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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

O Livro de Tobias



O Livro de Tobias
Reformador (FEB) Junho 1944  

            Em seus eruditos comentários e prefácios aos Livros da Bíblia, informa-nos o Rev. Abade Delaunay:

            "Os Hebreus no seu catálogo das Sagradas Escrituras não contavam o livro de Tobias; e isto, ao que parece, porque dele não tinha tido notícia Esdras, quando, autorizado pela sinagoga magna, reviu, coordenou e compilou os livros sagrados, depois da soltura do cativeiro de Babilônia. Mas a Igreja do Cristo sempre teve o livro de Tobias por um dos livros divinos, Do que são boas provas, por uma parte, os catálogos de S. Inocêncio II, de Gelásio I, de S. Agostinho e de S. lsidoro de Sevilha; por outra, as frequentes citações que deste livro, como de um livro canônico, fizeram os padres dos primeiros séculos, a saber, S. Policarpo, S. lrineo, S. Clemente, S. Cipriano, S. Hilário, S. Ambrósio.

            "Foi este livro originalmente escrito em caldaico; e pelo que se diz no Cap. XI, verso 20, segundo a versão grega, os mesmos Tobias pai e filho foram seus autores.

            "Hoje não existe exemplar algum caldaico deste livro; mas é notório que o exemplar de que se formou a versão grega era mui diverso daquele de que, muitos tempos depois, formou S. Jerônimo a versão latina que hoje temos, e que foi feita por ele sobre a fé de um Judeu, que lho interpretara do caldaico."

            Até ai os comentários do Rev. padre Delaunay. Esse desconhecimento do livro por parte de Esdras deu o lamentável resultado de haver sido o livro julgado apócrifo e excluído das edições protestantes da Bíblia. Como são estas edições protestantes que levam as Sagradas Escrituras a todas as bibliotecas e a todos os lares, segue-se que um dos mais interessantes livros do Velho Testamento fica desconhecido da imensa maioria dos estudiosos. Nosso desejo neste momento é sugerir que se faça uma edição popular do interessante livro, conforme a tradução católica do padre Antônio Pereira de Figueiredo, somente modernizando a ortografia, para que o público não fique privado dessa parte da Bíblia.

            A nós outros, estudantes de Espiritismo, o Livro de Tobias interessa por dois motivos:
           
            1º - Pela moral cristã que encerra, apresentando a Caridade acima de tudo; o que não é comum no Velho Testamento. Na verdade, a caridade só é apresentada como condição única de salvação no Novo Testamento, hoje confirmado pelos ensinamentos dos Espíritos.

            2º - Pela aparição de um Espírito materializado que é tomado por um homem e convive com o jovem Tobias, guia-o em longa viagem, salva-o de muitos perigos, casa-o, cura-lhe a cegueira de seu velho pai; tudo isso sob o nome de Azarias, filho de Ananias. Depois de completa sua missão junto aos Tobias pais e filho, revela então sua identidade espiritual, dizendo, conforme o capítulo XII, versos 8 a 21:

            “É boa a oração acompanhada do jejum e da esmola mais do que ajuntar tesouros de ouro; porque a esmola livra da morte, e ela é a que apaga os pecados e faz achar a misericórdia e a vida eterna. Mas os que cometem pecado e iniquidade são inimigos de suas almas.

            "Eu pois vos descubro a verdade, e não vos ocultarei o que está em segredo. Quando tu oravas com lágrimas, e enterravas os mortos, e deixavas o teu jantar, e ocultavas os mortos em tua casa de dia, e os enterravas de noite, presentei eu as tuas orações ao Senhor.
            "E porque tu eras aceito a Deus, por isso foi necessário que a tentação te provasse. E agora me enviou o Senhor a curar-te, e a livrar do demônio a Sara, mulher de teu filho; porque eu sou o anjo Rafael, um dos sete que assistimos diante do Senhor.
            “E o anjo lhes disse: A paz seja convosco, não temais, porque eu estava convosco, eu o estava por vontade de Deus: bendizei-o e cantai-lhe convosco.
            “A vós parecia-vos que eu comia e bebia convosco: mas eu sustento-me de um manjar invisível e de uma bebida que não pode ser vista por homens.
            É, pois, tempo que eu volte para aquele que me enviou; vós porém bendizei a Deus e contai todas as suas maravilhas. E tendo dito estas palavras, desapareceu de diante deles, e eles não o puderam ver mais."

