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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Satanás



Satanás

Oswaldo Valpassos
Reformador (FEB)  Outubro 1957

            Satanás presta inestimável serviço à Igreja Romana, não só pelo terror que inspira no rebanho embrutecido, como principalmente pelo dinheiro que por seu intermédio canaliza para o saco sem fundo da Igreja. E satanás ou demônio é pau para toda obra, servindo às tentações, às artimanhas, ao ódio, à cobiça, enfim, a uma atividade multiforme para arrastar as almas de Deus às torturas do inferno que a conveniência da Igreja criou e mantém, auxiliada pela ignorância que ainda avassala grande parte do rebanho católico.
            Nas pregações contra o Espiritismo, os padres apontam como demônios os Espíritos que se manifestam, ainda que esses Espíritos se apresentem como amigos, dando salutares conselhos, dentro do mais puro Evangelho ou curando males crônicos da Humanidade sofredora.
            De acordo com a Igreja, Satanás foi expulso do Céu e constituiu um reino à parte, tornando-se, assim, rival de Deus. Nesse caso, se o reino de Deus é partilhado por Satanás, que dirige o reino do mal, então Deus deixa de ser absoluto, uma vez que abdica de atributos.
            O saudoso escritor pernambucano Manoel Arão em seu pungente livro - O Claustro, comenta: ‘o demônio existe de toda a eternidade ou foi criado? No primeiro caso, seria incriado e, portanto, igual a Deus; no segundo, seria obra de Deus e Deus não seria perfeitamente bom desde que criasse o mal’.
            Como se vê, não há saída que satisfaça à lógica. Aliás, para o rebanho católico, em grande parte obscurecido pelo analfabetismo, não há lugar para a lógica e dela prescinde porquanto os padres o dirigem a seu modo dispensando-lhe até o trabalho de pensar.
            E nesse rebanho alheio a qualquer raciocínio está o grosso do Catolicismo. Nesse meio, Satanás tem muito o que fazer para regalo da Igreja que, assim, o conserva como uma fonte perene de benefícios próprios.
            Sabem os católicos instruídos, embora não discrepem, que demônio (daimon), entre os gregos antigos, significava Espírito, havendo o bom e o mau, como, por exemplo: o bom demônio de Sócrates. Platão chegou a chamar a Deus - demônio onipotente (agathoaemones) e os maus (cacodaemones) eram intermediários entre os deuses e os homens.
            Satanás, como se sabe, não passa de uma alegoria, representando apenas o mal, o qual não é eterno conforme divulga, de má fé, a Igreja Romana, para melhor proveito junto à massa supersticiosa que ainda acredita em pleno século XX, no inferno de ardentes caldeiras, no enxofre fervente e no demônio de chifres e pés de pato. E muitos padres, principalmente nos lugarejos do interior, justificam esse recurso afirmando que o mesmo é necessário para regenerar o povo, quando o certo seria elucidá-lo, esclarece-lo para melhor conpreensão da Justiça Divina. Isso, porém, não lhes convém, pois o raciocínio levaria o povo a outras conclusões. A ignorância é muito útil ao clero católico.
            Se a Igreja de Roma, nos tempos do seu poder absoluto, foi incapaz de regenerar a Humanidade, impossível seria conseguí-lo na época presente em que a Humanidade inteira tem a faculdade de se esclarecer, de pensar e de escolher o caminho conforme a razão.
            Satanás que é apenas um símbolo, continua a servir a Igreja como instrumento de terror e de fazer dinheiro.
            Esta é a verdade.


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