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segunda-feira, 15 de julho de 2019

A destruição da Inquisição na Espanha por Napoleão



1 - A destruição da lnquisição na Espanha por Napoleão I
por Oscar D'Argonnel 

Reformador (FEB) Dezembro 1925

Dou agora a palavra ao coronel polaco Lumanousk, encarregado pelo Marechal Soult de destruir a Inquisição de Madri.  

“Estando eu em 1809 em Madri, a minha atenção se fixou sobre a casa da Inquisição. Napoleão já tinha publicado um decreto para a supressão dessa instituição por toda a parte onde as suas armas vitoriosas se estendiam.

“Lembrei ao marechal Soult, então governador, pelo que ele me instruiu que destruísse a Inquisição.  

"Fiz-lhe observar que o meu regimento, o 9º de lanceiros polacos, era insuficiente para tal serviço; mas disse-lhe que, se ele lhe ajuntasse mais dois regimentos, eu o empreenderia. Acedeu o meu pedido.

"Um desses regimentos, o 117°, estava debaixo das ordens do coronel de Lille. Com estas tropas, pus-me a caminho para a Inquisição. O edifício estava rodeado por uma muralha muito forte, guardada por 400 soldados pouco mais ou menos. Logo que cheguei debaixo da muralha, dirigi-me a uma das sentinelas e ordenei que os padres se rendessem ao exército imperial e abrissem as portas da Inquisição.  

“A sentinela, que estava em pé sobre a muralha, pareceu conversar alguns instantes com alguém que estava do lado interior, depois do que fez fogo sobre nós, matando um dos meus homens.  

“Foi este o sinal de ataque. Ordenei às minhas tropas que fizessem fogo sobre aqueles que aparecessem na muralha. Bem depressa se tornou evidente que o combate era desigual.  

“As muralhas da Inquisição estavam cobertas de soldados do Santo Ofício; havia também um parapeito na muralha por detrás do qual eles se escondiam, não saindo dali senão para se exporem em parte, enquanto descarregavam as suas espingardas. As nossas tropas estavam numa planície descoberta e expostas a um fogo assassino; não tínhamos nenhuma peça de artilharia; não podíamos também escalar as muralhas, e as portas resistiam com êxito a todos os nossos esforços para as arrombar.

“Vi que era necessário mudar a forma do ataque e mandei cortar e aparar as árvores que, conduzidas àquele ponto, deveriam servir de aríetes.

"Duas dessas máquinas foram postas entre as mãos de tantos homens quantos eram necessários para trabalhar com vantagem, e estes começaram logo a atirar grandes pancadas contra as muralhas, sem se importarem com o granizo de balas que chovia sobre eles.

“Bem depressa as muralhas começaram a tremer; e debaixo dos esforços perseverantes e bem dirigidos do aríete, apareceu uma brecha por onde as tropas imperiais entraram na Inquisição.

“Aqui tivemos nós uma amostra do quanto é capaz o descaramento jesuítico. O inquisidor geral e os padres confessores, com suas vestimentas sacerdotais, saíram todos dos seus abrigos, quando estávamos para entrar na Inquisição, com os pescoços estendidos, os braços cruzados no peito e os dedos   descansando nos ombros, como se não tendo, ouvido o ruído causado pelo ataque e pela defesa acabassem de saber o que se passava e dirigindo-se em tom de reproche aos seus soldados, disseram: Por que combateis os nossos amigos franceses?  

“Parece que a sua intenção era fazer-nos acreditar que de nenhum modo haviam autorizado a defesa, esperando, com o nos darem a crer que eram nossos amigos, poder aproveitar mais facilmente a confusão e o saque da Inquisição para fugirem.

“O artifício era, contudo, muito mal imaginado e de nada serviu. Mandei-os guardar a vista, e todos os soldados da Inquisição foram feitos prisioneiros. Começamos, então, a examinar esta prisão do inferno.  


2 - A destruição da lnquisição na Espanha por Napoleão I

Reformador (FEB) Janeiro 1926

            “Atravessamos quarto sobre quartos; encontramos altares, crucifixos e tochas em abundância mas não pudemos descobrir nenhum da iniquidade que devia exercer-se neste lugar, nenhuma daquelas coisas extraordinárias que esperávamos encontrar numa casa da Inquisição.

“Via-se ali a formosura, o esplendor, a ordem mais perfeita: a arquitetura,
as proporções, tudo era admirável; os tetos e os sobrados eram de um brilhante polido; os assoalhos de mármore estavam arranjados com um gosto esquisito.  Havia ali tudo quanto pode agradar à vista e a um espírito cultivado; mas onde estariam os instrumentos de que tanto nos tinham falado? Onde estavam essas torres nas quais se dizia que entes humanos estavam sepultados em vida! Os santos padres asseguravam-nos que os haviam caluniado, que tínhamos visto tudo. Preparava-me para abandonar as minhas pesquisas, deixando-me persuadir que esta Inquisição era diferente daquelas de que nos tinham falado; porém o  Coronel de Lille, não podendo renunciar tão facilmente à busca, disse-me:

“Coronel, vós sois hoje o comandante, e o que ordenardes se deve fazer;
Mas, se quereis seguir o meu conselho, mandai examinar mais este assoalho de
mármore; ordenai que lhe deitem água por cima e veremos se não haverá por
onde ela escoe mais facilmente.”

Respondi-lhe: “Coronel, fazei o que quiserdes”, e ordenei que trouxessem água.

As lajes de mármore eram grandes e de um magnífico polido, Logo que a água foi derramada no assoalho, com grande descontentamento dos inquisidores, nós examinamos cuidadosamente todas as fendas para ver se a água se infiltrava por elas.

