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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

'A Confissão Auricular' (leia-se Confessionário)



A  Confissão Auricular

Emmanuel
 por Chico Xavier
Reformador(FEB)  03.10.1935

            “Amigos, interpelado, há dias, com respeito à confissão auricular, nada mais pude fazer do que formular uma resposta sintética, de momento, pois me achava então impossibilitado de expender amplas considerações sobre o assunto.
            Tendo também envergado a batina em minha última romagem pelas estradas do mundo, sinto-me à vontade para falar a respeito, com imparcialidade e sinceridade.
            Não será a minha palavra que vá condenar quaisquer religiões, todas nascidas de uma inspiração superior, que os homens viciaram, acomodando as determinações de ordem divina aos seus próprios interesses e conveniências, desvirtuando-lhes os sagrados princípios.
            Todas as doutrinas religiosas têm a sua razão de ser, no seio das coletividades onde foram chamadas a desempenhar uma missão de paz e concórdia. Todos os seus males provém, justamente dos abusos do homem, no amoldá-las à sua abismal materialidade. E constitui irretorquivelmente, um desses abusos a instituição da confissão auricular, pela igreja católica.

Nos tempos apostólicos        
            É verdade que, na época do Precursor, os novos crentes adotavam o sistema de confessarem publicamente seus erros e faltas, mas, tal costume diferia essencialmente de quanto criou a igreja, depois da partida, para o Além, dos elevados espíritos que cimentaram, com o sangue de seus sacrifício e com a mais sublime renúncia aos bens terrenos, as bases do verdadeiro Cristianismo, que vêm resistindo ao bolor dos séculos.
            A confissão pública dos próprios defeitos, nos tempos apostólicos, constitua, de fato, para o homem, uma formidável barreira, a fim de não recair nas faltas cometidas. Um sentimento profundo de verdadeira humildade movia o coração nesses momentos, oferecendo-lhe as melhores possibilidades de resistência ao assédio das tentações e semelhante prática representava como que a necessária imunização contra as chagas morais.

O Confessionário      
            Todavia, decorreram os tempos e com o seu transcurso veio a transformação radical de todas as leis sublimes da fraternidade cristã, anteriormente observadas. Toda sorte de abusos apareceu, contrariando a pureza da doutrina do crucificado. O Cristianismo ficou eclipsado pelas organizações humanas e foi deturpado pelas deliberações de ordem política.
            As suaves lições de Jesus se sumiram com o aparecimento das ‘leis de ferro’ dos concílios e os abusos da casta sacerdotal culminaram na criação do confessionário, foco de devassidão e de imoralidade extremas.

A grande vítima do confessionário   
            A mulher, pelo seu sensível espírito de religiosidade, pela sua natural inclinação à fé, é a maior vítima do confessionário. Foi sempre e é a  mais prejudicada pelos abusos de inqualificável sacramento da penitência, praticados pelos superiores eclesiásticos, pelos teólogos e moralistas da igreja, que, perversamente, criaram os longos e indiscretos interrogatórios, aos quais tem a mulher de se submeter, diante de um homem estranho, que ela, às vezes, nem de vista conhece.
            Os padres, em virtude da sua ignorância no que concerne aos sagrados deveres de um pai de família, não interpelam a confessanda sobre as suas obrigações austeras no lar, no governo de sua casa. Vão justamente ferir os mais delicados problemas, as questões mais íntimas do casal, dando pasto aos pensamentos mais torpes e repugnantes.
            E o véu de modéstia, de pureza, que Deus concedeu à mulher, para que ela pudesse mergulhar no pantanal do mundo como um lírio de espiritualidade, é arrancado por esse homem que se diz ministro das luzes celestes.
            Começa muitas vezes no confessionário o calvário social da mulher. Dolorosos tributos são cobrados as católicas romanas que, confiantes, se vão prostrar aos pés de um homem cheio das mesmas fraquezas que caracterizam os outros mortais, como se os sacerdotes fossem a imagem da Divindade.
            Não podeis calcular a imensidade de crimes hediondos perpetrados à sombra dos confessionários, onde almas afitas buscam consolação e alimento espiritual!

Reformas precisas    
            Torna-se urgente a reforma de semelhantes costumes. Que todos colaborem na extinção dos males do confessionário. Quando não parta das autoridades eclesiásticas essa renovação, seja ela posta em prática pelos esposos, pelos pais de família, pelos irmãos criteriosos, substituindo eles, com o seu zelo e o seu carinhoso desvelo, os sacerdotes.
            Muitas vezes, quando procurado por consciências poluídas, que me vinham fazer o triste relato de suas existências, não me sentia com autoridade, nem para ouvi-las. Sempre considerei a confissão auricular como portadora de venenos sutis para as almas.
            Infelizmente, o espírito do Evangelho, legado por Jesus ao mundo sofredor, foi deturpado pela igreja, segundo os seus interesses mesquinhos.

Em nome de Deus
            Hoje, nós, que já temos o ser trabalhado nas mais penosas experiências, podemos declarar, perante a nossa consciência e diante de Deus, que nos ouve, que nenhum bem pode prodigalizar aos espíritos a confissão auricular. Antes, semelhante ordenança do catolicismo é altamente nociva, pelas suas características de depravação, merecendo, portanto, toda a atenção da sociologia moderna.
            Confessai-vos a quem ofendestes e, quando a vossa imperfeição não vo-lo permitir, buscai ouvir a voz de Deus, no grito das vossas consciências.”

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Comentários de Aron, um espírita - Cabe profunda reflexão sobre o tema acima que guarda íntima relação com o que chamamos de 'Atendimento Fraterno' dentro da Casa Espírita. Até que ponto somos cuidadosos com os desabafos daqueles que nos batem à porta fragilizados em suas dores e muitas vezes descuidados em suas revelações mais íntimas.

3 comentários:

  1. Foi, no maldito confessionário conventual, que perdi minha independência espiritual. A intimidade pessoal foi devassada e recriminada.... foi, a partir daí, que me senti impulsionado a sair duma vida que havia escolhido, a consagração a Jesus, em Francisco de Assis. A Confissão auricular, praticada e ordenada na Igreja Católica é aberrante, castradora, insultuosa e cruel. Os Evangelhos nunca ensinaram a confissão dessa forma. O Apóstolo Paulo incentivava "confessai-vos uns aos outros"... acrescento eu, se houver justificação para tal. O Aconselhamento Espiritual é o mais verdadeiro princípio da orientação a um penitente sincero. Nunca obrigar o confessando, pela lavagem cerebral directa ou indirecta a dizer o que o seu íntimo praticou moral e/ou fisicamente. Portanto, a concluir: A Confissão Auricular a um sacerdote é uma anedota e uma transgressão à liberdade do indivíduo.

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  2. Valeu também pelo desabafo! Preocupa-me o que os espíritas estão fazendo do 'Atendimento Fraterno' em suas Casas. Observei muitos casos de manipulação de informações sobre a intimidade de pessoas então extremamente fragilizadas. Absolutamente lamentável e em tudo semelhante ao confessionário dos católicos.

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  3. São tão ridícula as narrações de tais "santos" que até dá para as explorar em anedotas.... só na Igreja Católica é possível haver uma Enciclopédia de anedotas - pessoas e contos da carochinha!

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