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quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Reverência ao Codificador

 

“Reverência ao Codificador”  

por Indalício Mendes

Reformador (FEB) Outubro 1964

             Há cento e sessenta anos (*), na cidade francesa de Lião, encarnava um dos mais nobres Espíritos do século XIX: Hyppolyte Léon Denizard Rivail, o nosso queridíssimo Allan Kardec, figura apostolar escolhida pelos maiores do Alto para restaurar no mundo, através do Espiritismo, o Cristianismo do Cristo, tão desnaturado através dos anos por aqueles que se arrogam herdeiros exclusivos do Mestre de Nazaré.

 (*) Do blog:  Hoje... 2021 – 1804 = 217 anos.

 Foi realmente, a 3 de outubro de 1804 que nasceu Allan Kardec. Sua biografia, tantas e tantas vezes repetida, já se fixou na memória de todos os confrades. Portanto não iremos rememora-la aqui, por desnecessário. Queremos, isto sim, apontar a extraordinária significação dessa data, não somente para os espíritas como para a Humanidade em geral.

            O 3 de Outubro de 1804 constitui um marco na luta pela evolução moral do homem na Terra. Kardec teve uma preparação intelectual e moral relativamente longa, pois era preciso que se ilustrasse, que tomasse sólido conhecimento dos problemas humanos, que adquirisse larga experiência, antes de ser chamado ao cumprimento de sua missão. Assim, cinquenta anos depois, isto é, em 1854, teve, pela primeira vez, sua atenção atraída para o Espiritismo, mais precisamente para as “mesas girantes”.

Kardec, entretanto, não era homem fácil de convencer.   Só aceitava uma ideia depois de examiná-la séria e profundamente, esgotando todos os argumentos a ela contrários.

Ao lhe dizerem certos Espíritos que teria de cumprir uma espinhosa missão, respondeu que tinha “o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade”, mas não se achava talhado para tão grande responsabilidade, pois confessara que dificilmente acreditava nessa missão.

O fato é que, ao convencer-se de que não lhe faltaria a assistência espiritual imprescindível ao seu trabalho, aceitou a incumbência.  

As lutas de Kardec, pela codificação, pela vulgarização dos livros doutrinários, pela defesa do Espiritismo, atacado pelo clero e pelo cientificismo pedante, foram tremendas. Não estivesse ele preparado para resistir a tantos ataques, não fora um homem de moral férrea e temperamento vigoroso, a iniciativa teria malogrado. Mas, se os Espíritos o escolheram foi porque sabiam que seria capaz de levar avante a ideia que aguardava há muito tempo o aparecimento na Terra de um homem com o conjunto de virtudes morais e intelectuais que ele representava.

O “Espírito de Verdade” prevenira-o de que se acautelasse, porque, “para lutar com os homens, são indispensáveis coragem, perseverança e inabalável firmeza. Também são de necessidade prudência e tato, a fim de conduzir as coisas de modo conveniente e não lhes comprometer o êxito com palavras ou medidas intempestivas.

Exigem-se, por fim, devotamento, abnegação, e disposição a todos os sacrifícios.”

Grande homem! Espírito eleito! Kardec, já forjado o caráter na vida que lhe havia sido reservada antes de aceitar a honrosa e grave responsabilidade, esteve à altura da confiança nele depositada.

E não falhou. Não esmoreceu. Não desmereceu. O Pentateuco Espírita – “O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns”, “O Evangelho segundo o Espiritismo”, “O Céu e o Inferno” e “A Gênese” – atestam a grandeza da sua tarefa, monumental por seu conteúdo filosófico, científico e religioso, assim como por sua extensão.

Quantos benefícios têm sido feitos à Humanidade pelo Espiritismo? Quantas vidas salvas, retificadas, amparadas e iluminadas pelas obras assinadas pelo ilustre Codificador!

Transferimos para nós todos, neste momento, o exame da grandiosidade do labor de Kardec. Evidentemente, dele não foi todo o grande trabalho, porque superiores Espíritos realizaram a parte mais relevante da mensagem do Consolador. Todavia, coube a Kardec interpretá-la, pô-la em ordem, ajustá-la, codifica-la, enfim. E que serviço! Não houvesse ele podido contar com a assistência espiritual, talvez, nos momentos mais agudos, sentisse dificuldade em tomar a decisão certa.  Mas qual! Se não lhe faltava a assistência do Alto, também não lhe escasseava valor próprio para discernir e saber qual o caminho mais aconselhável a seguir em determinadas circunstâncias.

Os Espíritos, entre eles o “Espírito de Verdade”, sem perderem de vista o missionário, não interferiam em seu livre arbítrio, embora exercessem, quando oportuno, a crítica justa e construtiva, como quando cometeu um erro na elaboração de “O Livro dos Espíritos” e foi advertido por meio de pancadas ouvidas e interpretadas com acerto, tanto que Kardec revisou o que estava pronto, encontrando outros defeitos, sendo, assim, conduzido a refazer o trabalho.

Houve um tempo em que levou em que levou cerca de um ano sem receber qualquer comunicação escrita em sua casa. E confessou: “Somente fora da minha casa lograva eu receber comunicações.”    

Porque isso? Naturalmente porque o “Espírito de Verdade” não desejava que ele, em sua casa, só com o médium, pudesse ser involuntariamente induzido a qualquer equívoco que o fizesse, depois, vacilar quanto à segurança dos comunicados.

Em 1º de janeiro de 1867, com 63 anos, lembrava que a comunicação do “Espírito de Verdade”, entremostrando-lhe os percalços futuros, “se realizou em todos os pontos”. Ele sofreu todas as vicissitudes preditas. Foi traído por aqueles em quem mais confiava, caluniado, invejado, difamado, atacado por quem lhe devia muitos serviços.

Semelhante comprovação, em vez de constituir desânimo para esse homem admirável, ainda mais robusteceu a sua fé no Espiritismo, consolidando a confiança já enorme que tinha em o “Espírito de Verdade” e em outros Espíritos elevados.

Eis porque, espíritas que tendes a responsabilidade de direção de qualquer obra, qualquer serviço no Espiritismo, não vos deixeis quebrantar pelas traições, injúrias, mentiras, intrigas.

São coroas de espinho que os ineptos põem na cabeça dos que se sacrificam tudo de material pela realização de serviços humanitários, de propaganda de obras benéficas e salvadoras. A maldade dos homens espiritualmente atrasados constitui a cruz que todo homem evoluído carrega aos ombros.

Quantos companheiros nossos tem sofrido o mesmo? Sofrem calúnias, críticas soezes daqueles que nada realizam, a não ser o derrotismo. Mais tarde, quando chegar a hora do ajuste de contas, os que perseveram na luta bendita, apesar de todos os sofrimentos morais, ainda se curvarão bondosamente, na Espiritualidade, para levantar do chão os irmãos que tentaram enlameá-los infrutiferamente.  

Que grande significação tem para nós, espíritas, o 3 de Outubro!

 


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