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segunda-feira, 13 de maio de 2019

Do "Livro de um sonhador"



Do “Livro de um Sonhador”
Lux
Reformador (FEB) Janeiro  1920

            Contemplo-te, Ó homem, e as tuas incertezas, os teus cismas, as tuas queixas, as tuas investidas, as tuas renúncias, as tuas quedas e as tuas dores, me causam dor - porque também sou homem!

            Considero, no luto, as tuas mágoas; na indigência, experimento o rigor de teu castigo, participando de tuas penas; na tua opulência, compulso a arrogância pueril de tua vaidade; e, nas tuas mágoas, nas tuas penas, na estulticie de tua vaidade, penalizado, embebo a minha pena, para dizer-te que me causas pena!
             
            Compadeço-me de ti, e meu grande pesar se aprofunda e cresce à proporção que desces, que te degradas à ascendência vaidosa do orgulho e no falso terreno da incredulidade te deixas conduzir ao sorvedouro das ingratidões para com Aquele que no mundo veio ensinar o amor, dizendo compassivamente: “Amai-vos uns nos outros e a Deus sobre todas as coisas”, pois, sendo Deus a Vida de todas as vidas, é Ele o autor máximo de tudo quanto existe e o único que, justiceiro e bom, distribui a graça dos bens eternos que enriquecem a vida na imortalidade!

            Oro por ti, quando, desprezado pelo desdém de teus lábios, que me repelem por vezes, no silêncio da noite e no ignorado aposento de minha transitória residência terrena, elevo o pensamento no “Senhor dos Mundos”.

            Nesses momentos de concentração, em que me afasto das coisas materiais, fugindo-lhes ao predomínio esmagador e às ameaças de credores que me recusam a direito do pão, por que os “sonhadores” não vivem neste mundo... sinto que me causas maior compaixão, pois, em troca das flores que te ofereço, abençoadas pelo Divino Pastor que me pastoreia o rebanho dos sentimentos, porque lhe suplico a proteção bendita; em troca da aromal coroa com que te quero ornamentar a fronte e falar ao teu coração, recebo, unicamente, os espinhos de tua indiferença que me retalham a alma e embaraçam o pensamento...

            Vejo, então, que o mundo, pelos companheiros de jornada que conheço, é companheiro da formiga mandando a pobre cigarra viver da própria canção...

            E te lamento, ó homem, porque minha alma não vibra nos departamentos do
egoísmo, do orgulho e da luxúria; vibra por afeto e não por ambicionar mundanas glórias; ambiciona a felicidade que lhe provenha da ventura de concorrer para a fortuna moral do homem ; não vive para si, nem se movimenta por si: vive movimentada pelo Cristo de Deus que a impulsiona e ativa, fornecendo-lhe a meiguice de seus ensinamentos, a ternura infinita de seu amor imenso, reprovando-a, com suavidade, nos erros a que se deixe arrastar; apontando-lhe o caminho da Justiça e do Dever perante o Tribunal Divino; norteando-a na paz, confortando-a na guerra para que se compadeça dos elementos conturbados...

                                   E minha alma, retalhada,
                                   Que em prantos faz a jornada
                                   Desta jornada de dor;
                                   Tem pena de ti, Ó homem,
                                   Ante as lutas que consomem
                                   Teus sentimentos de amor!

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