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quinta-feira, 9 de maio de 2019

Imortalidade



Imortalidade
por Vianna de Carvalho
Reformador (FEB) Janeiro 1920


            Passa-se fenômeno singular nas contraditas que as velhas crenças religiosas movem ao Espiritismo.

            As bases da nova fé estão firmadas na existência de Deus e na continuidade do ser após a morte. Não discutamos, por agora, o máximo arcano da ciência, isto é, a realidade de uma Causa produtora das manifestações naturais - corpos, forças e espíritos.

            Consideremos apenas o problema da perpetuação da alma através da mutabilidade das formas que ela verifica em inumeráveis estádios de incoercível evolucionismo.

            Desde as primeiras idades do homem sobre a Terra, essa noção exigiu intuitivamente na caligem de inteligências rudimentares.

            Assombro do desconhecido, desejo de permanência egoística, reflexo de operações mentais elaboradas sob o espetáculo das coisas exteriores ... não importa.

            O fato em si pode escapar à decifração da filosofia mas não deixa de constituir um dos aspectos fundamentais da atividade consciente.

            A extensão da vida além das fronteiras visíveis deste mundo, era um pressentimento diluído nas imaginações das raças primitivas.

            Antes de haver religião organizada, lampejava nos cérebros obtusos a ideia vaga de outro destino colocado fora do tenebroso limiar do túmulo.

            Só muito mais tarde, os credos tecidos com a inspiração de iluminados, deram corpo a esses estremecimentos da psique.

            Todavia, as respectivas teorias foram se disseminando lentamente: germinaram nas Índias, Egito, Grécia, Roma... com diversas tonalidades de empréstimo, consoante a índole dos povos, costumes, tradições e feitios intelectuais que lhes eram peculiares.

            Chegaram assim, conservadas na pura esfera das abstrações, à segunda metade do século XJX.

            Até aí, proclamou-se a imortalidade sem demonstração objetiva. Tudo consistia em argumentos muitas vezes brilhantes, em teses defendidas ao sabor da lógica e da experiência introspectiva.

            De provas reais, palpáveis, contundentes, quase se não cogitava. Apesar da intervenção ostensiva de entidades extra terrenas nos acontecimentos humanos, as leis de tais manifestações permaneciam repudiadas por todas as formas do ensino dogmático.

            Fez-se necessária uma revolução nas opiniões tradicionalistas. O Espiritismo promoveu métodos especiais assegurando o conhecimento exato da sobrevivência de nossa individualidade.

            Pois bem: os credos de outrora procedem de maneira absolutamente contrária às regras do bom senso.

            Em vez de acolherem os subsídios que lhes trariam as documentações da nova ciência, - armam contendas e perdem terreno a cada investida agitada pela intolerância.

            Eles mesmos cavam assim a própria ruína; precipitam a desagregação das forças que até agora os mantiveram no regime social.

            E, enquanto definham como árvores ressequidas, a vaga do liberalismo abre caminho para o futuro e submerge na passagem os erros alimentados por um conservantismo absurdo.

            Tal é a lei: ou modificar-se ao influxo do progresso ou morrer dentro dos moldes incompatíveis com as aspirações de nossa época.




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