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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Carnaval - Falsa Alegria


Falsas alegrias

           
             Encarados sob o prisma do Espiritualismo, são os mais ilusórios os conceitos do homem sobre as coisas boas e más, apetecíveis e indesejáveis, tristes e alegres. Sob a luz do Espiritismo, então, esses conceitos se tornam mais que ilusórios, pois que se mostram em toda a nudez de sua falsidade.

            Para o homem indiferente às coisas espirituais, em cujo cérebro não passa nem de leve o significado da expressão “vencer o mundo”, já que não tem outro interesse senão o de conquistar o mundo, cogitar de uma vida além da morte, ter que pensar em disciplinar a conduta segundo os ditames do Evangelho, ou conformar-se ante as aparentes injustiças que o circundam, é um verdadeiro “atraso de vida” ... Não é por outra razão que o consenso predominante é o de “gozar a vida”, extraindo dela o melhor quinhão de delícias e regalias, e isso o mais intensamente possível, mesmo porque, diz a “vox populi”, a vida é curta ...

            Isso explica o frenesi em que se vive neste mundo sublunar, frenesi que se mostra sobre exaltado nestes últimos tempos, em que a busca do prazer leva as criaturas, sob os mais estapafúrdios pretextos, a inventar maneiras inimagináveis de preencher as chamadas “horas de lazer” e a arquitetar tipos de diversão onde se dá vazão ao que o homem tem de mais baixo e instintivo, já que as diversões que realmente merecem esse nome perderam todo o sabor, passaram à categoria de “coisas quadradas”. A correria vai num ritmo tal que dá para desconfiar de que os homens se estão apercebendo, inconsciente ou subconscientemente, de que o mundo marcha para o seu fim...

            De outro ângulo, a questão se mostra até paradoxal. Como resultado das grandes concentrações urbanas, estão desaparecendo aqueles divertimentos simples que realmente se destinavam a refazer o corpo e a alma das criaturas, e os poucos que subsistem exigem tais canseiras para serem desfrutados que já estão perdendo, realmente, suas características de diversão. Os novos meios de distração colocados ao dispor das grandes massas, os quais, em vez de exigirem o desconforto de sair de casa, entram pela casa adentro, como o rádio e a televisão, servem antes para trazer o desassossego e a apreensão aos espíritos, tais a quantidade e a qualidade das notícias e das imagens que veiculam, por disseminarem de preferência os lados nefastos e deseducativos do que acontece e se faz pelo mundo.

            As grandes festanças de caráter popular, muitas vezes transformadas em objeto de folclore, se é que algum dia foram diversões, acabam, ou por sua origem, ou por efeito de distorção, constituindo-se, realmente, em mais um incentivo ao que os homens possuem de mais grosseiro e primitivo. Num mundo em que a licenciosidade já era uma chaga a erradicar, e que agora chega a se tresvariar com os excessos da permissividade, parece improvável que se consiga implantar um clima favorável às alegrias sadias e espiritualizantes, já que a franca preferência, com bastantes argumentos a favor, é pela satisfação dos impulsos e apetites onde a carne grita, domina e enxovalha.

            Não resta dúvida de que, com essa mentalidade, o homem, por muito tempo ainda, continuará a julgar que o Evangelho, a ser observado, venha a constituir-se num “atraso de vida”; continuará a trocar, por considerá-Ias funéreas e amargas, as alegrias puras e imarcescíveis do espírito pelo aturdimento enganoso das falsas e torpes alegrias do mundo; e a muito custo é que se certificará de que, sem o Evangelho, continuará mergulhado no verdadeiro “atraso de vida” ... 

Editorial "Reformador" (FEB) Fevereiro 1975

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