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sábado, 25 de setembro de 2021

Antologia Ubaldiana - 3 e 4

 


ANTOLOGIA UBALDIANA - 3

             A Verdadeira Religião (1952)

            Encontrei-me, viajando pelo mundo, em todos os ambientes.

Achei-me entre católicos e os observei. Muitos deles eram sinceros e convictos e viviam aplicando, realmente, os princípios de sua religião. Sua verdadeira fé me encheu de admiração. Outros deles, porém, embora verbalmente se confessassem e nas práticas religiosas se manifestassem perfeitamente ortodoxos, não viviam inteiramente seus princípios, demonstrando com fatos que, em realidade, neles não acreditavam de modo absoluto. Isso me encheu de tristeza.

Achei-me, depois, entre os protestantes e os observei. Muitos deles eram sinceros e convictos e viviam aplicando, realmente, os princípios de sua religião. Sua verdadeira fé me encheu de admiração. Outros deles, porém, embora verbalmente se confessassem e nas práticas religiosas se manifestassem perfeitamente ortodoxos, não viviam inteiramente seus princípios, demonstrando com fatos que, em realidade, neles não acreditavam de modo absoluto. Isso me encheu de tristeza.

Achei-me, também, entre os espiritistas e os observei. Muitos deles eram sinceros e convictos e viviam aplicando, realmente, os princípios de sua doutrina. Sua verdadeira fé me encheu de admiração. Outros deles, porém, embora verbalmente se confessassem e nas práticas formais se manifestassem aderentes à sua doutrina, não viviam inteiramente seus princípios, demonstrando com fatos que, em realidade, neles não acreditavam de modo absoluto. Isso me encheu de tristeza.

Achei-me, depois, entre os teosofistas, os maçons, es maometanos, os budistas etc. e observei o mesmo fenômeno.

Encontrei-me até entre ateus, materialistas convictos. Não obstante, entre eles encontrei os que procuravam viver segundo superiores princípios de retidão. Senti respeito por eles. Qualquer convicção vivida com retidão merece respeito. O que me encheu de tristeza foi ver o ateu, materialista animalescamente envolvido, somente animado de instintos egoístas para prejudicar o próximo.

Observando-os todos, perguntei a mim mesmo, então: a divisão real, verdadeira, entre os homens, é a de uma religião, doutrina ou crença, ou é, antes, entre o homem sincero e honesto e o homem falso e desonesto, que se encontram no seio de todas as religiões, doutrinas e crenças? Embora as várias divisões humanas, em cada uma delas sempre encontrei esta outra divisão universal de bons e maus.

Perguntemos a nós mesmos, então: não será esta a verdadeira distinção, muito mais real que a outra em que tanto se insiste? Pertencer ao primeiro tipo de homem, antes que ao segundo, não será muito mais importante e decisivo do que pertencer a um determinado agrupamento religioso? Que importa pertencer a esta ou aquela religião, quando não se é sincero nem honesto? Não é o fundamental em qualquer campo? E não é, então, esta a mais importante entre todas as divisões humanas, muito mais do que a atualmente aceita? Não será essa a divisão que Deus mais assinala, de preferência a outra, que se refere, mais que a bondade do homem, aos interesses humanos que em torno dela se agrupam?

Qual é o fato mais decisivo para a edificação do homem (isso constitui o objetivo de todas as crenças) — os pormenores dogmáticos e doutrinários, a ortodoxia da letra ou o haver compreendido o simplicíssimo princípio do bem e do mal, princípio universal, existente em todas as religiões, inscrito no espírito humano e, sobretudo, viver esse princípio?

A verdadeira distinção, nesse caso, não é a atualmente vigorante em nosso mundo — católicos, protestantes, espiritistas, teosofistas, maçons, maometanos, budistas etc. — mas, sim, o justo e o injusto. Esta é a distinção substancial, a que tem valor diante de Deus, muito mais importante que a outra, que pode ser apenas formal. Na segunda se pode mentir e ela, então, é fictícia; nunca na primeira, que é real.

