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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

01 / 04 Anchieta


01/04
 José de Anchieta
1553 – 13 de Julho – 1953

por Almerindo Martins de Castro


inReformador’ (FEB) Agosto 1953


            Quando a Humanidade espiritualizada do futuro estudar os grandes vultos do passado esses heróis que as ondas revoltas das tempestades do mundo atiram às praias do esquecimento, há de maravilhar-se ante as figuras imortais que trouxeram aos seus contemporâneos, as provas do quanto pode o Espírito ao serviço das eternas leis da vida universal.

            Em todos os períodos da História do mundo, em todos os povos das suas regiões, têm descido, das insondáveis oficinas do Infinito, desses operários da Luz, aprendizes I da sabedoria divina, para instrução  dos analfabetos dessas letras da  Verdade, que só nas aulas da Virtude as almas aprendem a unir em sílabas e em palavras.

            Nas areias dessas praias de silêncio, têm os espíritas  deixado, durante um século, permanecer sepulto, olvidado, desconhecido, um grande, extraordinário médium que se chamou -  JOSÉ DE ANCHIETA, portador de todos os dons mediúnicos, o qual deu, na Terra e no Espaço, provas de profundas raízes espirituais, confirmando, nas suas realizações, aquela afirmativa do Cristo segundo o 'Evangelho de João, cap. XIV, vers. 12-14:

            “Em verdade vos digo que aquele que aquele que crê em mim, esse fará também as obras que eu faço,  e fará ainda maiores, porque eu vou para o Pai; e tudo que pedirdes em meu nome, isso farei,  a fim de o Pai seja glorificado no Filho; se me pedirdes qualquer coisa em meu nome, eu a farei.”

            Não podendo permanecer sempre ao alcance da Terra, o Cristo credenciou os seus mensageiros futuros, dando-lhes por sinal inconfundível o fazerem, eles, os mesmos prodígios que o Mestre realizara. E José de Anchieta  confirmou o mandato, através dos chamados milagres que teceram a auréola da sua trajetória  na vida terrena e espiritual.

            Nasceu na velha capital das Ilhas Canárias, possessão Espanhola, a 19 de Março de 1534.  E, apesar de possuir o Reino de Castela  afamadas universidades , inclusive a de Salamanca, já duas vezes secular a esse tempo, mandaram-no para Portugal, onde na de Coimbra, fez o seu  curso. Com os prodígios da mediunidade, assimilou grandes cabedais, e aos, 17 de idade se fazia noviço da Companhia de Jesus, a então potente e notável Ordem dos Jesuítas.

            Chegando ao Brasil, a 13 de Julho de 1553, pouco depois de adolescente, aonde viera para que o clima tropical ajudasse a corrigir a franzina compleição, e aqui permanecendo durante mais de quatro decênios,  trabalhar incessantemente, dia e noite, por assim, dizer, desde início sua cultura assombra, o seu saber serve para dar lições a o s próprios componentes da Ordem, seus maiores, em autoridade, sem que se encontre a fonte total de tantos conhecimentos, difíceis de acumular no relativamente curto espaço do curso universitário - daquela época. -  e dada ai escassez quase absoluta de livros onde pudesse aumentar e desenvolver a base do que estudara.

            Mas, esses notabilíssimos dons de intelecto deviam revelar-se, ainda e principalmente, na facilidade com que aprendeu a língua tupi dos índios (que o padre Antônio Vieira disse ser impossível de aprender) da  qual fez uma gramática, e compôs hinos, diálogos, catecismo e até pequenos entreatos, que fazia representar, para diversão e ensinamento, difundindo preceitos morais aos silvícolas, a quem se dedicou de todo o coração, trabalhando para eles, na instrução religiosa das almas e nas aulas, de música inclusive, para o que o muitas  vezes amanheceu escrevendo os cadernos que substituíam a falta. de livros  para o aprendizado.

            E, paralelamente a tudo isso, cumpria com os deveres que lhe cabiam na Comunidade, e dava assistência espiritual a quantos dela necessitavam, andando léguas para confortar os últimos instantes de um moribundo - no intuito de iniciá-Io nas verdades da vida eterna.

            E a sua força mediúnica se exercia a qualquer momento. Exauria o corpo sem minguar as forças da alma, plena sempre de inesgotáveis energias, hauridas das fontes do Infinito.

            Moço, na lídima quadra da juventude, no áureo período em que as seduções do mundo açulam os instintos adormecidos na criatura humana, José de Anchieta se consorcia com a missão da catequese, se irmana com o sacrifício, faz doação de todas as suas horas de repouso ao labor, crucifica no calvário  da abnegação todo futuro de prazeres e de glórias da Terra.

            Deslumbrando, com as maravilhas da, sua mediunidade, vivendo num ambiente de primitivos costumes nudistas, onde, as lindas mulheres valiam por tentações ambulantes, José de Anchieta pousava as mãos puras naqueles corpos para lhes aliviar, os sofrimentos, com a mesma excelsa majestade com que o Cristo curava os enfermos que lhe imploravam misericórdia e socorro.

            A pobreza e humildade nele tinham proporções absolutas, porque eram bem mais sublimes do que as  dos ascetas do deserto: estes viviam na ausência de tudo; a Anchieta todas possibilidades agradáveis lhe ,eram oferecidas. Mas, dizia ele, "o uso das coisas de um religioso há de ser de modo de uma estátua insensível que nem apetece o com que a cobrem, nem resiste quando é despojada".

            A casinha onde começou seu apostolado, em Piratininga, era de torrão, teto de palha; a cama, uma tábua ou rede de índio, sem lençol, coberta ou travesseiro; a mesa, o chão; as toalhas e guardanapos, folhas de bananeira; o calçado, alpercatas feitas de cardos silvestres; a comida, paupérrima, ganha de esmola ou com o labor em comum das próprias mãos.

            E aumentando mais ainda a antítese com a formosura  de sua alma e com a gigantesca potência da sua mediunidade  ímpar, era quase um aleijão: franzino, de estatura meã, vítima de escoliose (curvatura da espinha  dorsal, consequência – segundo alguns autores – de lhe ver caído uma escada sobre as costas), caminhava meio corcunda e pendido para um lado, dando-lhe aspecto de insanável insignificância, de apoucamento quase risível. Dir-se-ia que seu espírito elegera um assim disforme físico, para evitar que atrativo plástico, aliado ao fulgor da palavra, eloquente e aos feitos da mediunidade, servir-se para despertar sentimentos mundanos. E a deformidade não lhe impedia de, verdadeiro andarilho, percorrer, claudicando com o corpo todo, vertiginosamente, léguas c léguas, sem a menor fadiga.

            Anos e anos se sucederam, e o notável missionário, por onde passava, sempre encontrava ocasião para  pregar, aconselhar, moralizar e exemplificar.

            Em 1582, chegou ao Rio de Janeiro a armada do general Diogo Flores Valdez, de 16 veleiros, com a qual Filipe II mandava assegurar o Estreito de Magalhães. Informado de que Anchieta realizava prodígios, inclusive o que conseguira, orando, para salvamento de quatro dos navios recém-vindos, e que haviam corrido  grave perigo, o general fez  familiaridade com ele, visitando-o assiduamente e aprendendo valiosos  conhecimentos, tornando-se mesmo obediente aos conselhos de Anchieta, sempre certos, superiormente inspirados."

            São do general estas expressões, ditadas pelo desfavorável físico do grande médium: “A primeira vez  que o vi, nunca coisa mais desprezível se me apresentou; mas, ouvindo-o e tornando a  olhar para ele, nunca. em presença de alguma Majestade me sento mais apoucado e reverente”.




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