            Como se vê desta breve transcrição, o Livro de Tobias merece atento estudo dos espiritistas. Há na Bíblia outros casos de Espíritos que tomam corpo aparentemente humano para cumprirem missões entre os homens, numa materialização mais duradoura e mais densa do que as materializações estudadas na experimentação dos espiritas e metapsiquistas. Passam por homens de carne e osso entre os homens e só ao desfazerem seus corpos, fica-se sabendo que eram Espíritos desencarnados. A mais gloriosa dessas manifestações é a do Divino Mestre que também na opinião dos homens, comia e bebia com eles, não só antes, como até depois de sepultado seu corpo.

            São numerosos os episódios evangélicos que revelam essa natureza diferente do corpo de Jesus; corpo que marchava sobre as águas, desaparecia do meio da multidão, desapareceu do túmulo, atravessou portas fechadas, etc. Esses tópicos ficaram incompreendidos até a vinda da Terceira Revelação. Só os fenômenos do Espiritismo vieram esclarecer-nos sobre essas formações a que os metapsiquistas deram o nome de formações ectoplásmicas, e só na obra recebida por João Batista Roustaing, através da mediunidade mecânica de Mme. Collignon - Os Quatro Evangelhos - foi minuciosamente revelado o processo pelo qual os Grandes Espíritos podem condensar a matéria e formar para si mesmos esses corpos aparentemente de carne e ossos, mas que podem desmaterializar-se repentinamente.

            Os fenômenos dessa natureza são eternos, encontram-se relatos nas literaturas profanas e sagradas de todos os tempos e nas tradições dos povos selvagens, de aparições e desaparições de deuses, anjos, espíritos, demônios, o que é sempre a mesma coisa. Não foram inventados nem mesmo descobertos pelo Espiritismo; somente estão sendo melhor estudados presentemente.

            Como o nosso século é de cego e orgulhoso materialismo, a vaidade humana tem tido a arrogância de negar tais fatos universais e eternos. Essa audácia do materialismo orgulhoso e impenitente domina tão imperiosa em nosso tempo que até pessoas que se dizem espíritas, não raro abrem campanha contra a grande obra mediúnica dada a J. B. Roustaing, e aparecem nos jornais e no rádio e no livro, fazendo tremenda obra de descrédito contra a Terceira Revelação, aliás, contra a mediunidade, que é sua base.

            É evidente que tais pessoas, mesmo quando bem intencionadas, são os únicos inimigos perigosos do Espiritismo, pois que se dizem espiritas e apenas atacam uma parte da literatura mediúnica; mas se essa parte caísse, com ela -cairiam as outras partes de igual base, isto é, toda a literatura mediúnica. Nalguns países, tais inimigos têm conseguido as mais funestas consequências contra o Espiritismo. Felizmente, no Brasil esses infelizes demolidores não têm logrado seus tenebrosos intentos; a obra de Roustaing continua de pé, e, por isso mesmo, ainda não atacaram a de Kardec e as demais obras mediúnicas. Nos lugares, porém, onde eles venceram a obra de Roustaing, imediatamente lançaram a dúvida sobre toda a literatura mediúnica e, finalmente, conseguiram reduzir todo o brilhante movimento regenerador do Espiritismo a simples núcleos de "científicos", isto é, de experimentadores e discutidores eternos, que nada constroem, sempre se aborrecem e finalmente se dispersam sem deixar coisa alguma, além da dúvida nas almas e o desespero nos corações.

            Infelizmente, até a pátria de Kardec e Roustaing sofreu imensos prejuízos dessa campanha dos inimigos internos.

            Divulgar o Livro de Tobias, a nosso ver, é um dos passos necessários na obra de defesa do Espiritismo contra esses perigosos inimigos internos; por isso está sendo preparada uma edição popular dessa preciosidade da literatura sacra.



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