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terça-feira, 11 de setembro de 2018

Preocupações Religiosas



Preocupações religiosas
por I. Pequeno (Antônio Wantuil)
Reformador (FEB) Julho 1944

Três são as religiões que atualmente contam com o maior número de adeptos no Brasil: o Catolicismo, em que todos os socorros espirituais são tabelados, variando o preço conforme o aparato da cerimônia; o Protestantismo, no qual os mesmos socorros são mais ou menos gratuitos, porque os pastores só percebem ordenados mensais; e o Espiritismo, única religião do mundo em que o médium nada percebe, sob qualquer forma, visto que todos vivem de atividades outras que não a religiosa, da qual ainda tiram meios para oferecer socorro material aos que apelam para a sua interferência espiritual.

Essa verdade é conhecida hoje em todos os meios sociais do País. Se algum indivíduo, que se diz espírita, cobra qualquer preço pelo seu trabalho espiritual, todos sabem que tal criatura tanto tem de espírita como aqueles que, de quando em vez, são agarrados pela polícia, vestidos de padres, apesar de jamais terem pertencido ao quadro do clero. Uns e outros não são espíritas ou católicos. São, simplesmente, exploradores da credulidade do povo.

No entanto, apesar de o Espiritismo ser a única religião que segue o preceito evangélico do "dai de graça o que de graça recebestes", o reverendo padre Luis Salamero, C. M. F., em sua revista católica, publicou um longo artigo sob o título “A constância confirmada dos truques do espiritismo", no qual, defendendo naturalmente a não diminuição das suas rendas, escreve os seguintes trechos:

“... (os espíritas) se valem de uma suposta aparição ou revelação dos espíritos, para ganhar dinheiro".
“ ... os médiuns fazer evocações ou chamadas por dinheiro".
“... e nunca faltam alguns incautos para dar o grude aos espertos evocadores".

O artigo do reverendo está repleto de termos da gíria, Assim, antes de o analisarmos, devemos informar os nossos leitores de que grude, para o reverendo, e ali pela Favela, quer dizer – dinheiro.

Vê-se claramente, pelos trechos acima citados e por todo o resto da descompostura do reverendo, que a sua maior preocupação é o desvio do dinheiro, até então canalizado para o seu e para o bolso os seus colegas.

Lamentamos, de fato, que assim venha sucedendo. O padre Salamero não tem outra profissão e os seus paroquianos já lhe não oferecem o suficiente para a continuação da vida confortável que sempre tiveram os “representantes” d’Aquele que surgiu num estábulo e não possuía um lugar onde recostar a cabeça.

A culpa não é nossa, reverendo, e o senhor está perdendo tempo e errando o alvo. O dinheiro que lhe foge das mãos não está conosco.

Procure-os entre os órfãos, velhos e viúvas que socorremos ou entre aqueles que se dizem católicos e empregam as suas sobras em deleites pessoais.

Como preocupação religiosa, reverendo, não lhe fica bem essa preocupação monetária, As ameaças do seu artigo, suplício eterno, fogo eterno e todas as outras, não mais produzem efeito. Os próprios católicos já não têm medo dessas tranquibernices (trapaças). É necessário, reverendo, mudar o disco da vitrola.

Se o Rev. Luis Salamero, C. M. F., acredita realmente em Jesus, e, se deseja segui-lo, peço-lhe aceite o maior de todos os conselhos: leia os Evangelhos, mas faça-o com o espírito, sem essa execrável preocupação "religiosa" de pensar no bolso...


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