃO

            Filho meu, minha voz não despreza tuas pequeninas coisas de cada dia, mas delas se eleva para as grandes coisas de todos os tempos.

            Ama o trabalho, inclusive o trabalho material.

            Coisa elevada e santa, o trabalho, presentemente, foi transformado em febre. De que não se tem abusado entre vós? Que coisa ainda não foi desvirtuada pelo homem? Em tudo vos excedeis e, por isso, ignorais o labor equilibrado, que tão elevado conteúdo moral encerra: se busca o necessário ao corpo, ao mesmo tempo contenta o espírito. E, no entanto, transformastes esse dom divino, com o qual poderíeis plasmar o mundo à vossa imagem, em tormento insaciável de posse. Substituístes a beleza do ato criador, completo em si mesmo, pela cobiça que nunca descansa. Quantos esforços empregados para envenenar-vos a vida!

            Ama o trabalho, mas com espírito novo; ama-o, não pelo que ele é propriamente, porém, como um ato de adoração a Deus, como manifestação de tua alma, nunca como febre de riqueza ou domínio. Não prendas tua alma aos seus resultados, que pertencem à matéria e, portanto, sujeitos à caducidade; ama, porém, o ato, somente o ato de trabalhar. Não seja a posse, o triunfo, a tua recompensa, mas, sim, a satisfação íntima de haveres cumprido, cada dia, o teu dever, colaborando assim no funcionamento do grande organismo coletivo.

            Esta é a única recompensa verdadeira, indestrutível, solidamente tua; as demais depressa se dissipam e se perdem. Ainda que nenhum resultado positivo obtivesses, uma recompensa ficaria contigo para sempre: a paz do coração, paz que o mundo perdeu por prender-se às coisas concretas, julgando-as seguras.

            Desapega-te de tudo, inclusive do fruto de teu trabalho, se queres entrar na posse da paz. Ocupa-te das coisas da terra, mas o suficiente para aprenderes a desapegar-te delas.

            Toda construção deve localizar-se no teu espírito, deve ser construção de qualidades e disposições da personalidade, e não edificação na matéria, que é um remoinho de areia que nenhum sinal pode conservar.

            Tudo o que quiserdes vos seja unido eternamente deve ser unido por qualidades e merecimento, deve ser enlaçado pela força sutil da Lei, por vós movimentada, nunca por vossa força exterior, ou por vínculos das convenções sociais ou ainda por liames da matéria. Só nesse sentido se pode realmente possuir: de outro modo, não obtereis senão a tristeza depois da ilusão e a consciência posterior da inutilidade de vossos esforços.

            Outro grande problema, que vos diz respeito, é o amor. Elevai-vos em amor, como deveis elevar-vos em todas as coisas, se quereis encontrar profundas alegrias. Martelai vossa alma, num íntimo trabalho de cada dia, que vos leva à conquista de amores sempre mais extensos, únicos que têm a resistência das coisas eternas.

            Sabes que o amor se eleva do humano ao divino e que nessa ascensão ele não se destrói, mas se fortalece, aperfeiçoando e multiplicando-se. Segue-me e, então, poderás entoar o cântico do amor:

            "Meu corpo tem fome e eu canto; meu corpo sofre e eu canto; minha vida é deserta e eu canto; não há carícias para mim, porém todas as criaturas vêm a mim. Meu irmão de mim se aproxima como inimigo, para prejudicar-me, e eu lhe abro os braços em sinal de amor. Eu vos bendigo a todos vós que me trazeis a dor, porque com ela me trazeis a purificação, que me abre as portas do céu. Minha dor é um cântico que me faz subir. Louvado sejas, ó Senhor, pelo que é a maior maravilha da vida; que as pobres intenções malignas de meu próximo sejam para mim a Tua Bênção".

            Estes meus ensinamentos são dirigidos mais à vossa intuição que ao vosso intelecto. Tem um sentido mais amplo o que vos tenho dito: a felicidade dos outros é vossa única felicidade, verdadeira e firme. Significa extinção dos egoísmos num amplexo universal de altruísmo. Tudo isso pode ser de fácil compreensão, mas é difícil senti-lo. Não procuro vossa razão que discute, antes busco essa visão interior que em vós opera, que sente por imediata concepção, que enxerga com absoluta clareza e lealmente se entrega à ação.