Por que, então, tantas lutas religiosas e doutrinárias? Não têm elas outro valor senão o de defender o patrimônio conceptual do grupo e os interesses que dele dependem. Por que, então, não reduzir todas as crenças a esse seu denominador comum, que é a sua substância, em que todas se encontram, além de todas as divisões? E por que não achar nessa substância a ponte que as une todas numa característica comum, em lugar de procurar em especulações sutis que pode dividi-las? Por que não parar e insistir no que importa acima de tudo; a bondade e a evolução do homem?

Tudo isso é importantíssimo para a fusão das almas no caminho da unificação, que é o futuro do mundo em todos os campos. Daí nasceria um grande respeito recíproco, uma nova possibilidade de compreensão, um superior espírito de fraternidade. O cioso amor à ortodoxia, justificável em outros tempos, excitado até o ponto de preferir a letra ao espírito, pode significar uma satânica falsificação da fé na psicologia farisaica, enfermidade de todos os tempos e de todas as religiões. Pode, então, acontecer que se faça da religião o que sempre se tem feito do amor a pátria que, embora santo em si, se transforma em agressividade e guerras contra outras pátrias. Ora, como esse tipo de amor nacional está hoje em vias de desaparecimento, superado pela vida que caminha para a unificação social, do mesmo modo a vida superará o espírito de absolutismo e intransigência, pois ela se dirige para a unificação religiosa.

É necessário, assim, abandonar o espírito separatista de domínio, em nome de absolutismos, numa verdade que na Terra, para o homem, não pode deixar de ser relativa e progressiva, isto é, em função de sua capacidade evolutiva.

A vida hoje caminha para a colaboração por compreensão em todos os campos e os imperialismos, políticos ou religiosos, pertencem a fases que estão sendo superadas. Os imperialismos espirituais retardam a unificação, que se situa justamente no campo das convicções e das consciências e que não se pode obter com o espírito de absolutismo e de domínio.

Qual é, pois, a religião de substância em que poderão pacificar-se todas as distinções humanas, encontrando-se em seu denominador comum?

A religião de substância é somente uma. A ela pertencem todos os honestos que creem sinceramente e vivem suas crenças, sejam católicos, protestantes, espiritistas, teosofistas, maçons, maometanos, budistas etc...

Estão, ao contrário, fora da religião, todos os falsos, os injustos, os que interiormente não creem (embora formalmente em seus lugares), os que não vivem suas crenças, sejam católicos, protestantes, espiritistas, teosofistas, maçons, maometanos, budistas etc. Estes se igualam no representar a traição a ideia que professam.

            Na "Mensagem de Natal" de 1931, diz Sua Voz: “...não está longe o dia em que somente uma será a divisão entre os homens: justos e injustos.” Na Terra, em todos os campos, existem sempre dois tipos humanos: o evolvido e o envolvido. Encontram-se em todas as filosofias, governos, religiões, hierarquias e povos.

O envolvido vive sempre no nível animal, é animado pelo espírito de dominação e, por isso, intransigente e agressivo; fecha-se na forma, desprezando a substância; é mais ligado à Terra que ao céu. julga-se, em todos os campos, sempre com a posse da verdade e da parte de Deus, julgando todos os outros como situados no erro e da parte de Satanás. Tende à egocêntrica monopolização da Divindade. O evolvido tem características opostas. Vivendo num nível mais alto, é animado pelo espírito de fraternal compreensão; tolera e auxilia; fala com o exemplo, dando e não dominando; é mais aderente à substância que à forma, mais unido ao céu que à Terra. Não julga nem condena. Tende a anular seu eu em Deus e no amor ao próximo. Não se faz paladino da verdade para exigir virtude dos outros, mas começa por praticá-la, ele mesmo: ilumina, não impõe, pois respeita as consciências. Não pretende ser o único que tem Deus consigo. Não identifica com o mal tudo que está fora de seu eu, do seu grupo ou hierarquia nem o condena em defesa própria. Não se faz representante de Deus para dominar com sua personalidade, mas reconhece em Deus o Pai de todos.

O homem está evolvendo e a religião dos justos será a religião unitária que a todos entrelaçará. O estado vigente até hoje corresponde à fase caótica do mundo. Ele caminha, porém, para a fase orgânica na qual, em todos os campos, os relativos pontos de vista se coordenarão numa verdade universal.

