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sábado, 23 de março de 2019

Maravilhas do Evangelho



Maravilhas do Evangelho
por Sílvio Brito Soares
Reformador (FEB) Junho 1962

            Em suas peregrinações pela Galileia, era hábito de Jesus pregar nas sinagogas e curar, com a força magnética de seus fluidos, muitos dos chamados endemoninhados, isto é, criaturas sujeitas à vontade de Espíritos maléficos.

            Certo dia, um jovem, então empolgado com a pregação do Mestre e com os prodígios que operava, não mais pode sopitar os anseios de sua alma e, por isso, dirigiu-se a Jesus, dizendo-lhe resumidamente: - Seguir-te-ei, Senhor!

            A verdade, porém, é que os homens, mesmo nos momentos de arrebatamento, têm sempre na vida um "mas", uma restrição, e isto porque ainda se conservam escravizados às coisas do mundo!

            Esse mancebo, após prometer ao Divino Mestre que o acompanharia em sua jornada de amor e luz, acrescentou, apressado, um "mas", isto é, que Jesus lhe permitisse ir antes despedir-se dos que se encontravam em casa:  A resposta de Jesus há de causar surpresa aos espíritos pouco afeitos às sutilezas das palavras, que bem representam um símile perfeito das criaturas. Quem vê um homem finamente vestido, de maneiras delicadas, não acredita que seu coração seja uma usina de ódios, intemperanças e imoralidades. E quantas vezes nos enganamos nós, presumindo que este ou aquele maltrapilho é um vagabundo, um malfeitor vulgar, quando, em verdade, em sua alma rebrilha a luz encantadora do amor e da honestidade!

            Muita gente tem lido e relido as palavras constitutivas da resposta de Jesus, sem atinar com o seu conteúdo espiritual, com a beleza de seus ensinamentos.

            Mas qual foi a resposta do Messias a que estamos aludindo? Apenas esta: - Quem empunha o arado e torna a olhar para trás, não é apto para o reino de Deus.

            É bem certo que escritores mal avisados, levianos em suas apreciações apressadas, têm feito reparos a essa resposta, porque, dizem eles, Jesus, assim falando, está implicitamente pregando a secura de coração, despedaçando os ternos laços da família.

            Ora, não é crível, absolutamente, que o Divino Enviado tivesse o propósito de aconselhar tamanho absurdo. O espírito dessas suas palavras é outro bem diverso. Faz-nos sentir ser necessário não olhar para trás quando nos encontremos na estrada do bem, evitando, destarte, que algo nos possa despertar desejos menos dignos, retendo-nos em suas malhas traiçoeiras.

            Quem põe a mão no arado para remover as suas inferioridades, não pode dele retirá-la, sob pena de perder o esforço até então despendido. Amparado, disse culto irmão da Espiritualidade, promete serviço, disciplina, aflição e cansaço, “no entanto, não se deve esquecer que, depois dele, cheguem as semeaduras e colheitas, pão no prato e celeiros guarnecidos.”

            Portanto, meu irmão ou minha irmã, se te não só atende de pronto, como ainda o elogia, dizendo: “Em verdade vos afirmo que não encontrei tão grande fé, nem mesmo em Israel.”

            Em colóquio com uma samaritana de má vida, junto ao poço de Jacó, revela, pela vez primeira, ser o Messias prometido.

            Aos apóstolos, ainda demasiadamente intolerantes, que lhe fazem esta queixa: “Mestre, encontramos um homem que expulsava demônios em teu nome, mas não é do número dos nossos; e nós lho proibimos”, responde: “Não lho proibais; quem expulsa demônios em meu nome não é meu inimigo”, provando, uma vez mais, que o seu espírito universalista aceita, de bom grado, as manifestações de fé e de bondade, venham elas de onde vierem!

            Nem foi outra a razão por que Pedro, sob a inspiração do Alto, houve por bem proclamar: “Tenho na verdade alcançado que DEUS NÃO FAZ DISTINÇÃO DE PESSOAS; EM TODA NAÇÃO, AQUELE QUE O TEME E OBRA O QUE É JUSTO, ESSE LHE É ACEITO.” Vem de longe, em dano para a cristandade, a funestíssima ideia de que o reino de Deus seja uma espécie de sociedade eclesiástica, organizada segundo os padrões hierárquicos do império romano, e que, para ingressar nesse reino, o que se tem a fazer é ser batizado, mesmo inconsciente, aceitar meia dúzia de dogmas teológicos e participar, vez por outra, de determinadas cerimônias e rituais. Quem satisfaça essas formalidades burocráticas, pode considerar-se perfeitamente quite com seus deveres religiosos, e, quando lhe chegue a morte, terá a alegria de ver o Senhor vir pegá-lo pela mão, para introduzi-lo, com as honras de estilo, na mansão celestial.

            Não é isso, todavia, o que o Cristo nos ensina em seu Evangelho.

            Declara ele, claramente, que o reino de Deus não tem aparência exterior, não é um lugar no espaço que alguém possa apontar e dizer: ei-lo aqui ou ei-lo acolá. E acrescenta: “O reino de Deus está dentro de vós”, deixando bem claro que é um estado íntimo, de justiça (retidão de caráter), paz e alegria espiritual, como o interpretou o Apóstolo dos gentios.

            Esse estado de felicidade se acha latente em todos os homens e se vai desenvolvendo, crescendo, integrando-se, à medida que aprendam a cumprir a vontade de Deus, aplicando suas melhores forças morais, intelectuais e afetivas na produção do Bem, na prática do Amor Universal.

            Ora, sendo as almas humanas “imagem e semelhança” do Criador, ao influxo da lei do progresso e por via do processo reencarnatório, todas hão de alcançar um dia a perfeição, e esse ascenso universal, que é absolutamente certo, significa, em última análise, a derrota final de Satanás (egoísmo personalista) diante do Supremo Bem, que é DEUS!

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