            Peço-vos o ímpeto que somente nasce do calor da fé e que nunca vem pelos tortuosos caminhos do raciocínio. Não desejo erudição, pesquisas e vitórias do intelecto; quero, antes, que vejais, num ato sintético de fé e que imediatamente vivais vossa visão, e personifiqueis a ideia avistada, e resplendais, vós mesmos, em seu esplendor. Somente então a ideia viverá na Terra e personificado em vós existirá um momento da concepção divina.

            Não estou apelando para vossos conhecimentos nem para vosso intelecto, que não são patrimônio de todos, mas venho até junto de vós por caminhos inabituais e em vós penetro como um raio que desce às profundezas e dissipa as trevas, que cintila e vos arrasta através de novas vias, com forças novas, que levantarão o mundo como num turbilhão.

            Também falarei, para ser entendido, a linguagem fria e cortante da razão e da ciência, porém usarei, acima de tudo, da linguagem ardente e direta da fé. Minha palavra será ora o brado de comando, ora a ternura de um beijo de mãe.

            Para ser por todos compreendida, minha palavra percorrerá os extremos de sabedoria e de singeleza, de força e de bondade. Será pranto de amargura e remoinho de paixão; será nostálgico lamento, suspirando por uma grande pátria distante, como será também ímpeto de ação para até ela conduzir-vos. Minha palavra rolará, por vezes, como regato sussurrante em verde campina, a trazer-vos o frescor das coisas puras; outras vezes, trovejará com os elementos enfurecidos na fúria da tempestade.

            Ao seio de cada alma quero descer e adaptar-me a fim de ser compreendido; para cada uma devo encontrar uma palavra que a penetre no mais íntimo, que a abale, que a inflame e a arroje para o alto, onde eu estou, que até junto de mim a conduza, onde eu a espero.

            Almas, almas eu peço. Para conquistá-Ias vim das profundezas do infinito, onde não existe espaço nem tempo, vim oferecer-vos meu abraço, vim de novo dizer-vos a palavra da ressurreição, para elevar-vos até mim, para indicar-vos um caminho mais elevado onde encontrareis as alegrias puras.

            Vós vos identificastes de tal modo com a vida física que já não podeis sentir senão uma vida limitada como a do vosso corpo. Pobre vida, rápida e cheia de incertezas, enclausurada nas limitações de vossos pobres sentidos. Pobre vida, encerrada num ataúde, na sepultura que é o corpo a que tanto vos agarrais. Minha voz encerrará todos os extremos de vossas diferentes psicologias. Escutai-me!

            Não vos ensino a gozar das coisas terrenas, porque são ilusórias; indico-vos as alegrias do céu, porque somente estas são verdadeiras. Minha verdade não é a fácil verdade do mundo; não vos prometo alegrias sem esforços, minha promessa não vos ilude. Meu caminho é caminho de dor, porém, eu vos digo que somente ele vos conduzirá à liberação e à redenção. Minha estrada é de luta e de espinhos, mas vos fará ressurgir em mim, que vos saciarei para sempre. Não vos digo: "Gozai, gozai", como o mundo vos fala. O mundo, porém, vos engana; eu não vos enganaria nunca.

            Minha verdade é áspera e nua, contudo é a verdade. Peço o vosso esforço, mas vos dou a felicidade. Digo-vos: "Sofrei", mas junto de vós estarei no momento da dor; com piedade maternal, velarei por vós; medindo todo o vosso esforço, proporcionarei as provas segundo vossa capacidade; finalmente, farei o que o mundo não faz: enxugarei vossas lágrimas.

            O mundo parece espargir rosas, mas na verdade distribui espinhos; eu vos ofereço espinhos, porém vos ajudarei a colher as rosas.

            Segui-me, que o exemplo já vos dei. Levantai-vos, ó homens: é chegado o momento. Não venho para trazer guerra, mas, sim, paz. Não venho trazer dissensão às vossas ideias nem às vossas crenças: venho fecundá-Ias com meu espírito, unifica-Ias na minha luz.

            Não venho para destruir e sim para edificar. O que é inútil morrerá por si mesmo, sem que eu vos dê exemplo de agressividade.