A religião una será a substancial, a religião do bem e dos bons, que se compreenderão, por serem evolvidos. Para essa compreensão os envolvidos ainda não estão maduros, pois só podem crer que a salvação depende apenas da filiação a esta ou aquela forma da verdade, sem cuidar da substância, que pode estar em todas as formas. Tudo isso, porém, será fatalmente superado.

É lei de evolução que o dualismo, em que se dividiu nosso universo, gradativamente, em todos os campos se vá reconstituindo em sua originária unidade de que o espírito caiu na cisão, na forma, na matéria. É fatal lei de evolução que chegue finalmente à Terra a tão esperada realização do Reino de Deus.

 Pietro Ubaldi

 Fonte: 3ª Ed. “Fragmentos de Pensamento e de Paixão”, - Ed. FUNDAPU / Ed. LAKE



ANTOLOGIA UBALDIANA - 4

 MENSAGEM DO NATAL 

Pietro Ubaldi (Natal de 1931) 

             No silêncio da Noite Santa, escuta-me. Põe de lado todo o saber e tuas recordações; põe-te de parte e esquece tudo. Abandona-te à minha voz; inerte, vazio, no nada; no mais completo silêncio do espaço e do tempo. Neste vazio, ouve minha voz que te diz - ergue-te e fala: Sou eu. 

             Exulta pela minha presença: grande bem ela é para ti; grande prêmio que duramente mereceste. É aquele sinal que tanto invocaste deste mundo maior em que vivo e em que tu creste. Não perguntes meu nome; não procures individuar-me. Não poderias; ninguém o poderia. Não tentes uma inútil hipótese. Sabes que sou sempre o mesmo. 

             Minha voz, que para teus ouvidos é terna, como é amiga para todos os pequeninos que sofrem na sombra, sabe também ser vibrante e tonante, como jamais a sentiste. Não te preocupes; escreve. Minha palavra dirige-se às profundezas da consciência e toca, no mais íntimo, a alma de quem a escuta. Será somente ouvida por quem se tornou capaz de ouvi-la. Para os outros, perder-se-á no vozear imenso da vida. Não importa, porém: ela deve ser dita. 

             Falo hoje a todos os justos da Terra e os chamo de todas as partes do mundo, a fim de unificarem suas aspirações e preces numa oblata que se eleve ao Céu. Que nenhuma barreira de religião, de nacionalidade ou de raça os divida, porque não está longe o dia em que somente uma será a divisão entre os homens: justos e injustos.

             A divisão está no íntimo da consciência e não no vosso aspecto exterior, visível. Todos os que sinceramente querem compreender o compreendem. Cada um, intimamente, se conhece, sem que o próprio vizinho possa percebê-lo. 

             Minha palavra é universal, mas também é um apelo íntimo, pessoal, a cada um. Muitos a reconhecerão. 

             Uma grande transformação se aproxima para a vida do mundo. Minha voz é singular; porém, outras se elevarão, muito em breve, sempre mais fortes, fixando-se em todas as partes do mundo, para que o conselho a ninguém falte. 

             Não temas; escreve e olha. Contempla a trajetória dos acontecimentos humanos: ela se estende pelo futuro. Quem não está preso nas vossas férreas jaulas de espaço e tempo, vê, naturalmente, o futuro. Isso que te exponho à vista, é também coerente segundo vossa lógica humana e, portanto, vos é compreensível. 

             Os povos, tanto quanto os indivíduos, têm uma responsabilidade nas transformações históricas, que seguem um curso lógico; existe um encadeamento de causas históricas que, se são livres nas premissas, são necessárias nas consequências. 

A lei da justiça, aspecto do equilíbrio universal, sob cujo governo tudo se realiza, inclusive em vosso mundo, quer que o equilíbrio seja restaurado e que as culpas e os erros sejam corrigidos pela dor. O que chamais de mal, de injustiça, é a natural e justa reação que neutraliza os efeitos de vossos atos. Tudo é desejado, tudo é merecido, embora não estejais preparados para recordar o "como" e o "quando". De dor está cheio o vosso mundo, porque é um mundo selvagem: lugar de sofrimento e de provas. Mas, não temais a dor, que é a única coisa verdadeiramente grande que possuís. É o instrumento que tendes para a conquista de vossa redenção e de vossa libertação. Bem Aventurados os que sofrem, Cristo vos disse. 

