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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Epopeia da Vida



Epopeia
 da vida
Florsmar
Reformador (FEB) Novembro 1946


            Tudo na nossa vida de relação depende do rumo que damos ao nosso Espírito. Tanto o cientista que devotadamente procura servir a Humanidade, como o crente, o cristão que conhece seus deveres, devem trabalhar, pesquisando seu próprio coração, adaptando-o e preparando-o para o progresso moral e espiritual que lhes permitirá ser útil às outras criaturas.

            Trazemos a alma num constante conflito de interesses, presos às coisas efêmeras que formam o nosso íntimo patrimônio e tudo fazemos para harmonizar e satisfazer os anseios da nossa mal disfarçada ambição. Tais fatos melhor se evidenciam nos momentos de meditação e prece, quando patenteamos quanto estamos alheios à Doutrina que dizemos professar, porque o homem velho; mais por princípio do que por noção clara dos acontecimentos, carrega ainda sua bagagem de pretéritas existências, prenhe de preconceitos e restrições. Esse "homem velho" é que precisamos vencer, por meio da nossa reforma interior. Ele se esconde em nosso coração e resiste tenazmente aos nossos esforços. É mister, portanto, persistir.

            Se nos transportarmos ao âmbito espiritual da vida perceberemos que podemos progredir moralmente, rompendo o véu simbólico que enobrece a nossa visão. E assim poderemos transformar-nos nos artífices da nossa própria evolução, adquirindo gradual preponderância moral, à medida que nos vamos libertando dos grilhões pesados que nos prendem à matéria, ou melhor, às mil e uma pequeninas necessidades materiais a que nos habituamos. Se tivermos forças para continuar, chegaremos ao ponto de, um dia, vislumbrar, em pálida visão, o majestoso perfil do Cristo, levando ao recôndito de nossa alma a certeza da sobrevivência do nosso Espírito. E as ilusões desaparecem, dando-nos ensejo a que compreendamos que elas nos impediam de ver onde terminavam as nossas misérias e evitavam que pudéssemos vibrar no sentimento puro e sincero. Por misturarmos na taça rubra do coração os nossos bons anelos e as nossas maldades, não distinguimos com facilidade uns dos outros, até que encontremos a nossa "estrada de Damasco" .

            Geralmente, não queremos romper os laços que nos prendem ao passado, nem mesmo diante das mais palpáveis demonstrações de apoio vindas do Além. As advertências divinas descem dos céus e nos tocam o coração, mas, como não nos preparamos para recebê-las, cedo as esquecemos, embora, muitas vezes, elas nos provoquem lágrimas de funda emoção. Sim! São chocantes e comovedoras as observações espirituais, porque, envolvendo-nos em sutil manto de doces e suaves vibrações, desnudam nossas almas e a vida se nos parece bela e cheia de esplendor.

            Todavia, é bastante voltarmos ao campo comum da luta de cada dia para tudo se desfazer, ficando somente os resquícios daquela alegria íntima que passou, alegria que, por nossa imprevidência, não soubemos conservar dentro de nós, para conforto do nosso Espírito. Acontece, porém, que, qual Jesus, os seus bem-amados missionários não tomam conhecimento da nossa dolorosa ingratidão. Não se envergonham dos nossos molambos, nem temem a contaminação dos odores comuns ao nosso ambiente. Imunizados pelo amor e pela bondade, a tudo enfrentam, empenhados em servir, em levar a Caridade a todos os recantos, arrebanhando almas desgarradas, levando-as para o bem-aventurado redil do Senhor. Para eles o tempo é a eternidade e sua tarefa bendita vai disseminando esperanças, atraindo ao amor puro do Cristo todas as almas. 

            Um dia, depois de muito trabalhados pelos missionários do Além, havemos de conseguir conservar na taça rubra dos nossos corações essas delicadas pérolas de luz. Para isso, entretanto, será indispensável limpá-la do lodo das ilusões impuras.


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