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sábado, 18 de junho de 2011

'Triunfo e Túmulo'



Triunfo e Túmulo

Vianna de Carvalho
por Divaldo Franco
em 26-12-59 em Salvador, Bahia.
Reformador(FEB)  pág. 31 em Fevereiro 1961

            Antes d’Ele,
            conquistadores e príncipes passaram em carros doirados, coroados de triunfo, fulgurando por um momento para, logo mais, descerem ao vale sombrio do túmulo, entre desenganos e aflições.
            Júlio César, triunfador em todas as latitudes, espalha o Império Romano e domina o mundo, caminhando para a sepultura sob a arma traiçoeira de Bruto, que passava por seu filho.
            Marco Antônio avança poderoso sobre o Egito, retoma as rédeas do poder para Roma, sendo vítima, mais tarde, da própria negligência e impetuosidade, para atravessar o Estige, na barca de suicídio covarde, quando as tropas de Otávio derrubam as portas da cidade de Alexandria onde se refugiou.

            Depois d’Ele,
            Tibério, recebendo o mundo como herança de Augusto, banqueteia-se na volúpia do prazer e da posse, foge torturado para Capri, entre tormentos e divagações, após a morte de Sejano, que o traíra, sendo assassinado sob travesseiro de plumas , que o asfixia lentamente.
            Calígula,  alçado ao poder, confere um consulado ao seu cavalo de estimação - Incitatus - e, tomado de hedionda loucura, malbarata os tesouros que Tibério acumulou, tornando-se um monstro de crueldade, para sucumbir depois ao fardo de crimes inenarráveis, assassinado por Quéreas, em pleno Circo.
            Cláudio, cansado e obeso, filósofo e devasso, dominando o mundo, não escapa ao veneno de Locusta, habilmente servido por Agripina, em suntuoso banquete privado no palácio deslumbrante, onde vivia.
            Domício Nero, ainda moço, na ambição do poder, experimenta o horror do matricídio e do uxoricídio, tentando preservar os triunfos que lhe adornam a cabeça, assinalando sua passagem no mundo com os sinais do crime e da degradação. No entanto, não pode fugir, após tão hediondas glórias, às visões da mãe vingadora, libertada do reino das Parcas, atravessando, igualmente, as portas do sepulcro quando Epafrodito ‘lhe facilita’ a morte...
            Novos tronos e impérios se erigem e sucumbem. Heróis e triunfadores brilham e passam. O túmulo aguarda-os, recebe-os e devora-os.
            Em toda a História a assombra do crime atormenta e envolve o criminoso. A traição que favorece o acesso ao poder, ergue também a taça de letal veneno aos lábios dos vitoriosos embriagados de ventura, matando-os depois.
            De Semíramis, a babilônia, a Maria Antonieta, a austríaca, a sedução e a beleza ergueram impérios e destruíram civilizações na embriaguez do crime. Após os fastígios do poder, o cárcere e a morte.
            Sêneca triunfa em Roma ao preço da bajulação e da conivência com o crime e ensina estoicismo sobre confortáveis coxins de veludos e sedas, transferidos da Domus Aurea, cercado de escravos e admiradores, empreendendo a grande marcha para o túmulo sob a ordens do seu imperial discípulo.
            Petrônio, cognominado arbiter elegantiarum, não foge, após tantas glórias, à jornada final do túmulo, por ser considerado traidor, suicidando-se por imposição do Imperador.
            Savonarola, o dominicano, arrebatado pelo fastígio da eloqüência, tenta moralizar a Igreja a que serve, sendo por ela queimado, após ruidoso processo inquisitorial.
            Schumann compõe arrebatadoras páginas musicais, arrancando-as da inspiração atormentada, entre idas e voltas ao hospício, sendo arrastado ao suicídio pelas sombras vingadoras de Além-Túmulo.
            E. Allan Poe, de espírito atribulado, celebriza-se descrevendo viagens tenebrosas nos labirintos da alma obsidiada, sem conseguir libertar-se da carne, em tranqüilidade.
            Mesmo Dante, o florentino, fugindo aos conflitos alarmantes, descreve com pena desesperada os transes mediúnicos que experimenta, rumando para o túmulo com os transtornos do espírito inquieto.
            - “A história se repete” - afirma a sabedoria popular.
            Só o amor vence o mal e ilumina a vida; o ódio gera fel e destrói o ser, conduzindo à morte.
            Por essa razão o Cordeiro de Deus, depois de pregar e viver o amor à Humanidade, deixou-se conduzir ao assassínio tornado legal pelos usurpadores do poder, doando aos homens o atestado da sepultura abandonada e vazia. Não tendo triunfado no mundo, venceu o mundo e o túmulo através da ressurreição gloriosa e inesquecível.
            Todos passaram... A História guardou o nome de alguns e esqueceu a vida de outros. A malta criminosa do Calvário é lembrada somente como exemplo cruel de barbaria. O Justo, entretanto, da manjedoura humilde à cruz humilhante, ofereceu o legado do amor vitorioso sobre todas as coisas como abençoado roteiro das almas para o matrimônio com a felicidade imperecível.

                                   *

            Quando escutes a doce voz do Triunfador não vencido, murmurando-te amorosamente no altar da alma o convite pata honrares o dever com o sacrifício, exulta, meu irmão, e celebra o natal diferente que se opera na tua vida. Escuta essa mensagem libertadora, suporta-lhe o fardo e avança, sem cansaço, ascendendo em busca do triunfo sobre o túmulo onde se sepultam as ilusões.


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