         O progresso científico, principal fruto de vossa época, ainda avançará no campo material. Está, entretanto, acumulando energias, riquezas, instrumentos para uma nova e grande explosão. Imaginai a que ponto chegará o progresso mecânico, ampliando-se ainda mais, se tanto já conseguiu em poucos anos! Não mais existirão, na verdade, distâncias: os diferentes povos de tal modo se comunicarão que haverá uma sociedade única. 

         A mente humana, porém, troca de direção de quando em quando, vive ciclos, períodos, e, nessas várias fases, deve defrontar diferentes problemas. O futuro contém não só continuações, mas transformações: consequências de um processo natural de saturação. O vosso progresso científico tende a tornar-se e tornar-se-á tão hipertrófico — porque não contrabalançado por um paralelo progresso moral —, que o equilíbrio não poderá ser mantido nos acontecimentos históricos. Tem crescido e, sem precedentes na história, crescerá cada vez mais o domínio humano sobre as forças da natureza. Um imenso poder terá o homem, mas ele para isso não está preparado moralmente, porque a vossa psicologia infelizmente é, em substância, a mesma da tenebrosa Idade Média. É um poder demasiadamente grande e novo para vossas mãos inexperientes. 

         O homem será dominado por uma tão alargada sensação de orgulho e de força, que se trairá. A desproporção entre o vosso poder e a altura ética de vossa vida far-se-á cada dia mais acentuada, porque cada dia que passa é irresistivelmente para vós, que vos lançastes nessa direção, um dia de progresso material. 

         As ideias são lançadas no tempo com massa que lhes é própria, como os bólidos no espaço. Eu percebo um aumentar de tensão, lento porém constante, que preludia o inevitável explodir do raio. Essa explosão é a última consequência, mesmo de acordo com a vossa lógica, de todo o movimento. Desproporção e desequilíbrio não podem durar; a Lei quer que se resolvam num novo equilíbrio. Assim como a última molécula de gelo faz desmoronar o iceberg gigantesco, assim também de uma centelha qualquer surgirá o incêndio. Antigamente os cataclismos históricos, por viverem isolados os povos, podiam manter-se circunscritos; agora não. Muitos que estão nascendo, vê-lo-ão. 

         A destruição, porém, é necessária. Haverá destruição somente do que é forma, incrustação, cristalização de tudo o que deve desaparecer, para que permaneça apenas a ideia que sintetiza o valor das coisas. Um grande batismo de dor é necessário, a fim de que a humanidade recupere o equilíbrio livremente violado: grande mal, condição de um bem maior. 

         Depois disso a humanidade, purificada, mais leve, mais selecionada por haver perdido seus piores elementos, reunir-se-á em torno dos desconhecidos que hoje sofrem e semeiam em silêncio, retomando, renovada, o caminho da ascensão. Uma nova era começará; o espírito terá o domínio e não mais a matéria, que será reduzida ao cativeiro. Então, aprendereis a ver-nos e a escutar-nos; desceremos em multidão e conhecereis a Verdade. 

         Basta por agora; vai e repousa. Voltarei; porém recorda que minha palavra é feita de bondade e somente um objetivo de bondade pode atrair-me. Onde existir apenas a curiosidade, desejo de emoção, leviandade ou ainda céptica pesquisa científica, aí não estarei. Somente a bondade, o amor, a dor, me atraem. 

     Eu presido ao progresso espiritual do vosso planeta e para o progresso espiritual um ato de bondade tem mais valor que uma descoberta científica. Não invoqueis a prova do prodígio, quando podeis possuir a da razão e da fé. É vossa baixeza que vos leva a admirar como sinal de verdade e poder, a exceção que viola a ordem divina. Se isso pode assombrar-vos e convencer-vos, a vós, anarquistas e rebeldes, para nós, no Alto, ela constitui a mais estridente e ofensiva dissonância; é a mais repugnante violação da ordem suprema em que repousamos e em cuja harmonia vibramos, felizes. Não procureis semelhante prova; reconhecei-a, antes, na qualidade da minha palavra. 

A todos digo: Paz! 

Pietro Ubaldi

Fonte: “Grandes Mensagens”, - Ed. FUNDAPU / Ed. LAKE


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