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quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Sobre um suspiro



Sobre um suspiro
Roque Jacintho
Reformador (FEB) Julho 1970

            Lemos sobre um suspiro medieval. A pequena nota na grande imprensa dizia que grande líder espiritualista, saudoso do amplo domínio com que trazia em cativeiro grande parte do nosso mundo civilizado, deitando um olhar sobre o panorama atual de nossa Humanidade, suspirou profundamente e anunciou:

            - O progresso não conduz a parte alguma.

            Essa afirmação ressuma miopia espiritual.

            O progresso material, embora possa gerar atitudes conflitantes com as Leis Espirituais - conflitantes porque se toma a parte pelo todo -, promove a libertação da criatura, pelo amadurecimento do seu senso-moral.

            São os últimos elos da senzala que se rompem. De submissa a dogmas e preceitos seculares, a criatura sacode-se a si mesma, despertando da hibernação em que se amodorrava, alcançando novas condições para abarcar com mais largueza os fenômenos da própria Vida Eterna.

            Acordamos que o avanço técnico não cria felicidade.

            Coloca, porém, o homem a caminho desse extraordinário encontro com seu mundo íntimo, a fim de torná-lo senhor de qualidades espirituais dormentes.

            Sem a conquista do meio, o homem não se voltaria para dentro de si mesmo, interessado de conquistar-se.

            Quando, pois, se atinge o nível do conforto, do bem-estar, diminuindo a quota de tempo nas atividades mais grosseiras que lhe asseguravam a sobrevivência física - faz-se o tempo de sua espiritualização. Antes, tal ocorrência seria impraticável, porque ele estaria inteiramente empenhado na luta contra o meio, imaturo para autodescobrir-se.

            Tão logo o homem vença a euforia de suas conquistas, asserenando o próprio ânimo, eis que se compenetra que não basta apropriar-se de leis de natureza material, fazendo-se um escravo de suas máquinas e de seus desejos satisfeitos.

            Técnicas são meios e não um fim em si.

            A criatura está segura dessa realidade maior.

            Tão exclusivamente não encontra, porém, nas religiões organizadas, respostas às suas necessidades profundas, deparando com um sacerdócio empenhado em retirar um quinhão de tudo quanto ocorre, na preservação de seu patrimônio, e interessado em garantir-se de que poderá encontrar fórmula mágica para, no tumulto que ocorre nos instantes de alforia, forjar algemas para atrelar a Humanidade aos seus programas particularistas e temporais.

            A técnica não faz mal ao homem. A ausência de evolução religiosa, a falência de autenticidade é que, nesta quadra especialíssima do progresso, distanciam o homem dos templos de fé, imantando as suas esperanças nas retortas dos laboratórios, de onde espera ver surgir a equação dos seus conflitos íntimos.

            Uma pílula para curar insanidade!

            Uma inalação química para produzir um gênio!

            Um programa educacional para suprir o vazio de sua alma ou a explosão de instintos aviltados num mergulhar em apetites grosseiros.

            Drogas anticoncepcionais para sensualismo desenfreado.

            Filhos de laboratório para povoar o mundo!

            Em meio a essa dolorosa experiência de nosso século, o Espiritismo-cristão é a mensagem de luz que atravessa as trevas, convocando o homem para a descoberta de seu mundo íntimo, para a liberação, afinal, de suas forças interiores, a fim de que se refaça o equilíbrio de seus sentimentos, através da integração da criatura em sua verdadeira natureza.

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