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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Dores de lá e de cá


Dores
de cá e de lá
Manuel Quintão
por W. Vieira
Reformador (FEB) Março 1962

            Sim, existem multidões de Espíritos que ainda experimentam largas torturas na forma etérea em que se lhes plasmava o corpo de carne!

            E como não senti-las?

            Sabes que mesmo aí, nos domínios da matéria densa, pessoas que sofreram a amputação de um membro sentem-no ainda, através de terebrantes dores. Que não sentirá alguém que traga o corpo enfermo e a alma verminada, após sofrer a amputação da existência física?

            De cá e de lá, somos defrontados por vivos, mortos e semimortos, pois somente revela habilidade, para morrer, a alma que demonstrou esforço para viver corretamente; ninguém é promovido de carrasco a salvador ou de réu a herói, a passe de mágica.

            Cada homem traz a sentença pessoal lavrada na mente e, ao resvalar do catafalco para o seio da terra, dele depende a liberdade espiritual ou o encarceramento nas sólidas e indesertáveis prisões da consciência.

            Se a evolução patrocina o êxodo perpétuo das sombras de nosso íntimo, nem por isso conseguiremos apagar, de um dia para outro, com operações plásticas irrepreensíveis, as mil cicatrizes de nossos erros, insculpidas na própria alma.

            Na febre de perecedouros interesses terra-a-terra, o homem, muitas vezes, envolto na cerração do engano a toldar lhe a vista, afunda-se no pântano lodacento da incerteza e, desse modo, surgem, aos milhares, os irmãos duvidadores na Terra. Depois do trespasse, errantes e irredimidos, quando a consciência resmunga, ainda maculados de lama em prodigiosos ergástulos fluídicos, uns sorriem, outros gargalham... o sorriso fixo da idiotia, a gargalhada estentórica da loucura... estigmatizados pelas farpas dos dissabores mais díspares.

            Em razão disso, urge tornar espontâneo, em nós, o gesto de cooperar, seguindo as Almas Maiores que não medem o bem que fazem.

            Adota a sinceridade na voz, proscrevendo o aguilhão da astúcia camuflada no glacê da melifluidade, decorrente de intenções escusas que forçam a criatura a exibir atitudes camaleonescas na vida diária.


            Reconheçamos que, nas pegadas do Cristo descrucificado, ninguém é fraco para lutar contra o infortúnio nem é vencido perante a provação; a fé soerguedora mantém desnublada a face padecente, ainda mesmo quando busque romper caminho sob a avalanche de destroços morais em que se agita, por eleger na caridade a antiga e sempre nova tarefa que todos necessitamos desempenhar, cada hora, uns para com os outros, em demanda da vitória sobre nós mesmos, na tecedura interminável do destino. 

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