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sábado, 3 de fevereiro de 2018

Casos e Coisas


Casos e Coisas
M. Quintão
Reformador (FEB) Novembro 1942

O caroável Emmanuel já o disse em memorável e recente mensagem, que o V da vitória também se poderia estimar por V da vigilância.

A advertência, em hora de tão graves preocupações para a humanidade planetária, tem alto significado, maxime, para os que assomam a ribalta, como expoentes do Espiritismo.

Porque a verdade é que a maioria dos confrades se deixa embalar em miragens de superfície, com desperdício de energias apreciáveis e mais que apreciáveis, aproveitáveis, se orientadas em plano construtivo, superior. 

Em afã de propaganda, releva assinalar que poucos se atém ao regime austero dos princípios insofismáveis, decorrentes de uma ética genuinamente cristã, para desbordarem-se em atitudes de verdadeiros energúmenos, foliculários da palavra e
da pena. Haverá quem presuma que reponta nessa anomalia uma premissa de alto galardão, pretendendo identificá-la no estatuto fundamental da liberdade de consciência e de opinião.

Nós, porém, em que pese o alto apreço ao instituto, ou talvez por isso mesmo, insistimos em filiar essa anomalia à inciência de causa e finalidade doutrinária.

Com desconhecimento de causa, sem disciplina mental e não raro moral, no tatear o mundo espiritual a surpreender-lhe as maravilhas, o homem larvar se esquece da relatividade absoluta de todas as coisas, descura de si mesmo e de que não há liberdade sem responsabilidade equivalente.

Esquece que a Doutrina, em ser una e única, não pode padronar-se a uma exegética singular, exclusivista, convencional e rígida, dogmática em suma, sob pena de incorrer nos mesmos vícios que tem inquinado de atrofia e nulidade a todos os sistemas religiosos, em desgaste de espúrio mundanismo.

E note-se que a prevalência do conceito não se adstringe, em boa tese, ao plano terreal, sabido que o espiritual é reflexo deste, tanto quanto se interpenetram e compactuam ambos.

Ninguém, portanto, será assistido e esclarecido extra limites do seu próprio esforço e capacidade intelectual e moral.

Quando, pois, um encarnado ou um desencarnado nos vem explanar um ponto de fé controvertido, ainda mais abjurando convicções solidamente estruturadas e mantidas aqui na Terra, não há que o dispensar de uma retratação a altura da tese repudiada.

Eximir-se a este critério é, não apenas fraudar o bom senso comum, mas abrir a porta às maiores surpresas, inclusive a de vermos um qualquer "Kardec", por um médium também qualquer, vir renegar as ideias e princípios que esposou e defendeu na Terra, sem tirte nem guarte, ou talvez para satisfazer a caprichos de um misoneismo sectário, incompatível com a índole da própria doutrina.

Estas considerações nos embicam a pena, ao recebermos agora, a título anônimo, um prospecto colorido, - desses que lembram reclame de circo equestre em arraial da roça - no qual, de mistura a citas evangélicas mal deglutidas, se estampa uma comunicação velha de quatro lustros, tomada no grupo Vinha do Senhor, desta cidade, e inculcada como de J. B. Roustaing - nihil admirari! - penitenciando-se de haver aceitado a teoria do corpo fluídico.

Interessante o ardor, a pertinácia com que os nossos irmãos combatem essa teoria, ao mesmo passo que averbam de intolerantes os que a esposam de boa fé. Não lhes queiramos mal por isso. A lágica espiritista também tem o seu nariz de cera, talhado pelos homens. Coisa que não surpreende, igualmente, se considerarmos que eles, os homens, também chegaram a imaginar um Deus à sua imagem e semelhança.  Três coisas, entretanto, queremos aqui ressalvar, data vênia dos conspícuos irmãos,
catequistas inconsequentes não da última nem da primeira hora, porque de todas as horas, a saber:

1º. - que eles ignoram, certo; o fim que teve esse Grupo, isto é que o médium, seu oráculo e diretor, sucumbiu presa de lamentável obsessão ao mesmo passo que os companheiros acabaram dos sem exceção, dispersos em circunstâncias deploráveis.

2º. - que o anonimato é recurso indigno do verdadeiro espírita, salvo na prática do bem.

3º. - que essa obra, editada em 1913, jamais teve acolhida nos meios espíritas qualificados ao tempo e ninguém soube, jamais, quem foi o seu prolíco  e sibilino autor -Pedro de Lacio.


Mas... basta. 

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