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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O Pensamento de Hermínio Miranda



                   Não podemos, assim, apoiar a tese do Sr. ..., segundo a qual até mesmo a palavra cristão e suas derivadas são de origem duvidosa, de vez que, no seu entender, as fontes do Cristianismo se perdem na densa floresta dos mitos e dos dogmas das antigas e esquecidas religiões. Para o Sr. ..., bastam ao Espiritismo seus dois princípios fundamentais: o da sobrevivência e o da comunicação entre o mundo espiritual e o material. De nossa parte, achamos, ao contrário, que isso é importante, mas não é tudo. O fato de uma criatura saber que sobreviverá à morte física e que pode comunicar-se com aqueles que a precederam na chamada grande viagem, não a torna mais moralizada, nem a coloca necessariamente em relação de amor e gratidão com Deus. E qual o objetivo da vida senão a busca incessante de Deus? Cada passo que damos, nós nos aproximamos d'Ele. Embora não O possamos compreender, sabemos que Ele está à nossa espera, quando alcançarmos o patamar da perfeição moral. Esse esvaziamento do Espiritismo anglo-saxônico tem sido um dos grandes empecilhos ao seu progresso. Tal caminho arenoso e sombrio só poderá levar à aridez do deserto. Para lá também caminha a Parapsicologia dos modernos pesquisadores. Não tardará muito o dia em que os cientistas também aceitarão as provas irrefutáveis da sobrevivência e da comunicabilidade entre os dois mundos - o espiritual e o material. Estará assim emparelhada com a seção do movimento espírita de que o Sr. ... é um dos expoentes. E daí? perguntamos nós, um tanto aflitos. É só isso? Achamos que não. Há uma cadeia infinita de consequências de ordem moral, religiosa e filosófica, que parte daquelas afirmativas iniciais. Se o Espírito sobrevive, como está demonstrado, então precisamos de saber quais as condições de sua vida no Além, o que deverá fazer nesta vida para merecer uma situação mais tranquila na próxima. E, como sobrevive, é eterno. E, como é eterno, não pode ficar contido por uma única existência material que possa decidir, num instante da eternidade, todo o seu destino post-mortem. Qual, assim, a melhor moral? Qual a melhor filosofia religiosa a seguir, para ordenar toda a nossa trajetória espiritual no sentido da evolução contínua e segura para o Alto? A resposta está no Evangelho de Jesus. A experiência nos ensina que é assim, e a lógica o confirma, porque a revelação das verdades espíritas, filtrada pela inteligência superior dos Espíritos de luz, não poderia enganar-se, nem enganar-nos, ao cabo de quase dois mil anos de espera ansiosa e angustiada. Ao contrário do Sr. ..., sustentamos veementemente que ciência e religião são a mesma coisa, as duas faces da mesma realidade final. Não é preciso aproximá-las nem será possível separá-las como o desejaria o autor- Já nasceram juntas; apenas à nossa incurável cegueira elas parecem distintas. Ao contrário do que defende o Sr. Shaw, entendemos que somente nossa imaturidade espiritual tem impedido de perceber essa verdade transcendental: a de que estamos caminhando fatalmente, inevitavelmente, graças a Deus, na direção de uma religião científica que é também uma ciência religiosa. Depois que conseguirmos despojar a pregação de Jesus de todas as suas deformações e interpolações interesseiras, veremos que nela se contêm os princípios fundamentais de uma ciência profundamente religiosa e autêntica. Não desejamos cair no extremo oposto de julgar que somente dentro do Cristianismo espírita, ou do Espiritismo cristão, é possível encontrar Deus. Mas estamos convencidos de que a orientação doutrinária de Allan Kardec é a que melhor atende aos profundos anseios do espírito sinceramente interessado na sua própria evolução. Aqueles que se sentem preparados para acompanhar esse curso superior de prática religiosa, não se contentariam com as formas elementares das demais.

                                                                                  Reformador (FEB) Novembro 1961

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