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sábado, 8 de setembro de 2012

18. "Amor à Verdade"



18
“Amor à Verdade”
por Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927


A  humildade


            Já tivemos ocasião de nos referir à grande matadura da humanidade, que é o orgulho.

            De fato, se rememorarmos nossos dissabores e fizermos de juiz sereno, meticuloso, imparcial, dificilmente surgirá outra coisa a explicá-los.

            Um estudo retrospectivo dos povos, assaz elucida o ponto; e, se havemos ser humildes quanto o foi Jesus, importa - que o trabalho é vasto! - nos esforcemos desde o presente instante. Com a lapidação, fica menor o diamante; mas é quando mais preço tem.     

            Havendo nossa primeira queda por semente o orgulho, em encarnações subsequentes sofremos reveses de toda sorte, até quitarmos toda a infelicidade, maior ou menor, que motivamos. Daí a diversidade de posições, tão mal compreendida geralmente. Que faz o cretino, por exemplo? Expia o mau uso da inteligência. Que faz o mendigo? Expia o mau uso de passada riqueza. O perseguido? Paga as violências de outrora. Outros casos, entretanto, de humilhação ou miséria preparo são as provas de mais alta responsabilidade. Assim, ninguém neste mundo é senão aquilo que mereceu ou pediu. Não podemos saber, através da carne, qual de nós é maior. “A nobreza do sangue é pó; a da alma... luz”. Cego, pois, o que se lamenta e revolta; miserando, miserando o que desdenha e humilha.

            A seguinte comunicação, embora toda particular, muito orienta o leitor, principalmente o que sabe das vicissitudes e dores por que temos passado.

            “Paz de Maria seja com o meu filho.

            “A doutrina espirita, precisa mais de estudiosos que de espectadores.

            “Aos primeiros cabem grandes deveres, sérios deveres; dos segundos é anódino o papel.

            “Vejo bem claro, o teu desejo de aprender; observo atentamente o teu anelo, por uma vida em que possas dar-te à conquista do conhecimento das coisas e dos seres. Tudo isso vejo melhor que o meu filho, que sente não poder estudar à saciedade este ou aquele assunto, por causa das provações mal chegadas ainda a termo. Porém, as mais das vezes noto que é o meu filho quem o retarda, a profundo pesar de inúmeros trabalhadores que ansiosos querem pagar uma dívida de gratidão.

            “O meu bom e carinhoso amigo tem vacilações e dá entrada ainda a infelizes, mostrando, nas melhores ocasiões, seus restinhos de altivez. É prejudicial.

            “Ora, classifico-te entre os estudiosos; e venho dizer-te porque te falece tempo para os estudos, que tanta felicidade proporcionarão a ti mais aos teus amigos, confrades e discípulos.              

            “Meu querido filho; não te incomodes por enquanto com os teus adversários, visto como os inimigos da doutrina sempre viveram da ignorância e atraso da humanidade, usando em todo reencontro armas condenadas pelo Pai.

            “Diferente aparelhamento, porém, pedem os fins de tão grande prélio.

            “Quando dois povos se empenham em luta, vence aquele que melhor tática e melhores armas possui. Não vencerá o mais compacto exército, senão o melhor armado e de mais luz servido.

            “O espírita, portanto, não deve empregar as mesmas armas que os seus hostilizadores, uma vez que as possui melhores.

            “A tudo isto deve acrescentar que, no combate, muitos sucumbirão; outros perderão terreno: porém, aquele que perseverar, esse cantará vitória.

            “Nos desígnios do Criador, o sol nasce para todos; cumpre então que os investigadores não hesitem e somente empreguem os meios aconselhados.

            “Os pequenos serão elevados, e os orgulhosos rebaixados.

            “O que já alcançaste com as tuas provas e a paulatina humildade, podia bastar para que fosseis um dos encarregados dessa obra; mas o pouco de altivez que ainda te resta poderá fazer-te ver nessa incumbência o que não verias humilde.

            “Creio em ti como no dia de amanhã; porém, mais do que tu, eu tenho a experiência adquirida através de acerbos transes, que muitas vezes me fizeram sucumbir, até que pudesse tomar a responsabilidade da missão que me foi confiada.

            “Eras o meu filho desventurado, referto de soberba; hoje, és meu filho muito amado, modesto, mas nutante alguma coisa para te empenhares na grande peleja em prol da verdade .

            “Meu desejo é ver-te forte, firme e pronto a executar as ordens baixadas do Alto, como recebes as inspirações e os conselhos; porém, às vezes, falta-te a mansidão imprescindível, o que sentimos em nosso meio como se fora uma repulsa aos nossos ensinos, às lições a ti confiadas.

            “Quero, desta feita, trazer-te muita luz e com ela o remanso para os teus estudos. Para que isto se dê, mister se faz - aconteça o que acontecer, falem o que falarem, insultem mesmo as tuas crença!!-que não balances, não crimines, não repilas fora do amor e da lei.

            “Se ainda quiserem levar tua camisa, além do pão que dás - que a levem; mas, por amor de mim, por amor de Deus, sofre com paciência e serenidade. Sê digno em tua fé.

            “Trabalha em tua profissão, palestra com os teus amigos, e espera ainda a calma conveniente às cogitações; mas recebe em teu coração todo o meu ser, porque assim fazendo uma vez, farás sempre, serás sempre humilde e elevar-te-ás tanto quanto precisamos para fazer de ti um bom espírita, apto a favorecer-nos grandemente na tarefa de altearmos a luz para ser de todos vista.

            “Terás a conversão de um inimigo, a que poderias ter-te furtado, se não abrisses para ele caminho até junto de ti pela porta da altivez.

            “Quero ser bem clara e sobretudo bem compreendida, pois, muito mais do que desejas, temos necessidade de te ver tranquilo.

            “Demonstro assim quanto temos que fazer e quanto te pedimos, se bem que às mancheias te será retribuído.

            “Dentre os teus defeitos o mais nocivo é a citada altivez. Por isso, a reiteradas provanças tens sido submetido. Hão frutificado bastante, não há negar; mas queremos absoluta certeza de ter-te tão rasteiro como esclarecido.

            “A tua humildade determinará extraordinária assistência em todos os teus atos, de modo que tuas palavras repercutam proficuamente em todos os corações.

            “Vais melhorar um pouco, a fim de que possas converter o teu inimigo. Espero não ser preciso procrastinar, ou substituí-la.

            “Agradeço o teu delicado acolhimento e as tuas preces ungidas de sentimento. Amando-te em extremo, quero fazer-te progredir tanto quanto permitir o Pai, para que, ao voltares a nosso seio, só tenhas de regressar em missão e nunca mais por expiação.”

**

            Bom ensinamento sobre duração de provas esse ditado nos traz. Como se viu, prometendo nosso celeste Mentor a conversão de um infeliz, que ao nosso lado agia, observa-nos que o nosso entorno era o seu ponto de apoio; depois, que desejava não viesse a ser preciso substitui-lo, isto é, que nos tornássemos humilde bastante para evitar a repetição da prova.  



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