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sábado, 10 de fevereiro de 2018

Profissão de Fé


Profissão de Fé
por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Junho de 1943

Afastadas, por dimanantes (originário) todas da generosidade de um coração bondoso, onde impera o sentimento da fraternidade cristã, as referências pessoais contidas na carta que abaixo inserimos, muito encerra a profissão de fé constante dela, como demonstração da relativa facilidade com que a iluminação interior se produz para o espírito que busca sinceramente a verdade, sem ideias preconcebidas, de pontos de vista isentos de personalismos, cheio de boa vontade e cônscio de que somente a humanidade consegue que o veio da inspiração superior, ou das intuições claras e sãs se abra para fazer que um raio de luz brilhe onde antes tudo era obscuridade.

Tal a razão única por que, agradecendo sensibilizado as palavras do signatário, alusivas à Casa de Ismael, transcrevemos a sua profissão de fé, espontaneamente feita. Pela característica que lhe apontamos, ela, sem dúvida, será de proveito para muitos que procuram a verdade por amor à verdade, certos de que jamais lograrão encontra-la, se se fiarem tão só na força de suas inteligências, por mais pujantes que as suponham.

Ilustre confrade, Dr. Guillon Ribeiro   M. D. Presidente da "Federação Espírita Brasileira".

Paz,

Cumpro o grato dever de vos testemunhar, por este meio, sinceros agradecimentos pela transcrição do meu modesto artigo - "Kardec e Roustaing", em o "Reformador", órgão que espelha fielmente a orientação superior da "Casa de Ismael", de que sois seguro e bem inspirado timoneiro. Agradeço-vos, igualmente, as benévolas referências feitas ao meu humilde nome, assegurando-vos que tão generosa resolução constitui valioso e confortador estímulo para o meu espírito, desejoso de poder juntar o seu microscópico grão de areia à portentosa obra que estão realizando no Brasil os "espíritas concienciosos", consoante o dizer de Allan Kardec.

Em outubro do ano passado, ao ouvir as vossas instrutivas considerações evangélicas, tive a atenção atraída para um detalhe a que, incidentemente aludistes, quanto ao corpo fluídico de Jesus. Interessou-me o assunto a ponto de me animar a vos dirigir desalinhavada carta, a 2 do mesmo mês, subscrita por - Um novo associado da Federação, que aguarda as luzes do vosso esclarecido espírito. Não bati à vossa porta em vão, nem vos pedi infrutiferamente. O modo pelo qual veio a vossa resposta foi já uma réstea de luz que o meu espírito recebeu. Hoje, reputo frívolas as razões daquela carta, mas é preciso recordar que, até então, era completa a minha ignorância a respeito da teoria do corpo fluídico do Divino Mestre, tanto que só de nome conhecia eu "Os Quatro Evangelhos", não sabendo que esta prodigiosa obra continha revelações da mais alta importância. Na Bíblia encontrara determinados trechos obscuros ou absurdos, porque envoltos no negro véu da letra, mas perfeitamente explanados, através da teoria do corpo fluídico, na obra mediúnica divulgada por J. B. Roustaing. Longe estava de supor que "Os Quatro Evangelhos" fossem a mesma Bíblia explicada em espírito e verdade. Seguindo vosso conselho, dediquei-me logo ao estudo desse alentado trabalho, confiante na solidez dos "meus" pontos de vista. Não tardou, entretanto, que a verdade triunfasse, não só desfazendo a relutância que eu demonstrara, inicialmente, em aceitar tão cristalina exposição, como levando-me à certeza de que, efetivamente, Jesus não poderia ter vindo à Terra senão com um corpo fluídico, adaptado às condições de vida deste planeta; nunca, porém, com uma vestidura carnal de natureza idêntica à nossa. Admirei-me muito de que tão simples e racional teoria houvesse encontrado resistência da parte do meu espírito. Muitas vezes reli as páginas que o meu entendimento não assimilara prestemente, mas, ao cabo de persistente estudo, todas as minhas dúvidas acerca do corpo fluídico se dissiparam e experimentei a mesma agradável sensação de quem, fugindo ao ambiente sufocante dum ergástulo, pode, enfim, livremente, respirar o ar puro da aromatizados vergéis.

Conforme tão bem ensinais em "Jesus, nem Deus, nem homem", o meigo Rabbi da Galileia, "sendo um puro Espírito, um Espírito de pureza perfeita e imaculada, o fundador,  o protetor, o governador do planeta terreno, não podia e não estava adstrito, de acordo com as leis imutáveis da natureza, a tomar o corpo material do homem terrestre, corpo de lama, incompatível com a sua natureza espiritual. A encarnação humana é expiação, prova, meio, portanto, de efetivação de progresso moral. A ela, pois, não podia estar sujeito, e não estava, aquele que, antes de constituir-se a Terra, já alcançara, moralmente, a perfeição absoluta. No entanto, cumprindo-lhe, para aparecer entre os homens e desempenhar na Terra a sua missão superior, revestir um corpo, tinha Ele que, de conformidade com as leis imutáveis da natureza, mediante aplicações e apropriações dessa lei, pois que a vontade inalterável de Deus jamais as derroga, tomar um corpo compatível com a sua natureza espiritual e em relativa harmonia com o globo terráqueo, tal que aos homens desse a ilusão de ser um corpo humano".

O misoneísmo (hostilidade para com o novo) é mimético (disfarce). Toma as formas que parecem convenientes para ludibriar-nos o raciocínio, levando-nos a sustentar preconceituosas tradições, engendradas nas sombras do apriorismo impenitente. Assim tem sucedido relativamente a errôneas interpretações dos Evangelhos. Dia virá, no entanto, em que a luz se espalhará por sobre todos os espíritos, apagando as nódoas do obscurantismo traiçoeiro.

Posso dizer-vos agora: graças a Deus! Sim, Dr. Guillon, graças a Deus, porque estou compenetrado da realidade do corpo fluídico de Jesus e é a vós que devo o início da elucidação que, a esse propósito, recebeu o meu espírito. Hoje sei que, pretender-se a possibilidade dum Espirito como Jesus, de pureza absoluta, isto é, que jamais fraquejou, ter mergulhado na podridão dum corpo carnal como o nosso, será ofender-lhe a majestade. Não! Jesus não sofreu o ultraje da encarnação a que estamos sujeitos, nós, espíritos falidos, imperfeitos, impuros. Se muitos se apegam ao argumento de ser a teoria do corpo fluídico derrogatória das leis naturais, é porque - vistas curtas - supõem conhecer todas as leis da Natureza... Graças a Deus, comecei a despertar, ilustrando o meu ignorante espírito com outras obras de idoneidade incontestável, como "Elucidações Evangelicas", "A Personalidade de Jesus", "Jesus - nem Deus, nem homem", "Jesus perante a Cristandade", todas de irrefragável autoridade exegética.

Concluindo, caro irmão, renovo meus agradecimentos à cristã acolhida que recebi. Que o Pai que está nos céus vos devolva em bênçãos os benefícios que me propiciastes.

Está finda esta profissão de fé.

Do mais humilde dos vossos condiscípulos


Indalício H. Mendes 

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