            Desejaríeis sempre agredir, até mesmo em nome de Deus. Com que grande avidez ansiais por discussões e lutas contra vossos próprios irmãos, prontos a profanar, assim, minha pura palavra de bondade. Repito-vos: "Amai-vos uns aos outros". Não discutais, mas dai o exemplo de virtude na dor; amai vosso próximo; aprendei a estar sempre prontos para prestar um auxílio, em qualquer parte onde haja um padecimento a aliviar, uma carícia a oferecer. Vossas eruditas investigações tornaram tão ásperas vossas almas que não vos permitiram avançar um só passo para o céu.

            Não venho para agredir, mas para ajudar; não para dividir, mas unir; não demolir, mas edificar. Minha palavra busca a bondade, antes que a sabedoria. Minha voz a todos se dirige. Ela é ampla como o universo, solene como o infinito. Descerá aos vossos corações, às vezes com a doçura de um carinho, outras vezes arrastadora como o tufão.

            Do alto e de muito longe venho até vós. Não podeis perceber quão longo é o caminho que nós, puro pensamento, devemos percorrer a fim de superar a imensa distância espiritual que nos separa de vós, imersos na terra lodosa. Vossas distâncias psicológicas são maiores e mais difíceis de ser vencidas que as distâncias de espaço e de tempo. Por isso, às vezes, chego fatigado. Minha fadiga, porém, não é cansaço físico: provém apenas do desalento que me nasce de vossa incompreensão. E, no entanto, minha palavra tem a doçura da eternidade e do infinito. Tem tonalidade tão ampla como jamais possuiu a voz humana: deveríeis, por isso, reconhecer-me.

            Venho a vós cheio de amor e de bondade, e me repelis. Eu, que vejo os limites da história de vosso planeta ; eu, que num rápido olhar, vejo sem esforço toda a laboriosa ascensão desta humanidade cujo pai sou, eu me faço pequenino hoje, limito-me e me encerro num átimo de vosso momento histórico para que possais compreender-me.

            Se vos falasse com minha voz potente, não me entenderíeis. Meu olhar contempla a Terra, quando o homem ainda não a habitava e também a vê, no futuro distante, morta, a navegar no espaço como um ataúde de todas as vossas grandezas. Vejo vosso sol moribundo, depois morto e em seguida chamado a uma nova vida. Vejo, além desse átomo que é o vosso planeta, uma poeira de astros a revolutearem sem cessar pelos espaços infinitos, e todos eles transportando consigo humanidades que lutam, sofrem, vencem e se elevam. Tudo vejo, tudo leio nos vossos corações como nos corações de todos os seres.

            Além do vosso universo físico, vejo um maior universo moral, onde as almas, na sua laboriosa ascensão, cumprindo seu diuturno esforço de purificação para o Alto; cantam o mais glorioso hino à Divindade. Esplendorosa luz existe no centro moral do universo, luz que atrai todos os seres por uma força de gravitação moral mais poderosa do que aquela que mantém associadas no espaço as grandes massas planetárias e estelares. Tudo vejo, mas nada falo para não vos perturbar. Tudo vejo e minha mão possante firma o destino dos mundos. Poderia mudar o curso dos astros, mas nós somos lei, ordem e equilíbrio e não aprovamos violações. Empunho o destino dos povos e, no entanto, venho humildemente até vós, para entre vós colher o perfume que se desprenda de uma alma simples. Esse é meu único conforto, quando desço ao ao vosso mundo (1), às camadas profundas e obscuras de matéria densa, formadas de coisas baixas e repugnantes. Aquele perfume parece perder-se na vossa atmosfera carregada de emanações perniciosas, como que vencido pelas forças envolventes do mal. Eu o percebo, no entanto, elegendo-o, e o recolho como se guarda uma joia humilde, porém preciosa. Recolho a delicada florzinha, humilde e gentil, desabrochada na lama, e a guardo em meu coração, onde ela repousará. É o único carinho que encontro em vosso mundo, o único hino, puro e singelo, que me faz descansar. Com a criancinha repousa aos cânticos de sua mãe, que lhe parecem os mais belos, assim me acalento, invadido por infinita doçura, no seio dessas vozes humildes dispersas em vosso mundo.