Pouco depois, o Coronel de Lille exclamou que tinha encontrado o que buscava. Ao lado de um destas chapas de mármore, a água corria muito depressa, como se por baixo houvesse um vácuo.

Todos os braços se puseram então à obra para mais amplas descobertas; os
oficiais com as suas espadas' e os soldados com as suas baionetas procuravam levantar a laje. Outros bateram fortemente com as coronhas das suas espingardas procurando quebra-la, enquanto os sacerdotes se revoltavam contra a profanação da sua bela e santa casa.  

De repente, um soldado bateu numa mola e a laje levantou-se, então os
rostos dos inquisidores se tornaram pálidos e, como Baltasar, quando um braço apareceu escrevendo na muralha, estes homens de Belias começaram a tremer como varas verdes.

Olhamos para debaixo da laje fatal, que se tinha um pouco levantado, e vimos uma escada. Aproximei-me da mesa e tirei de um dos candelabros uma vela que estava acesa, a fim de explorar a nossa descoberta.
  
Quando apoderava dela, fui estorvado por um dos inquisidores que,
assentando devagar a sua mão no meu braço me disse com ar devoto: “Meu filho,  não deveis tocar nisso com as vossas mãos ensanguentadas, porque é um círio bento.

"Bem, respondi eu, preciso de uma luz benta para sondar a iniquidade.
Tomo a responsabilidade sobre mim.


3 - A destruição da lnquisição na Espanha por Napoleão I

Reformador (FEB) Fevereiro 1926

Peguei na vela, desci e descobri então o motivo por que a água nos havia
revelado esta passagem. Debaixo deste assoalho, estava um teto muito unido,
exceto naquele sítio onde se achava o alçapão; daqui procedia o êxito do expediente do Coronel de Lille.

Logo que descemos a escada, entramos numa grande sala quadrada, chamada a sala do julgamento. No meio dela estava um grande marco, onde se achava presa uma cadeira; era ali que eles tinham por costume colocar o acusado, ligado à cadeira. Do outro lado da sala estava um outro assento elevado, chamado o trono do juízo; este era ocupado pelo inquisidor geral. Havia ali também em redor, assentos menos elevados para os padres, quando se tratava de negócios da Santa Inquisição.

Desta sala passamos à direita e encontramos pequenas celas que se estendiam em todo o comprimento do edifício; mas aqui, que espetáculo se ofereceu à nossa vista! Como a religião benfazeja do Salvador tinha sido representada por homens que faziam profissão dela! Estas celas serviam de cárceres solitários onde as infelizes vítimas do ódio inquisitorial ficavam encerradas até que a morte as livrasse de seus algozes. Ali deixavam os seus corpos até se decomporem, e os cárceres eram ocupados por outros indivíduos... A fim de que isto não incomodasse os inquisidores havia tubos muito grandes para evacuar o fétido dos cadáveres.

Em certas celas encontramos os restos de alguns homens que tinham expirado recentemente ao passo que, em outras, só se achavam esqueletos acorrentados ao assoalho. Em algumas encontramos vítimas vivas de todas as idades e de todos os sexos desde o mancebo a donzela, até velhos de setenta anos todos eles despojados do seu vestuário como na hora do seu nascimento!"

4 - A destruição da lnquisição na Espanha por Napoleão I

Reformador (FEB) Março 1926

“Os nossos soldados trataram imediatamente de livrar estes cativos das suas  correntes e tiraram uma parte dos seus vestuários para cobrir com eles estas  infelizes criaturas, desejavam vivamente leva-la à luz do dia; mas, reconhecendo o perigo que haveria em fazê-lo, opus-me a isso e insisti para que lhes eles dessem primeiramente tudo de quanto houvessem precisão e para que não lhe fizessem ver a claridade senão de um modo muito gradual.

Tendo visitado todas estas celas e aberto as portas das prisões em que ainda as vítimas viviam, fomos visitar outra ala à esquerda. Ali encontramos todos os instrumentos de tortura que o gênio dos homens ou dos demônios pode inventar.

À sua vista o furor dos nossos soldados não pode conter-se; exclamaram que cada um dos inquisidores, frades e soldado do estabelecimento merecia ser torturado. Não nos opusemos a isso. Começaram imediatamente a obra da tortura na pessoa dos padres.

Vi pôr em pratica quatro espécies diferentes de tortura, e depois retirei-me
desta horrível cena, que durou enquanto existia um único indivíduo desta antecâmara do inferno, na qual os soldados pudessem saciar a sua vingança.

Logo que as pobres vítimas saídas das celas da Inquisição, puderam, sem
Perigo, sair da prisão para se esporem à luz do dia (tinha-se espalhado a notícia que inúmeros infelizes haviam sido salvos da Inquisição), logo acorreram todos aqueles aos quais o Santo Ofício arrancara amigos; vinham ver se havia alguma esperança de os achar vivos.
           
Oh! Que encontro esse!  

Cem pessoas, mais ou menos, que tinham estado sepultadas durante muitos anos, eram agora entregues à sociedade dos seus semelhantes; muitos encontraram aqui um filho, ali uma filha, aqui uma irmã e ali um irmão. Alguns, porém, não reconheceram amigos. Que cena triste! Não é possível descrevê-la!

Depois de ter sido testemunha disto, querendo terminar a obra que tinha começado, dirigi-me a Madrid e obtive uma grande quantidade de pólvora que coloquei debaixo do edifício e nos seus subterrâneos. Milhares de espectadores
atentos nos viram deitar-lhe o fogo. As muralhar e as torres maciças do orgulhoso edifício se elevaram em despojos para os céus.  

A Inquisição de Madrid já não existia. "

Napoleão I, ainda jovem

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