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sexta-feira, 2 de março de 2018

A Salvação



A Salvação  
Editorial
Reformador (FEB) Junho 1948

As Igrejas chamadas cristãs, crentes na encarnação única, segundo a qual a alma seria criada ao mesmo tempo que o corpo e teria a sua sorte fixada depois da morte para todo o sempre, fosse a vida de algumas horas ou de um século, ensinam o bem viver como processo de salvar cada um sua própria alma e nada mais, porque o tempo realmente seria demasiado curto para tarefa maior. A essa salvação milagrosamente repentina, pois que o homem disporia apenas de uma curta vida para realizar toda a sua formação espiritual, o Espiritismo opõe outra infinitamente mais longa, mais real e menos egoísta. Ensina que a formação espiritual completa exige milênios de trabalho e que o homem não pode salvar somente a sua alma, porque sente a solidariedade de toda a família humana e percebe que ele é apenas parte de um todo que tem de ser salvo com ele, por mais longo que seja o tempo necessário. Percebe a solidariedade universal e, dando-lhe o nome de caridade ou de amor ou mesmo de solidariedade, trabalha igualmente para salvar o mundo, melhorando-lhe as condições de habitabilidade e instruindo e educando a si mesmo e aos seus companheiros terrícolas.

Os membros das Igrejas, depois de desencarnados e quando são Espíritos adiantados, não perdem ensejo de voltar à Terra e ensinar a nova doutrina em oposição à velha, Vamos transcrever aqui algumas frases do Cardeal Marlot, publicadas por Allan Kardec no "Evangelho segundo o Espiritismo" pág. 94 da 31ª edição brasileira:

“Todavia, não deduzais das minhas palavras que a Terra esteja destinada para sempre a ser uma penitenciaria: Não, certamente! Dos progressos já realizados, podeis facilmente deduzir os progressos futuros e, dos melhoramentos sociais conseguidos, novos e mais fecundos melhoramentos. Essa a tarefa imensa cuja execução cabe à nova doutrina que os Espíritos vos revelaram ...

“Todos os vossos corações aspirem a esse grandioso objetivo de preparar, para as gerações porvindouras um mundo onde já não seja vã a palavra- felicidade."

A tarefa imensa do Espiritismo não é somente de salvar almas e mandá-las para o céu, como pretendem fazer as Igrejas. Não é somente uma forma de culto, adoração ou religião, porque toca também as coisas materiais em todos os seus aspectos, trata da vida social. Não cogita de nos livrar do mundo e nos abrir as portas de estados mais felizes na espiritualidade, mas nos dá a tarefa lenta, milenária, de elevar também o mundo na escala planetária.

Já não se trata de fugir para o reino do céu, mas em construir o reino do céu entre nós sobre a Terra.

Melhor do que as Igrejas cristãs, os judeus sabiam que o Reino de Deus tem que vir à Terra, embora o imaginassem vindo milagrosamente, o que Jesus corrigiu, como vemos desta passagem de Lucas, 17 :20:

Tendo os fariseus perguntado a Jesus quando viria o Reino de Deus, ele respondeu: O reino de Deus não vem visivelmente, nem dirão: Ei-lo aqui! ou: Ei-lo acolá! porque o reino de Deus está no meio de vós.”

Nota-se da pergunta que os fariseus do tempo de Jesus não localizavam o reino de Deus num mundo fora do nosso e que ele confirmou a convicção existente de que o reino de Deus não é num mundo à parte. Todas essas ideias, porém, eram vagas e só ficaram perfeitamente claras com o ensino dos Espíritos.

Com as novas luzes trazidas à Terra pelos Espíritos, a obra de salvação compreende todas as atividades humanas, espirituais, sentimentais, científicas, técnicas, industriais, tudo quanto promova progresso e melhore as condições de habitabilidade do planeta. Fica abolida a ideia de que o mundo é um dos inimigos da alma, e todos os serviços prestados ao mundo passam a ser de origem tão divina como o culto, a adoração. Ficamos sabendo que os Missionários que promovem o progresso em todas as suas modalidades, são outros tantos profetas de Deus, Assim passamos a listar Edison, Marconi, Santos Dumont, Zamenhof, Bellamy, Pasteur, com Isaias, Paulo de Tarso, AlIan Kardec. O mundo os distribui, conforme suas missões, em gênios, descobridores, heróis, santos, benfeitores da Humanidade, mas na verdade todos são Missionários e não podemos julgar com acerto a significação de cada missão, pois que muitas delas só em remoto futuro poderão ser integralmente compreendidas. Quem hoje poderá imaginar todas as consequências futuras do Esperanto nas organizações sociais do ano 3.000? Se uma descoberta muito menor a Imprensa, em alguns séculos transformou o mundo, é provável que a obra de Zamenhof, a serviço da Nova Revelação, transforme toda a mentalidade humana em poucos séculos.

Na doutrina espírita não existe a mesma concepção teológica de salvação, como a ensinam as Igrejas cristãs, porém outra muito mais divina, por isso que universal: portanto, os espíritas são ativos, operosos, serviçais, mas não místicos e contemplativos. Não temem a promiscuidade social nem a evitam; não receiam contaminar-se ao contato com o mundo, nem contaminar o mundo com o seu contato. Essa ideia de contaminar-se ao contato com lugares ímpios fica expressivamente exemplificada por João (18:28 a 31):

"Conduziram a Jesus da casa de Caifás para o Pretório. Era de manhã cedo. Eles não entraram no Pretória para não se “contaminarem”, mas para poderem comer a Páscoa. Pilatos saiu para ir ter com eles e perguntou-lhes: Que acusação trazeis contra esse homem? Responderam-lhe: Se ele não fosse malfeitor não to entregaríamos. Replicou-lhes Pilatos: Tomai-o vós mesmos e julgai-o segundo a vossa Lei. Disseram-lhe os judeus: A nós não nos é permitido tirar a vida a ninguém."

Entrar no palácio de um gentio seria contaminação, mas exigir que esse gentio matasse um filho do povo eleito, contra os dispositivos da Lei de Moisés, isso lhes parecia a coisa mais inocente do mundo. O mesmo fanatismo religioso teve a Igreja Católica Romana que nos processos da Inquisição nunca executou um só dos condenados, mas os entregou sempre ao poder civil para executá-los segundo seu ritual, isto é, para serem queimados vivos.  

Tais perversões nunca se poderão dar com o Espiritismo, porque ele nos ensina a lei das afinidades espirituais, e demonstra que somente os Espíritos afins podem influenciar-se reciprocamente, logo, que o mau não tem ascendente nem influência sobre os bons nem pode contaminá-los. Assim, os espíritas nunca virão a formar uma casta religiosa fora da Humanidade, mas terão de cumprir suas missões em todos
os meios humanos.

Nossa concepção de salvação é universalista e não exclusivista.

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