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sexta-feira, 27 de julho de 2018

A Graça da Mediunidade



A Graça da Mediunidade
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Outubro 1955

Grandes devem ser as preocupações do médium verdadeiramente compenetrado de seu papel no Espiritismo. Sua responsabilidade é realmente extraordinária, tanto quanto à parte que lhe diz respeito, porque está ligada ao seu futuro espiritual, como a que se relaciona ao serviço que dele espera o Espiritismo, para atender às necessidades daqueles que sofrem e buscam em nosso ambiente lenitivo para suas aflições.

Ser médium é uma graça do Alto, mas é, ao mesmo tempo, um compromisso muito grave, do qual ninguém se esquiva impunemente. Temos dito, porque essa é uma verdade universalmente consagrada, que a mediunidade constitui sempre, sejam quais forem as circunstâncias, uma oportunidade concedida ao espírito encarnado. Portanto, o exercício normal das faculdades mediúnicas, sob orientação evangélica, representa benefício incomum para o médium e para os que são favorecidos por sua mediunidade. Nem todos, infelizmente, assim compreendem a nobre missão que lhes cabe e não raro dão pouco valor ao prêmio recebido, malbaratando-o numa indiferença lamentável ou mercantilizando o, sem a mais mínima noção das lutuosas consequências que poderão desabar sobre si.

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Os ensinamentos dos Espíritos insistem em recomendar o cultivo da humildade, porque esta é a primeira condição do homem que realmente compreende as palavras do Cristo: ... todo aquele que se eleva será rebaixado e todo aquele que se abaixa será elevado". Todavia, é preciso Interpretarmos no bom sentido as palavras do Mestre. Positivamente Ele não deseja que nos abaixemos servilmente, mas que saibamos ser sempre e sempre, invariavelmente humildes; que nos abaixemos do orgulho comum, despindo-nos do sentimento ególatra e nos presentando nossa alma nua de preconceitos, mas coberta de simplicidade.

O médium tem o dever de cultivar a humildade em todos os sentidos. Jesus não recomenda que sejamos servis, mas que sejamos humildes. A humildade é gloriosa, porque não afronta nem escandaliza. Ela é simples, porque não se esconde na simulação, mas vive imersa na sinceridade.  Uma das mais belas lições que os médiuns devem recordar a todos os instantes, está neste trecho de "O Livro dos Espíritos": "Dizendo que o reino dos céus é dos simples, quis Jesus significar que a ninguém é concedida entrada nesse reino, sem a simplicidade de coração e a humildade de espírito; que o ignorante possuidor dessas qualidades será preferido ao sábio que mais crê em si do que em Deus. Em todas as circunstâncias, Jesus põe a humildade na categoria das virtudes que aproximam de Deus e o orgulho entre os vícios que d'Ele afastam a criatura e isso por uma razão muito natural; a de ser a humildade um ato de submissão a Deus, ao passo que o orgulho é a revolta contra Ele. Mais vale, pois, que o homem, para felicidade do seu futuro, seja pobre de espírito, conforme o entende o mundo, e rico em qualidades morais."