                (1) A propósito dessa Augusta Visita ao plano terrestre, recordamos ao leitor as excelentes páginas de "Obreiros da Vida Eterna", de André Luís (psicografia de Francisco Cândido Xavier, lª edição, 1946, pp. 16-18) que narram a experiência de Metelo, sábio instrutor espiritual. Ele conta como buscou sua elevação íntima e explica como o fez invigilantemente a princípio, sem bases espirituais de renúncia e perfeito amor: "também eu tive noutro tempo a obsessão de buscar apressado a montanha. A Luz de Cima fascinava-me e rompi todos os laços que me retinham em baixo, encetando dificilmente a jornada." Buscou elevar-se, mas ausentando-se sempre das baixas regiões da Terra e dos planos espirituais inferiores que se lhe avizinham ... até que, narra ele - "certa noite, notei que o vale se represava de fulgente luz... Que sol misericordioso visitava o antro sombrio da dor?
                Seres angélicos desciam, céleres, de radiosos pináculos, acorrendo às zonas mais baixas, obedecendo ao poder de atração da claridade bendita. "Que acontecera?" - perguntei ousadamente, interpelando um dos áulicos celestiais. - "O SENHOR JESUS VISITA HOJE OS QUE ERRAM NAS TREVAS DO MUNDO, LIBERTANDO CONSClÊNCIAS  ESCRAVIZADAS". Nem mais uma palavra. O Mensageiro do Plano Divino não podia conceder-me mais tempo. Urgia descer para colaborar com o Mestre do Amor, diminuindo os desastres das quedas morais, amenizando padecimentos, pensando feridas, secando lágrimas, atenuando o mal e, sobretudo, ABRINDO HORIZONTES NOVOS À CIÊNCIA E À RELIGIÃO, de modo a desfazer a multimilenária noite da ignorância. Novamente sozinho, na peregrinação para o Alto, reconsiderei a atitude que me fizera impaciente. Em verdade, para onde marchava o meu Espírito, despreocupado da imensa família humana, junto da qual haurira minhas mais ricas aquisições para a vida imortal? Porque enojar-me, ante o vale, SE O PRÓPRIO JESUS, QUE ME CENTRALIZAVA AS ASPIRAÇÕES, TRABALHAVA, SOLÍCITO, PARA QUE A LUZ DE CIMA penetrasse as entranhas da TERRA?"
                A vasta bibliografia católica-romana, desde os pais da Igreja às "Fioretti" e de São Francisco a Santa Teresa, reconhece a realidade da Presença operante de Cristo em nosso mundo, tão ingrato ao Divino Amor. Igualmente a literatura protestante, através de um dos mais belos livros evangélicos norte-americanos, - "Como Cristo Veio à Igreja" - defende, atualiza e exemplifica a mesma tese. (Nota do tradutor).

            Essa é a única trégua em meio ao trabalho de iluminar e guiar-vos, ó homens rebeldes, que acreditais dominar e sois dominados, que pensais subir, mas, na verdade, desceis. Eu poderia, contudo, atemorizar-vos por meio de prodígios, aterrorizar-vos com cataclismos. Convencer-vos-ia, no entanto? Minha mão se levanta sobre vós, que sois maus, como uma bênção, nunca para vinganças.

            Escutai com atenção esta grande palavra: desejo que o equilíbrio, violado pela vossa maldade, se restabeleça pelos caminhos do amor e não pelo castigo. Compreendeis a grande diferença?

            Eis as razões da minha intervenção, da minha presença entre vós.  

            A Lei quer o equilíbrio. É a Lei. Vós a desrespeitastes com vossas culpas, ultrajando assim a Divindade. O equilíbrio a “deve" restabelecer-se, a reação a “deve" verificar-se, o efeito  “deve" acompanhar a causa, por vós livremente buscada.

            Deus vos quer livres, já o sabeis. Pois bem, eu venho para que o equilíbrio se restabeleça pelos caminhos do amor e da compreensão; venho para incitar-vos, com palavras de fogo, ao entendimento, estimular-vos a retomar livremente a via da redenção; finalmente, venho ensinar-vos a fazer de vossa liberdade um uso que vos eleve e salve, e não que vos rebaixe e condene. Venho tornar-vos conscientes dessa Lei que vos guia e da maneira de restaurardes a ordem violada, a fim de que essa violação não venha a recair sobre vós, como tremendo choque de retorno que destruirá vossa civilização.

            Venho para salvar-vos, para salvar o que de melhor possuís, o que fatigosamente os séculos têm acumulado, ao preço de muitas dores e de muito sangue.

