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segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Ingenuidade dos Espíritas

 

Ingenuidade dos Espíritas

Boanerges da Rocha (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Junho 1964

             Para aqueles que são realmente espíritas, nenhuma preocupação pode causar celeuma que se fizer em torno de fatos que todos sabemos verdadeiros, mas que os “sábios” negam por diferentes razões, muitas vezes “a priori”, sem que tais razões tenham base concreta Negam por negar, pois, para muitos deles, os espíritas não passam de uns simplórios, mais ou menos analfabetos, que acreditam em tudo e não possuem o dom do discernimento e da análise.

            Em certos casos, isso é até motivo para sorrir e devemos sorrir mesmo, porque estão perdendo tempo precioso, em lugar de se dedicarem ao estudo sério de assuntos dignos de atenção.

            Foi publicado, em 1962, que um psiquiatra norte-americano viria ao Brasil estudar a reencarnação. Veio de fato e a imprensa noticiou, meses depois, que algumas personalidades do grande país do norte se interessavam de perto pelos problemas psíquicos e por seu desenvolvimento em nosso País. Em 1963, outros estiveram aqui e alguns chegaram mesmo a visitar o médium Arigó, consultando-se o Espírito Dr. Fritz, por ele recebido. Dispensamo-nos de maiores considerações, pois os jornais divulgaram os resultados obtidos por duas dessas personalidades, uma das quais fora operado pelo Dr. Fritz, depois de haverem os médicos de sua terra se negado a fazê-lo, por se tratar de intervenção cirúrgica numa zona corpórea excessivamente melindrosa.

            Há de haver negadores da realidade, até que a luz da compreensão, filtrada pelo estudo imparcial, faça cair as escamas do preconceito ou da ignorância, que cobrem os olhos dos obstinados.

            Os espíritas não são tão crédulos quanto assoalham seus adversários. Todos desejamos rigor nas experiências e nas observações, e exigimos que elas sejam sempre cercadas de cuidados, a fim de se tornar impossível qualquer mistificação, porque esta existe sempre onde está o homem pouco afeito à conquista simples da verdade perseguida pelo homem honesto.

            Há algum tempo, lemos um telegrama de Niamei, na Nigéria (África), que “uma jovem nigeriana, de 25 anos, ressuscitou 24 horas depois de haver sido enterrada. A moça, chamada Badiza, vivia num povoado da selva, a 150 quilômetros de Niamei. Cega de nascimento, caiu doente e faleceu. Seu corpo foi envolto em tiras de pano, como é costume na região, e imediatamente inumado. No dia seguinte ao da cerimônia, sua irmã foi à sepultura, para ali depositar as roupas que haviam pertencido à defunta, e teve a enorme surpresa de verificar que a terra da tumba havia sido removida, deixando descoberto o corpo de Badiza.  Ao perguntar a si mesma, em voz alta, razão do mistério, ouviu, do fundo da terra, sua irmã responder: “Sou eu, Badiza; estou procurando sair daqui. Assustada, a moça correu ao povoado e avisou a população, que foi ao cemitério, donde retirou Badiza. Para os habitantes locais, trata-se de um caso de ressureição milagrosa, tanto mais que a jovem passou a  contar o que vira no outro mundo, onde os animais falam, os grãos de trigo são tão grandes como cabeças humanas, etc. Para os médicos, porém, tudo não passou de uma crise de letargia, ou catalepsia.” (O Globo, Rio, de 39-5-1962.)   

            Os espíritas recusam a ressurreição do corpo físico. Tal fato constituiria uma derrogação das leis naturais, que são imutáveis. “como imutável é a vontade de Deus, que as formulou desde toda a eternidade. Deus, portanto, nunca as derroga” (‘Os Quatro Evangelhos’, de Roustaing, III, p. 499). Os apóstolos creram na ressurreição de Jesus, porque, afinal, não estavam em condições de admitir outra coisa. “A crença dos apóstolos tinha que servir e serviu de base às controvérsias e às contradições humanas que se suscitaram no correr dos tempos. Essas controvérsias, que atualmente só conduzem ou à fé cega, ou à incredibilidade, prepararam, através dos séculos, os espíritos para receber e suportar a revelação nova. A crença numa ressureição corporal, pela volta do Espírito de Jesus a um corpo material humano, igual aos vossos, tornado cadáver por efeito da morte real, qual a sofreis, essa crença, transitória por natureza, como todas as opiniões e interpretações humanas, produziu seus frutos.

            “Hoje, constitui erro manifesto, em face dos progressos realizados, e se tornou inadmissível, condenada como está pelo princípio da imutabilidade das leis da Natureza, por todos os fatos evangélicos que iluminados com a luz da ciência espírita, servem de base e de fundamento à nova revelação para explicar, segundo o espírito, em espírito e verdade, o que foi a “ressurreição” de Jesus, como se operou aquele corpo, formado, segundo a letra, por obra do Espírito Santo, isto é: excluídas toda e qualquer ação, toda e qualquer obra humana, pela aplicação e apropriação de leis naturais diversas das que presidem á reprodução na Terra” (Ob. Cit. Ibidem, págs. 498/9).

            Consequentemente, o fato ocorrido em Niamei pode ser explicado como letargia ou catalepsia, nunca, porém, como ressurreição, pois fazer retornar a vida um corpo já desprendido do Espírito, isto é, um corpo realmente morto, é impossível, por significar uma derrogação das leis de Deus.

            É preciso não esquecer estas palavras do filósofo Leibnitz, repetidas neste trecho do estupendo livro “Bases Científicas do Espiritismo”, de Epes Sargent, traduzido e editado pela Federação Espírita Brasileira: “Nenhuma fé, diz Leibnitz, pode ser real ou inteligível, se não tiver a sua base na razão humana. A religião divorciada da razão do homem não pode firmar-se e sustentar-se.” A isto, acrescenta Epes Sargent: “A glória do Espiritismo está no seu apelo feito à razão por meio da Ciência, e no fato de nos fornecer elementos de uma religião, velha como o mundo, mas ao mesmo tempo, racional, científica e emocionante. Essa religião, porém, deve pelo próprio indivíduo ser deduzida dos fatos e ser assim considerada realmente dele, e não como um fruto da árvore da vida plantada por outro homem.” (p. 175)

            Não há razão, portanto, para se pensar que todos os espíritas ouvem cantar o galo sem saber onde. Supor sejamos ingênuos e incapazes de pensar, analisar e julgar, constitui prova evidente de que os que assim nos apontam vivem mais no mundo da fantasia do que no mundo da realidade, em que supõem encontrar-se.

 


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