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terça-feira, 31 de agosto de 2021

O Trabalho Espírita

 

O Trabalho Espírita

por Inaldo Lacerda Lima

Reformador (FEB) Julho 1966

             O Espiritismo, quando praticado por pessoas sérias, altamente responsáveis, estudiosas, muito tem de semelhança com o Cristianismo primitivo. Caracteriza-se pela simplicidade nos trabalhos, nas reuniões, nos serviços de auxílio aos necessitados; destaca-se pela moral elevada de seus adeptos ou obreiros que se esforçam no sentido de zelar pela pureza doutrinária; convence pela seriedade de seus movimentos sociais, confraternativos, intelectuais; faz-se respeitar pela sisudez do exercício mediúnico, em que as manifestações se apresentam completamente isentas de aparatos materiais, de ritos e outras esquisitices.

            Conforme nos elucidam relatos mediúnicos a respeito do modo pelo qual os discípulos de Jesus se comportavam, no exercício do mandato evangélico, após o drama do Calvário, o Espiritismo se apresenta como continuação da obra do Cristo, já agora de maneira mais avançada quanto ao teor de suas revelações, porquanto contando com possibilidades novas e com fatores proporcionadas por dezenove séculos de experiências diversas, por vezes dolorosas.

            O Centro Espírita de nossos dias, bem orientado nos princípios básicos da Terceira Revelação, constituído de elementos conscientes da Missão do Consolador entre os homens e despidos da roupagem perigosa do personalismo extravagante e doentio, muito se próxima da chamada “Casa do Caminho”, onde os apóstolos recebiam os filhos da dor e da tristeza para um duplo tratamento – a cura da alma e a correção da conduta.

            A preocupação inicial dos apóstolos, dando continuidade à obra do Mestre Jesus, não era de fabricar novos apóstolos, mas ajudar a Humanidade a despertar para uma consciência espiritual, religiosa. Eles sabiam que os apóstolos novos viriam natural e gradativamente na pessoa daqueles mais reconhecidos que, em recebendo o auxílio, em compreendendo a verdade, se resolvessem a FICAR, para sempre, entre os arautos da Verdade, na disposição sincera de se tornarem também obreiros.

            Essa mesma compreensão rege o trabalho espírita na hora presente, pois o espírita sabe que o propósito primeiro da doutrina revelada pelo Espírito da Verdade e codificada por Allan Kardec não é multiplicar espíritas, mas curar a Humanidade, despertando os homens para uma consciência cristã autêntica, iluminando o coração humano, preparando o mundo para o grande advento da Era do Espírito. Os espíritas crescerão em número, naturalmente. Todos os dias surgirão aqueles que, uma vez acordados, não se satisfarão apenas com a compreensão da necessidade de uma conduta de auto vigilância. Eles se integrarão no trabalho, conscientes de uma verdade sobremodo soberana e que muitos colaboradores antigos esquecem: não se compreende espírita de braços cruzados. Porque Espírita é aquele que constrói, que realiza, que constrói, que realiza a obra do Senhor, sempre humilde, compreensivo, paciente, porém, intimorato, decidido e guiado pelo bom senso.

            O trabalho espírita é obra inteiramente de amor e de alta responsabilidade. E o homem que já portador de uma consciência espírita sabe que a seara em que opera não é propriedade sua, mas de Deus, e cujo plenipotenciário é Jesus. Por conseguinte, diante do bem a ser feito, ele não espera uma ordem especial; ele realiza, ele trabalha. E se alguém cochila a seu lado, ele não exprobra, não brada, não acusa, não condena – mas adverte, compassivo e fraterno, que os trabalhadores de fato são poucos e os espíritas representam, na parábola evangélica, os obreiros convocados à hora última para a vinha o Senhor.  

            Trabalho espírita é, portanto, obra de consistência destinada a desafiar o próprio tempo e a sobrepor-se a interesses materiais e transitórios. É trabalho de unificação doutrinária, de fraternidade verdadeira, de integração cristã.

            Cada instituição religiosa é um centro vivo de comunhão espiritual; razão por que nos disse certa vez respeitável confrade a propósito do inesquecível companheiro Arthur Lins de Vasconcelos: “é um seareiro que se sente responsável pela edificação e desenvolvimento de qualquer sociedade espírita, em qualquer ponto do país onde ela se situe.”

            Eis um exemplo típico de conduta espírita, em que o homem espírita se sente no dever de amar a missão do Espiritismo, não apenas em termo de simpatia, mas sobretudo de dedicação, interesse e esforço.

            Presentemente, as atenções de todo o Brasil espírita se encontram voltadas para Brasília. É que a construção da Casa de Ismael, na nova Capital, parece apresentar-se como um teste do Mundo Maior à compreensão e no esforço de cada um de nós. Ao mesmo tempo que preocupa, entusiasma. Todos queremos ser parcela vivas para o sublime total. Todos opinamos pela divisão da responsabilidade do soerguimento do venerando edifício. Todos nos sentimos, nesta hora, mais do que nunca, espíritas. É a conclusão a que chegamos diante das mensagens refertas de fé, entusiasmo e empenho que de todos os recantos da Pátria do Evangelho chegam à Federação Espírita Brasileira.

            Não foi por acaso que o Codificador inscreveu, com caracteres de esperança, no pedestal simbólico da Doutrina viva: Trabalho, Solidariedade, Tolerância.

 





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