            Entre a necessidade férrea da Lei que, inexoravelmente, volve ao equilíbrio, interponho hoje o meu amor e a minha luz, como já interpus a minha dor e o meu martírio!

            Homens, tremei! É supremo o momento. É por motivos supremos que do Alto desço até vós. Escutai-me: o mundo será dividido entre aqueles que me compreendem e me seguem e aqueles que não me compreendem e não me seguem. Ai destes últimos! Os primeiros encontrarão asilo seguro em meu coração e serão salvos; sobre os outros a Lei, não mais compensada pelo meu amor, descerá inelutavelmente e eles serão arrastados por um vendaval sem nome para trevas indescritíveis.

            Não vos iludais: reconhecei a minha voz. Reconhecei-a pela sua imensa tonalidade, pela sua bondade sem fronteiras. Algum homem, porventura, já falou assim? Falo-vos de coisas singelas e elevadas, de coisas boas e terríveis. Sou a síntese de todas as Verdades.

            Não me oponhais barreiras de vossas almas, mas escutai, ponderai, deixai que este raio de luz que vem de Deus desça à vossa consciência e a ilumine. Eu vo-lo rogo, humilhando-me em vossa presença; humildemente, para vossa salvação, eu vos suplico: escutai a minha voz!

            Que sobre vós desça a paz. A paz! A paz que não mais conheceis venha sobre vossas almas! Entre vós e a divina justiça está minha oração: "Deus, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem".

            Pobres seres perdidos na escuridão das paixões; pobres seres que tomais por luz verdadeira o ouropel fascinador das coisas falsas da Terra! Pobres seres, maus e perversos! E, no entanto, sois meus filhos e por amor de vós de novo subiria à cruz para vos salvar. Pobre seres que, numa vitória efêmera de matéria, que chamais civilização, haveis perdido completamente o único repouso do coração -. a minha paz!

            Escutai-me. Falo-vos com amor, imenso amor. Fui por vós insultado e crucificado, e vos perdoei; perdoo-vos ainda e ainda vos amo. Trago-vos a paz. Até junto de vós retorno para falar-vos de uma ciência que a vossa não conhece, para pronunciar-vos a palavra que nenhum homem sabe falar, palavra que vos saciará para sempre. Escutai-me.

            Minha voz conduzirá vosso coração a um estase que nenhuma vitória material, que nenhuma grandeza do mundo jamais vos poderá dar.

            Como um clarão intuitivo, minha luz espargirá sobre vós uma compreensão a que os laboriosos processos de vossa razão não chegarão jamais. A razão, filha do raciocínio, discute e calcula, mas eu sou o clarão que em vós se acende e pode, num átimo, transformar-vos em heróis. Aceitai, suplico-vos, este supremo dom que vos ofereço e pelo qual vim de tão longe até junto de vós: aceitai esta dádiva esplêndida, que é a minha paz. É a bem-aventurança do céu, que vos trago de mãos cheias; é a felicidade que coisa alguma terrena jamais vos poderá dar. Reconhecei a minha paz! Para recebe-Ia, abri todas as portas de vossa alma! Dela saciai-vos, com ela inebriai-vos! É um dom imenso que vos trago do seio de Deus, é uma graça com que o meu imenso Amor recompensa a vossa ingratidão.

            Até vós eu venho, trazendo os mais lindos dons, para derramar sobre vossas almas a verdadeira felicidade. Venho para suavizar a Justiça Divina. Fiz longa e fatigante viagem, do meu céu radioso às vossas trevas. Vim espontaneamente, pelo amor que vos consagro. Não renoveis as torturas do Getsêmani, as angústias da incompreensão humana; os tormentos de um imenso amor repelido.

            Quem sou eu? - perguntais-me.

            Sou o calor do sol matinal que vela o desabotoar da florzinha que ninguém vê; sou o equilíbrio que, na variação alternadora dos elementos, a todos garante a vida. Sou o pranto da alma quebrantada, em que desabrocha a primeira visão do divino. Sou o equilíbrio que, nas mudanças dos acontecimentos morais, a todos promete salvação. Sou o rei do mundo físico de vossa ciência; sou o rei do mundo moral que não vedes.

