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quarta-feira, 4 de março de 2020

Oração e Vigilância



Oração e vigilância
Ypoméa de Oliveira
Reformador (FEB) Janeiro 1943

            Através das inspiradas obras de Allan Kardec e outros ilustrados pensadores, sabemos que a vida não extingue com a desorganização do corpo terreno, quando este, baixando ao tumulo, vai obedecer à lei inelutável das transformações. Provada, por conseguinte, nossa existência imaterial, na multiplicidade indefinível das vidas sucessivas, cumpre não descurarmos do futuro - além-tumulo. Para que a vida nos transcorra feliz e calma nas estâncias espirituais, necessário se torna atendermos aos imperativos cristãos, que nos dizem: "Nem só de pão vive o homem: porém, muito mais, de cumprir a vontade do Pai que está nos céus". E a vontade de Deus é a vontade do Bem. O homem bom - eis o verdadeiro cristão! - É um Evangelho vivo a irradiar luz em todos os espíritos. Vários são os caracteres com que o podemos distinguir em qualquer parte onde esteja. Dentre esses caracteres, destacamos o seguinte: o homem bom não é ambicioso, por ser a ambição, no sentido em que vulgarmente se aplica o vocábulo, o maior obstáculo às conquistas de ordem moral e, pois, ao progresso do Espírito. Mal tão pernicioso que, por ele subjugado, criamos uma atmosfera de antipatias e atribulações, de invejas e despeitos, ódios absorventes, paixões corrosivas!

            Procedemos erroneamente quando procuramos, apenas, satisfazer, em prejuízo da coletividade irmã, aos nossos caprichos pessoais. O apego absoluto às coisas perecíveis da Terra aniquila as qualidades eletivas da alma. Por isso, a vida do Divino Mestre, para demonstrar que mais vale o trato do espírito, foi de martírios, de renúncias aos bens efêmeros e combate à ambição. Pelos seus exemplos, pois, devemos regular nossa vida, moderando nossas aspirações, desprendendo-nos de todos os sentimentos de egoísmo e orgulho, certos de que a verdadeira felicidade está menos nos palácios dos reis do que nas choupanas dos pobres... Se cuidarmos exclusivamente de nossos interesses materiais, fugimos à norma cristã: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará".

            Meditando este ensinamento, verifica-se que o desapego dos bens terrenos constitui a pedra angular da verdadeira felicidade, que é a felicidade espiritual. Assim, estejamos sempre vigilantes para não sermos vitimas de uma sociedade onde fermentem paixões brutais, incoerências, má vontade em servir ao próximo, e em que a pedra de toque seja a - ambição!

            A filosofia espirita nos veio proporcionar os melhores meios para a completa reabilitação das energias psíquicas, fazendo-nos entrever que a alma - essência imortal - só poderá criar para si uma vida ditosa e perfeita, vencendo a matéria, pela educação, exercício da vontade e renúncia a todos os atos contrários à boa disciplina mental. Eis ai a higiene espírita.

            Se a ambição, com os seus tentáculos de polvo, quer enredar-nos o espirito, lutemos, declarando-lhe guerra aberta e franca. Quem se abroquela naquele ensino de Jesus - amar ao próximo como a si mesmo - pondo-o em prática em espírito e verdade, certo que possui a couraça dos gladiadores jamais vencidos nos entrechoques das arenas...

            Oh! humildade, como exaltas! Oh! Orgulho, como deprimes! Cegos, porque vos precipitais nos torvelinhos dos erros, em que a alma, colhida nas negras malhas das iniquidades, se torna filha indigna da luz espiritual?

            A humanidade muito tem padecido. E continuará ainda a sofrer males de toda a espécie - morais e materiais - porque, infelizmente, a maioria dos elementos que a compõem mais se prende à vida transitória, em prejuízo da verdadeira vida eterna e feliz!

            A ambição há sido causa de grandes dores, a produtora nefasta de todos os flagelos. Os homicídios, furtos, atentados monstruosos; as guerras que se intensificam e em que sucumbem jovens cheios de esperança e ficam em abandono, à mercê das mais cruéis vicissitudes, infelizes crianças órfãs; os lamentos que pelo infinito sobem, partidos dos corações maternos; enfim, toda miséria e miopia moral que se verificam neste mundo nada mais são que consequências desastrosas provocadas por esse monstro insaciável - a ambição!

            Evitemo-Ia, portanto; pois, o apego aos bens terrenos é um forte entrave ao progresso do espírito. O amontoar riquezas materiais abafa o amor ao próximo, endurecendo o coração com o concreto da avareza! Não esqueçamos, um dia que seja, as palavras do Mestre Amado, com as quais encerramos a presente página: "Não amontoeis tesouros na Terra, onde a ferrugem e os vermes roem e onde os ladrões os desenterram e -roubam; mas, acumulai-os no céu, onde nem a ferrugem, nem os vermes os roem; porque onde estiver o vosso tesouro também está o vosso coração".



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