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quarta-feira, 17 de julho de 2019

Inspirações - 2



Inspirações – 2
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) Abril 1923

IDEIAS SOBRE A ORGANIZAÇÃO DO ESPIRITISMO

Perguntas-me. “Se, como asseveraste, o Espiritismo se acha ainda no período de formação, será lógico pensar-se, atualmente, em formas definitivas de organização? Começo respondendo à tua pergunta com uma negação formal. Não é lógico, não é conveniente pensar-se por enquanto em dar formas definitivas à organização espirita.

Sabem, os adeptos mais ilustrados e os de maior experiência, por sua longa atuação como militantes, os alcances, as projeções, a missão que na totalidade de seus aspectos reserva o futuro ao Espiritismo, no mundo?

Já sei que o Espiritismo pode considerar-se como o consideram muitos adeptos e o têm dito não poucos Espíritos, em suas comunicações - a panaceia universal, por excelência, para resolver todos os problemas, qualquer que seja a índole, e para responder lógica, acertada e convenientemente a todas as questões, estudos e circunstâncias que possam oferecer-se, de exata conformidade com as leis da Natureza, tanto físicos como morais, e com as vistas divinas, concordantes com o interesse individual e coletivo.

Porém, para se firmarem as aquisições que o Espiritismo promete, em instituições e organismos adequados, harmônicos, em perfeita concordância com a doutrina e necessidades da evolução, necessário se torna estabelecer-se, antes, uma perfeita coesão entre os adeptos, pela unificação de critérios, respeito aos princípios doutrinais, métodos de trabalho e de experimentação, e uniformidade nas aspirações, com uma moral prática, a toda prova, nos fieis, que garanta a permanência da coesão invocada e demais circunstâncias subsequentes, sem o que existirão sempre discordância e não poderá pensar-se em coisa alguma que revista caráter de estabilidade, intentá-lo será sempre um grande erro, que nenhuma consequência boa poderá trazer.

Como disse, e repito agora, o Espiritismo está ainda em seu período de formação, e em tal período somente se pode pensar na criação e manutenção de organismos de caráter transitório e os princípios e formas de expressão dos que se adotem, só é logico seu estabelecimento a título de transitoriedade, como precursores de algo mais aperfeiçoado, devendo deixar, por conseguinte, nas definições, nos métodos, na legislação, nas cristalizações do pensamento, na obra, as correspondentes franquias que, em todo tempo, permitam maior desenvolvimento e aperfeiçoamento em correlação com os novos progressos, maiores experiências e aspectos superiores da verdade que se vai manifestando. 

Atualmente, só se pode pretender em matéria de organização do Espiritismo, a realização de simples preliminares, e ainda estes infinitamente fraccionados. Não se pode estabelecer um padrão único de organização, porque ainda não se tem dado a fórmula para que se possa conseguir isso, e ainda que se tivesse dado, seria inútil, nestes momentos, pela impossibilidade de adaptar-se a ela, não digo todos, porém uma ínfima minoria sequer dos elementos militantes do presente. Não chegou ainda o tempo de tornar-se prática tal aspiração. Chegará, indefectivelmente, esse tempo; porque “da Lei não passará nem um ponto, nem um til, sem que tudo seja cumprido.”

Entretanto, cumpre apenas organizar as hostes da melhor maneira que se compreenda e possa, em pequenos núcleos; autônomos primeiramente, os quais possam livremente e por vontade própria, unir-se federativamente para os fins e cumprimento dos deveres que impõe a doutrina, constituindo federações ou uniões locais, tácitas ou expressas, que venham a ser os elementos constitutivos de outros organismos, ora distritais, ora nacionais, e ainda internacionais; porém sem pretender estabelecer uma forma definitiva de organização.

Pode-se, por conseguinte, permitir, respeitar e patrocinar todos os organismos que se formem sob o amparo do ideal, seja qual for seu caráter ou modalidade, desde que não se prostitua a doutrina com extravagâncias e explorações que ela e sua moral condenam.

Cabem, atualmente, os ensaios e exercícios na ordem da organização e aproveitar as experiências próprias e alheias para ir modificando e aperfeiçoando aqueles a medida do crescimento destas.

Deste modo se irão aperfeiçoando os organismos, pequenos e grandes, tanto os simples núcleos de estudo e aplicação doutrinal, como os federativos, podendo servir de modelo os mais perfeitos, e nesta marcha ascendente, de menores a maiores aperfeiçoamentos, se chegará a um estado tal de perfeição, que permitirá pensar na unificação doutrinal, e de métodos e procedimentos que deem ao Espiritismo maior estabilidade em sua organização e funções e oferecer-se como norma e elemento de primeira ordem para a organização social do futuro, passando a ser o regulador dos destinos humanos.

Esse desideratum está muito distante ainda e não há que pensar nisso, senão como uma generosa e bela aspiração, para a consecução da qual sigam orientados todos os trabalhos e cálculos.

Isso mesmo: cálculos, é somente o que na atualidade se pode fazer no campo espírita a respeito do que nos preocupa. Tudo quanto exceda isto, será pretensão vã e perturbadora para o desenvolvimento natural da ideia.

Conformem-se, pois, os impacientes, somente com os ensaios, cálculos e exercícios preliminares que em matéria de organização permite atualmente o estado em que se encontra o desenvolvimento do Espiritismo, no mundo; porque isso é logico e conveniente para sua marcha natural e progressiva, e procurem aperfeiçoar quanto seja possível os organismos a que pertençam, respeitando a autonomia e formas adotadas pelos outros, ilustrando-os, sem embargo, se podem, no que caiba, e com isso já terão prestado à ideia, neste particular, todo o serviço que se lhes poderia exigir.

Os espíritas militantes pensam sempre no que lignifica o popular adágio: “Nem por muito madrugar se amanhece mais cedo."

Cada coisa, a seu tempo; e a respeito do que nos preocupa, os fervorosos adeptos da Nova Revelação não podem pretender mais que ocupar-se em exercícios preliminares e de tal forma realizados, que seu labor atual não crie obstáculos ao regular desenvolvimento do labor de amanhã. Nada de princípios dogmáticos e formas definitivas, porque isso conduz ao estacionamento e a morte, e o Espiritismo não veio ao planeta Terra para ser, já ao nascer, um sentenciado à morte, devido ao errado proceder de seus adeptos, aplicando ao desenvolvimento da nova ideia os mesmos métodos que limitaram e tornaram pouco frutífera para o bem a existência dos credos religiosos históricos. A vida do Espiritismo deve ser perdurável, e para que assim resulte deve-se repelir todo procedimento que possa compromete-la.

Este é meu modo de sentir no assunto, objeto da consulta que me fizeste e que com lealdade deixo exposto.

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