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segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Reconstrução pelo Espiritismo

 

Reconstrução pelo Espiritismo

Editorial

Reformador (FEB) 1º de Dezembro de 1916

 Publicou a nossa modesta revista (1) algumas páginas de Ed. Schuré, após uma visita ao Santo sepulcro, sobrecarregado de símbolos e ornamentos, que a devoção acumulou durante séculos.

Jerusalém, antiga metrópole de judaísmo, onde se ostentava o templo de Salomão, assinalada pelo Calvário, ora debaixo da denominação turca, pode ser considerada como o lugar de confluência do mosaísmo, cristianismo e maometanismo.

O Sinédrio foi transferido, sob outra denominação, para Roma, mas o farisaísmo prolífico não perdeu o primitivo habitat; continuou a pompear em torno do Santo sepulcro como algures.

Os fariseus antigos não reconheceram o Messias, que transitava, doutrinando e fazendo o bem, pela região da Palestina. Os de hoje não compreendem o Cristo ressurrecto.

Transformaram a religião do espírito, da vida, do amor e da luz em grosseira religião da matéria, da morte e das trevas.

Vede os santuários resplandecentes de luzes, de ouro e pedraria, envoltos em ondas de perfume, com os seus sacerdotes, ricamente paramentados... Plena escuridão espiritual.

Depois de visitar, em sua majestosa simplicidade, a mesquita octaédrica de Omar, erguida no sítio profanado, segundo a narrativa evangélica, pelos mercadores expulsos, p eloquente autor d’Os grandes iniciados observa que a igreja, cultivando as exterioridades, embora sinta o solapamento de seus dogmas, zomba da ciência materialista e da filosofia agnóstica, que não conseguem eliminar o sentimento religioso. São forças que não podem incomodá-la. Tantas vezes tem triunfado da incredulidade e do negativismo!

Espíritos inquietos e estudiosos abandonaram de todo a religião, porque ela os não satisfazia, não dava solução aos problemas que os torturavam; oferecia-lhes, ao contrário, dogmas absurdos e fórmulas rituais inúteis. Não souberam ou não puderam talvez orientar-se nas grandes lutas íntimas.

Podem ser almas sequiosas de verdade e transviadas pela educação.

Precisam de fatos, como os que apresenta, em profusão, o Espiritismo, para que o plano espiritual lhes seja desvendado e esclarecido o problema do destino.

Simples questão de direção, de rumo...

Há outros que permanecem nas igrejas, adotando os seus ritos, porque lhes repugna a conclusão materialista. Podem vislumbrar a luz através das paredes do túmulo. Tem a intuição da outra existência, de onde vieram pela reencarnação. Não há argumentos de a+b que os convençam do contrário. Os dessa classe, que já adquiriram algum adiantamento espiritual, que não são adeptos de seitas religiosas por interesse ou fanatismo, podem apreender, com facilidade, a doutrina espírita que os fará progredir. Estão nas igrejas si et in quantum (se e em que medida), porque cultores do sentimento religioso, não haviam encontrado melhor solução. Sendo sinceros, serão, amanhã, espíritas. Deixarão as igrejas, as velhas fórmulas, que os embalaram, sem irritação, suavemente, atraídos pela luz da Nova Revelação.

Deste lado, tranquilos e confiantes, sem receios do inferno eclesiástico, já estão muitos, que orçam por milhões, vindos do romanismo, do protestantismo e de outras confissões religiosas; o que aliás não nos causa admiração, porque, sabemos, o progresso é uma lei para o indivíduo e para a coletividade.

 ***

 Trabalhavam ou agiam, “dentro de compartimentos estanques”, segundo a imagem empregada pelo escritor citado, a ciência e a religião, uma sem esperança e a outra sem provas, indiferentes ou antagônicas.

Métodos diversos, soluções diversas.

O Espiritismo se aproximou.

Todos aqueles que o estudam, sob os seus diferentes aspectos, sabem como ele colocou, acumulando provas, em face da ciência materialista, o problema fundamental d’alma humana, cujo destino ficou desvendado; sabem como, em consequência, o problema religioso perdeu a feição misteriosa e o caráter de sobre naturalismo, que o punha fora dos domínios da razão e da nossa pesquisa.

Assistimos, felizmente, não a um trabalho somente de demolição, como no século XVIII, mas a uma verdadeira obra providencial de reconstrução científica, filosófica e religiosa.

A guerra atual não a impedirá. (1ª Guerra Mundial)

Felizmente, para a humanidade.

(1)     ‘Reformador’ de 16 de julho de 1916


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