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quinta-feira, 27 de maio de 2021

Sobre a graça e a predestinação

   

Sobre a graça e a predestinação

A Redação    Reformador (FEB) 16 de Janeiro de 1917

             Segundo a dogmática das igrejas – organizada quando a Terra era tida como o centro do universo – o destino da alma, depois de uma única existência no planeta, de minutos, de dias ou de anos, ficará, definitivamente fixado, a fim de ir o espírito para o céu, ou para o inferno. A primeira decisão divina, proferida no juízo particular post mortem, não poderá ser reformada no julgamento último e universal, quando, ao findar-se o mundo, houver a ressurreição da carne.

            As igrejas impõem, como dogmas, o pecado original, que maculou a humanidade, proveniente da suposta falta do casal edênico, ocasionada pela intervenção do diabo, sob a forma de réptil, e o resgate dessa falta, após alguns milênios, pela imolação, na Judeia, do próprio Deus Onipotente, sob a forma humana, como vítima propiciatória.

            Para a educação das almas exigem a observação de certos ritos e cerimônias.

            Não bastam.

            Torna-se ainda necessário a graça, que é um dom gratuito e sobrenatural, com diferentes classificações.

            A graça e a predestinação foram objeto de numerosas e renhidas discussões entre teólogos católico-romanos e protestantes, entre ortodoxos e heterodoxos.

            Roma entendeu, em oposição a certo fanatismo tacanho, que N. S. Jesus Cristo prometeu a salvação a todos os homens, sem exceção; mas decidiu, contra o pelagianismo (Da Wikipedia: doutrina de convicção dos pelagianos, segundo a qual o homem era totalmente responsável por sua própria salvação e que minimizava o papel da graça divina. De Pelágio da Bretanha.) antigo e moderno e de acordo com a sua política, que a graça é necessária para a salvação, considerando herética a proposição contrária.

            Está claro que os infiéis não podem obtê-la, senão pela conversão à igreja.

            Embora a graça, manancial fecundo no céu e na terra, seja um dom gratuito, dependente da vontade divina, dispões o Vaticano de expedientes vários, e que considera eficazes, para alcança-la e distribui-la, em doses convenientes e para diversos efeitos.

            Conforme doutrinam os teólogos, a graça se divide em habitual, que é permanente e santificante, e em atual, que é interior e exterior, suficiente e eficaz.

            Pode dirigir-se ao entendimento e à vontade; servir de preservativo, acompanhar o ato ou segui-lo, sendo, portanto, preventiva, concomitante ou subsequente...

 *

             Para Deus, o tempo, como nós o concebemos, não existe. Sendo onisciente, Ele conhece o destino de todos os homens.

            Não é nesse sentido que a predestinação figura neste artigo, ao lado da graça, e faz objeto das aludidas questões teológicas.

            Ensinam as igrejas que Deus predestina certo número de almas para a bem-aventurança eterna, cumulando-as de graças especiais. Formam esses mortais o grupo dos escolhidos do Senhor, por ato de sua vontade soberana, destinados, infalivelmente, ao céu, à felicidade eterna.

            A predestinação para as penas eternas teve também apologistas e sectários.

            Se o decreto de predestinação é absoluto e anterior à própria criação das almas, ou se é condicional e posterior a previsão dos méritos é grave questão, que não foi decidida pela igreja romana, continuando aberta entre os teólogos.

            Os reformadores religiosos do século XVI, que adotaram muitos dogmas da igreja papista, ligaram máxima importância aos do pecado original, da graça e da predestinação.

            Pelos Comentários sobre os Gálatas, de Lutero, e pelos Institutos de Calvino, podemos fazer ideia do sistema teológico dos reformadores.

            O homem é depravado e corrupto por natureza. Por si, por seu esforço, não pode salvar-se. Só o consegue pela graça que Deus concede aos eleitos, aos predestinados ao céu.

            Calvino levava as últimas consequências a sentença horrível que pesa sobre a humanidade, merecedora de condenação eterna.

 *

             À luz da Nova Revelação podemos examinar e apreciar essa velha dogmática, que tem pesado sobre a humanidade, estorvando-lhe o desenvolvimento.

            Podemos falar em predestinação e graça, sem dar-lhes a significação e sentido teológicos, sem a intervenção do sobrenaturalismo, que o sacerdócio costuma invocar, porque, arvorando-se em medianeiro, entre o céu e a terra, convém lhe figurar a Divindade como um poder arbitrário...

            Os espíritos progridem através de vidas sucessivas.

            No espaço, recebem instruções de seus guias, firmam resoluções, assumem compromissos, que tem de desempenhar durante a reencarnação. Estão predeterminados os sofrimentos e as provações, como os encargos e as missões.

            Eis aí a predeterminação.

            Podem os encarnados satisfazer os compromissos, como podem falir.

            Cumprindo-os, sabendo suportar as provações, executando a tarefa prometida ou a missão de que se encarregou, o encarnado atrairá influências benéficas, terá o amparo de seus guias espirituais, dos mensageiros divinos.

            Eis a graça.    


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