A humildade deve ser atributo de todo ser humano. A criatura que sabe ser humilde possui força moral invencível. Vê mais longe as coisas e sua visão não se deturpa na miragem que o orgulho desenvolve. O médium precisa estar sempre atento em defesa de suas prerrogativas de escolhido para as tarefas espíritas. Deve fugir da vaidade, que é irmã germana do orgulho. Tem de se precatar contra a auto suficiência, para que os obsessores não encontrem em sua personalidade qualquer ponto vulnerável por onde possam realizar obra daninha. Deixando-se guiar pelo ‘Evangelho segundo o Espiritismo’ o Livro Mestre do Cristianismo Redivivo, poderá estar tranquilo quanto ao seu trabalho e quanto ao seu futuro. Todavia, é mister não esquecer que mediunidade pode também ser sacrifício. Quem diz sacrifício, diz dedicação, compreensão e renúncia. Nossa vida atual está intimamente ligada às vidas que nosso espírito exerceu em encarnações anteriores, Não há elo solto na vida cósmica, como não há elo perdido no mundo espiritual nem elo abandonado na peregrinação terrena. Somos elos de uma imensa corrente, que é a Humanidade, porque nossos pensamentos, nossos atos, nossa vida, enfim, está mais ligada do que pensamos aos pensamentos, aos atos e à vida dos nossos semelhantes. Em virtude do olvido a que a encarnação obriga todos os espíritos, desconhecemos, geralmente, o grau de ligação que nos mantém ao lado das outras criaturas humanas. E isto deve levar-nos a meditar sobre a necessidade de ser bom para com todos, indistintamente, servindo sempre aos que necessitam de ajuda, esclarecendo os que se debatem Das trevas da ignorância, amparando os que se mostram trôpegos na caminhada para a melhoria moral. Dizer-se que somos todos irmãos não é simples jogo de palavras, mas uma verdade grandiosa.

Na vida universal tudo se acha relacionado entre si. Somos como que pequenas entidades moleculares no grande todo universal. Não temos em que nos apoiar firmemente para justificar o orgulho e o egoísmo, os quais contradizem a harmonia cósmica. O médium, mais do que qualquer outra criatura humana, constitui elemento aglutinante nos conglomerados humanos. Está servido de meios para realizar grande tarefa de fraternidade. Essa tarefa é bem mais ampla do que se supõe. Ela ultrapassa, deve, pelo menos, ultrapassar a esfera humana, propriamente dita, e alcançar o reino animal, o reino vegetal, onde quer que o bem possa ser exercido. Em "Os Quatro Evangelhos", urna das obras magistrais do Espiritismo, o médium encontra igualmente inesgotável manancial de conhecimentos, muito úteis à sua peregrinação Terrena. Se tivéssemos alguma autoridade para indicar leituras úteis nos médiuns em geral, apontar-lhes-íamos o seguinte rumo:

I           "O Evangelho segundo o Espiritismo"
II         "O Livro dos Espíritos"
III        "O Livro dos Médiuns"
IV        "Os Quatro Evangelhos"

O estudo, a assimilação do que contêm essas obras magistrais, e o esforço cotidiano para exemplificar os ensinamentos que nelas podem ser colhidos, mostram o rumo seguro e abençoado de todos aqueles, médiuns ou não, que desejam encontrar a rota luminosa traçada por Jesus e adotada pelo Espiritismo. Nessas obras encontramos todo um curso de Espiritismo destinado ao esclarecimento dos médiuns. Outras, muitas outras, dezenas, centenas até, de grandes obras, há para a formação cultural espírita, mas não suplantam as que acabamos de citar . "0 Evangelho segundo o Espiritismo" é obra de leitura diária, de meditação cotidiana. Deve acompanhar-nos a vida inteira, não para a decoração de estantes, mas como ração certa de pão espiritual de todos os dias. Os comentários feitos após os textos do Evangelho de Jesus constituem também lições edificantes, que servem a qualquer cristão, tão elevados são os conceitos ali emitidos, tão profundo seu alcance moral.

Um médium consciente de seus deveres estuda sempre e procura tenazmente exemplificar as lições estudadas, Mas, repetimos, seu primeiro passo deve ser no terreno da humildade esclarecida, que compreende a vida em face do Espiritismo e sabe desculpar os excessos alheios, evitando comete-los também. A grandeza moral do Espiritismo decorre da sua estrutura evangélica. Ele está no Evangelho, porque está nas lições do Cristo e só ele pode explicar, sem o mistério impenetrável dos "milagres", a verdade dos atos de Jesus e o alcance de suas palavras parabólicas.

Ser médium é uma graça do Alto, mas é igualmente uma enorme responsabilidade em face de Deus!

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