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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Auto-de-fé em Barcelona

           

         Auto-de-fé em Barcelona

                            por Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)

                                            Reformador (FEB) Outubro 1964

             Há cento e três anos (*), o mundo civilizado experimentava profundo golpe, em virtude de mais um grande crime de intolerância, verificado na católica Espanha. O episódio, embora conhecidíssimo, merece nova referência, pelo que encerrou de ensinamentos, numa época em que a liberdade religiosa é mais respeitada, embora, de quando em quando, repontem ocorrências demonstradoras de que a velha intolerância clerical não está de todo morta.

             (*) Do blog:  Hoje... 2021 – 1861 = 160 anos.

             O 9 de outubro de 1861 é uma data inesquecível nos anais do Espiritismo mundial. Retrata, em sua simplicidade, a revivescência da intolerância que se agrandou na Idade Média e aponta a saudade profunda de processos inquisitoriais, aquietada pela fogueira que queimou exemplares de ‘O Livro dos Espíritos”, “O Livro dos Médiuns” e da “Revista Espírita”, além de diversas obras e brochuras espíritas, num total de 300 volumes.

            Podemos imaginar o sentimento sádico com que foi ateado fogo nas obras espíritas. Não será excesso admitir que o odor do papel carbonizado pode ter recordado aos inquisidores o cheiro acre de carne humana queimada em nome de Deus, nas fogueiras que iluminaram principalmente a Europa, advertindo os povos de que a liberdade humana continuava a sua luta pela conquista integral de posições num mundo dito civilizado.

            Este trecho da ata de execução, transcrito em “Obras Póstumas” de Allan Kardec, é uma advertência permanente para que todos os espíritas continuem ativos e vigilantes, orando pela evolução dos espíritos trevosos que os acometem., em nome de Jesus, sem, entretanto, seguir lhe a trajetória fraterna e redentora:

            “Nesse dia, nove de Outubro de mil oitocentos de sessenta e um, às dez horas e meia da manhã, na esplanada da cidade de Barcelona, no local onde são executados os criminosos condenados ao derradeiro suplício e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber: ‘O Livro dos Espíritos’ por Allan Kardec, etc.”

A Sociedade da Livraria Espírita de França ainda conserva, numa urna de cristal, “um pouco da cinza apanhada na fogueira, onde se encontram fragmentos ainda legíveis de folhas queimadas”.

Felizmente, as coisas tem melhorado, embora ainda, vez por outra, no interior, apareçam reminiscências inquisitoriais, através de pressões a espíritas, de coações a casas kardecquianas, etc. Os governos do Brasil têm, de um modo geral, procurado assegurar a todas as religiões a liberdade de culto e propaganda que lhes é garantida pela Constituição.

A História fixou o 9 de outubro de 1861 como data que assinalou a fereza com que o Espiritismo era perseguido. Entretanto, depois desse acontecimento, o Espiritismo cresceu na Espanha, até que a sua expansão foi sustada por influências idênticas àquelas que inspiraram o 9 de outubro. Não obstante, ele continua conquistando corações, porque nada consegue impedir o triunfo da Verdade que, mais dia, menos dia, quebrará os diques que obstam a sua expansão e se afirmará luminosamente nos lugares em que a intolerância está mais fortalecida.

O que todos os espíritas devem fazer, em bloco, é orar para que as barreiras cedam à pressão da Verdade, e esta, que é como o Sol, brilhe para todos, a todos levando o conforto do seu calor, que é vida, que é amor, que é esperança num futuro feliz.

 


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