            Sempre me procurais, em toda a parte. Sempre mais profundamente vos escapo, de fibra em fibra, nas vossas mesas de anatomia, de molécula em molécula nos vossos laboratórios. Vós me procurais, dilacerando e dissecando a pobre matéria:  mas eu sou espírito e animo todas as coisas. Não com os olhos e os instrumentos materiais, mas somente com os olhos e os instrumentos do espírito podereis encontrar-me.

            Sou o sorriso da criança e a carícia materna; sou o gemido daquele que morre implorando salvação; sou o calor do primeiro raio de sol da primavera, que traz a vida e sou o vendaval que traz a morte; sou a beleza evanescente do momento que foge; sou a eterna harmonia do Universo.

            Sou Amor, sou Força, sou Ideia, sou o Espírito que tudo vivifica e está sempre presente. Sou a Lei que governa o organismo do universo com maravilhoso equilíbrio. Sou a Força irresistível que impulsiona todos os seres para a ascensão.  Sou o cântico imenso que a criação entoa ao Criador.

            Tudo sou e tudo compreendo, até o mal, porquanto o envolvo e o limito aos fins do Bem. Meu dedo escreve, na eternidade e no infinito, a história de miríades de mundos e de vidas, traçando o caminho ascensional dos seres que para mim se voltam, seres que atraio com meu Amor e que recolherei na minha luz.

            Muitos mundos já vi antes do vosso, muitos verei depois dele. Vossas grandes visões apocaIípticas para mim são pequeninas encrespaduras nas dimensões do tempo. Virei, entre raios de tempestade, para dobrar os orgulhosos e elevar os humildes. Virei vitorioso na minha glória e no meu poder, triunfante do mal, que será rechaçado para as trevas.

            Tremei, porque quando eu já não for o Amor que perdoa e vos protege, serei o turbilhão que tempestua, serei o desencadear dos elementos sem peias, serei a Lei que, não mais dominada pela minha vontade, trazendo consigo a ruína, inexoravelmente explodirá sobre vós.

            Tudo é conexo no Universo: causas físicas e efeitos morais, causas morais e efeitos físicos. Um organismo compressor vos envolve e nele estais presos em cada ato vosso.

            Minha poderosa mão firma o destino dos mundos e, no entanto, sabe descer até a mais humilde criancinha para lhe suster, carinhosamente, o pranto. Essa é a minha verdadeira grandeza.

            Ó vós que me admirais tímidos, no ímpeto da tempestade, admirai-me, antes, no poder que tenho de fazer-me humilde para vós, no saber descer do meu elevado reino à vossa treva; admirai-me nessa força imensa que possuo de constranger meu poder a uma fraqueza que me torna semelhante a vós.

            Não vos peço que compreendais meu poder, que me situa longe de vós; rogo-vos que compreendais o meu amor que me assemelha a vós e me coloca ao vosso lado. Meu poder poderá desalentar-vos e atemorizar-vos, dando-vos de mim uma ideia não justa, a de um senhor vingativo e despótico. Não mais quero vossa obediência por temor.  Agora deve despontar uma nova aurora de consciência e de amor. Deveis elevar-vos a uma lei mais alta e eu retorno hoje para anunciar-vos a boa nova. Não sou um senhor vingativo e tirânico, como outrora, por necessidade, me supuseram os povos antigos: sou o vosso amigo e é com palavras de bondade que me dirijo ao vosso coração e à vossa razão.

            Não mais deveis temer, mas, sim, compreender. Vossa razão infantil já acordou e nela venho lançar minha luz. Sou síntese de verdade e em toda a parte ela surgirá, atingindo a luz da vossa inteligência.

            Não trago combates, mas paz. Não trago divisões de consciência e, sim, união de pensamentos e de espíritos.

            A humanidade terrestre aproxima-se de sua unificação, numa nova consciência espiritual. Não vos insulteis, pois; antes, compreendei-vos uns aos outros. Que cada um concorra com o seu grãozinho para a grande fé e que esta vos torne todos irmãos.

            Que a religião, que é revelação minha, e a ciência, que é o vosso esforço e todas as vossas intuições pessoais se unam estreitamente numa grande síntese, e seja esta uma síntese de verdade.

            Porque eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.


‘Sua Voz’
2 de Agosto de 1932
Dia do ‘Perdão de Porciúncula’ de Francisco de Assis


por Pietro Ubaldi
 inGrandes Mensagens
tradução e apresentação de
Clóvis Tavares (Ed. ‘LAKE’ - 1952)





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