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terça-feira, 6 de outubro de 2020

O Problema do Mal

 


O problema do Mal

por Rodolfo Caligaris  Reformador (FEB) Janeiro 1966

             Desde as mais priscas eras o homem tem observado que, a par das boas coisas que tornam a vida deleitável, outras existem ou acontecem que são o reverso da medalha, isto é, só causam aflições, dores e prejuízos.

             Foi, por isso, induzido a crer seja o governo do mundo partilhado por duas potestades rivais: - Deus, fonte do Bem, e Satanás, agente do Mal.

             Essa crença nos dois princípios antagônicos em luta pela hegemonia foi e contínua sendo a base das doutrinas religiosas de todos os povos.

             Entre estes, a ideia de que uns se salvam e outros se perdem para todo o sempre é geral, havendo até quem afirme que o número dos perdidos é muito maior do que a cifra dos bem-aventurados.

             Quer isso dizer que o Mal seria mais forte que o Bem, e que Satanás estaria conseguindo derrotar a Deus, frustrando lhe os desígnios de salvação universal.

             Em que pese à ancianidade de tais conceitos, são falsos e insustentáveis, diríamos mesmo heréticos.

             Com efeito, admitir o triunfo do Maligno, a dano da Humanidade, é o mesmo que negar ao Pai Celestial os atributos da onisciência e da onipotência, sem os quais não poderia ser verdadeiramente Deus.

             O Espiritismo, que é o Paracleto anunciado pelo Cristo, contrariando os ensinos da Teologia tradicional, esclarece-nos que o Bem é a única realidade eterna e absoluta em todo o Universo, sendo o mal apenas um estado transitório, tanto no plano físico, como no campo social e na esfera espiritual.

             Para que se compreenda isto, é preciso, entretanto, considerar, não as consequências imediatas de tudo quanto observamos, mas sim os seus efeitos mediatos, futuros, porque só estes, ao longo dos anos, dos séculos ou dos milênios, é que farão ressaltar, nitidamente, a infalibilidade da Providência Divina frente aos destinos da Criação.

            Certos fenômenos geológicos, por exemplo, podem ter sido considerados catastróficos à época em que se deram; foram eles, porém, que compuseram os continentes e formaram os oceanos, emprestando-lhes os aspectos maravilhosos que hoje nos extasiam, provocando-nos arroubos de admiração.

             Muitas guerras internacionais e outras tantas revoluções intestinas, embora se constituam, como de fato se constituem, dolorosos flagelos para as gerações que nelas são envolvidas, dão ensejo, por seu turno, à queda de tiranos e opressores, à extinção de preconceitos e privilégios iníquos, à mudança de costumes arcaicos, ao progresso teológico e quejandos, resultando daí, em favor dos pósteros (que seremos nós mesmos, em novas reencarnações) a melhoria das instituições, maior liberdade de pensamento e de expressão, uma justiça mais perfeita, maior conforto nos sistemas de transporte, de comunicações, nos lares, etc.

             Quando não, é por meio delas que os maus se castigam reciprocamente, consoante o ensinamento: “quem com ferro fere com ferro será ferido”. Um dia, ainda que longínquo, cansadas de sofrer o choque de retorno de suas crueldades, ditadas pelo egoísmo, pelo orgulho e outros sentimentos que tais, as nações aprenderão a valorizar a paz, buscando-a, então, sincera e veementemente, através da fraternidade e do solidarismo cristão.

             Assim também acontece com nossas almas.

             Criadas simples e ignorantes, mas dotadas de a1ptidões para o desenvolvimento de todas as virtudes e a aquisição de toda a sabedoria, hão mister de, vida pós vida, neste orbe e em outros, passar por um processo de burilamento que muito as fará sofrer.

             É a Juta pela subsistência. São as enfermidades. As insatisfações. Os conflitos emocionais. Os desenganos. As imperfeições próprias e daqueles com os quais convivemos. Enfim, as mil e uma vicissitudes da existência.

             Nesse autêntico entrevero, usando e abusando do livre arbítrio, cada qual vai colhendo vitórias ou amargando derrotas, segundo o grau de experiência conquistada. Uns riem hoje, para chorarem amanhã, e outros que agora se exaltam, serão humilhados depois.

             Tudo, porém, concorre para enriquecer nossa sensibilidade, aprimorar nosso caráter, fazer que se nos desabrochem novas faculdades, o que vale dizer, se dilatem nossos gozos e aumente nossa felicidade.

             Bendito seja, pois, o Espiritismo, pela revelação dessa verdade, à luz da qual se nos patenteia, esplendorosamente, a Bondade infinita de Deus!

 


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