O fim da pobreza
por Cristiano Agarido (Ismael Gomes Braga)
Reformador
(FEB) Fevereiro 1943
A pobreza., as privações econômicas,
a miséria são expiações e provas necessárias somente em mundos atrasados,
verdadeiros purgatórios; como o foi a Terra até agora; são dores desconhecidas
em mundos adiantados, onde só habitam Espíritos purificados. Pela evolução
moral e intelectual dos homens, a pobreza desaparecerá da face da terra, porque
o nosso planeta passará da categoria de mundo de expiações e provas, para a
categoria de “mundo regenerador”.
Este ensino dos Espíritos, que vem
sendo repetido há oitenta anos, em múltiplas comunicações, está tendo a
confirmação na progressão material. As descobertas da ciência, os triunfos da
técnica, criando máquinas de produção cada vez mais rendosas, já permitem se
produzam quantidades sempre maiores de todas as coisas necessárias à vida e ao
conforto dos homens, ou, por outras palavras, a evolução intelectual do homem
lhe vai permitindo vencer a pobreza e produzir tanta riqueza, que em certos momentos
já o seu excesso causa perturbações. Igualmente a máquina de distribuição da
riqueza.
Criam-se
novos veículos, novos meios de circulação dos bens por toda a superfície do
planeta. Estabelecem-se assim a solidariedade econômica de todas as regiões
pela permuta rápida e fácil de todos os bens materiais.
Não necessitamos insistir sobre o
aumento da riqueza da humanidade, porque está ao alcance de todos. embora nem
sempre seja empregada para o bem. Por falta de evolução moral, mui frequentemente
o homem emprega para o mal as forças ao seu alcance, causando sua própria
infelicidade, em vez da felicidade. O aumento da riqueza é uma força muitas
vezes usada com egoísmo, ocasionando grandes males. Para nos certificarmos
disso, basta comparemos a quantidade de máquinas empregadas presentemente na
guerra: navios, aviões, tanques, canhões, metralhadoras, com as armas usadas
antigamente. Ver-se-á que a guerra moderna consome uma quantidade de riqueza
com que não poderiam sonhar os guerreiros antigos.
Apreciemos agora o que nos dizem os grandes Espíritos.
Comentando o versículo do Evangelho em que Jesus disse: “Pobres tê-los-eis
sempre convosco, ao passo que nem sempre me tereis a mim”, ditaram eles a
Roustaing, em 1863, precisamente há oitenta anos, o seguinte:
“Estas palavras do Mestre não foram
compreendidas em espírito e verdade.
“No que lhe concerne, ele alude ao
seu aparecimento na terra, aos tempos e à duração desse aparecimento, para o
desempenho da sua missão terrena, acorde aquela duração com as necessidades dessa
missão. Alude também à duração da sua vida, humana ao ver dos homens.
“Os que tomam sempre as suas
palavras do ponto de vista das necessidades humanas, sem se lembrarem de que,
antes de tudo, ele considerava as necessidades espirituais, falsearam estas:
Pobres, tê-los-eis sempre convosco, atribuindo-lhe o pensamento, a afirmação,
tão absurda e falsa, quão fatalmente retrógrada, de que a pobreza material há
de ser sempre, eternamente, apanágio da Terra, da humanidade terrena.
“Falando dos pobres da terra, Jesus
não aludia especialmente àqueles que carecem de bens materiais, mas de todos
quantos se encontram num estado de inferioridade qualquer, que necessita do auxílio,
do concurso, do amparo dos homens de boa vontade. Suas palavras se referem às condições
dos Espíritos, que uns são inferiores a outros em inteligência. Ele, pois, se referia
não só aos que são materialmente pobres, mas também aos que o são moralmente e
sobretudo aos pobres de inteligência.
“No vosso planeta ainda inferior e em via de progresso,
bem como em todos os outros igualmente inferiores, sendo a pobreza, tanto a material
quanto a moral, uma consequência das provações, sempre haverá pobres de uma e outra
categorias, até que esteja concluída a separação do joio e do trigo, isto é,
que a depuração da Terra e da humanidade esteja completamente terminada pela
separação dos bons e dos maus.
“Lembrai-vos, porém, do que já
diversas vezes temos dito: que da elevação de um planeta não decorre o
nivelamento das faculdades.
“Entre vós sempre haverá pobres,
ainda quando do vosso mundo hajam desaparecido tanto a pobreza material, como a
pobreza moral.
Qualquer que seja o grau de
depuração do planeta terreno, aí haverá sempre, num ponto ou noutro, Espíritos
depurados, bons, mas menos adiantados do que outros. Esses são os intelectualmente
pobres, aos quais os ricos em inteligência, em saber, darão com abundância o
que possuem. Já temos dito e não devereis esquecer que, do ponto de vista
intelectual, há sempre, entre os Espíritos, hierarquia,
no tocante à ciência universal, mesmo quando todos tenham atingido a perfeição
moral.
“A pobreza material deixará de
existir na Terra quando dentre vós desaparecerem todas as enfermidades morais
que tendes de expiar renascendo continuamente. Despojei-vos, portanto, dos
vossos vícios, quer advenham da carne, quer do Espírito, que deve dominar a matéria,
pois que, do contrário, os felizes de hoje talvez sejam os pobres de amanhã.
“O desaparecimento, a cessação completa
da pobreza material, de maneira que cada um viva folgadamente do seu labor,
será um sonho enquanto a vossa depuração moral não houver suavizado as vossas
futuras expiações. As associações, as instituições de beneficência que mantendes
são boas, porque provam em vós o desejo de fazer o bem, de socorrer vossos irmãos.
Mas, sem desprezardes os socorros materiais, esforçai-vos por socorrer o moral
dos homens. Podereis então dizer que a miséria material cessará no planeta
terreno, quando dele for expulsa a miséria moral.
“A esse tempo, prestando-se os homens
mútuo e esclarecido auxílio, todos em comum trabalharão na obra comum. Quão
longe, porém está essa era bendita em que haveis de entrar!
“Preparai-vos, não obstante, para ela
e fazei com esse objetivo todos os esforços, organizando, com os corações
cheios de humildade e desinteresse, de justiça, de amor e de caridade, sociedades
para o trabalho de ordem material, de ordem moral e de ordem intelectual. Que os
“ricos” deem abundantemente aos “pobres” trazendo cada um a tais associações o
tributo das faculdades de que possam dispor, a fim de que se espalhem e
desenvolvam a educação e a instrução moral e intelectual, explicando aos homens
e fazendo-lhes compreender: o amor a Deus acima de tudo e o do próximo como
a si mesmos, as maneiras e os meios de praticarem esse duplo amor, de
praticarem, observando a liberdade na ordem e a ordem na liberdade, o máximo de
mutualidade, de solidariedade, de fraternidade, fonte e regra de todos os
direitos e deveres, máximo que se formula nestes termos: um por todos e todos
por um, em todas as associações, de qualquer natureza que sejam - comerciais, industriais,
agrícolas, morais e intelectuais, compreendidas no rol destas últimas as literárias,
as religiosas e as cientificas, em todas as esferas da atividade humana:
individual, comum ou social.” (1)
Como se vê, o caminho indicado pelos
Espíritos é muito diferente do que pretendem seguir os partidos políticos e as
lutas econômicas nas guerras de classe, porque ataca o mal pela raiz. A miséria
moral tem que ser abolida em primeiro lugar, porque a miséria material é apenas
um efeito daquela. Nem poderia ser de outro modo, visto que a reforma apenas
externa seria mera ilusão. Conservando os mesmos vícios, os homens
reconstituiriam sempre os mesmos males. O primeiro desses vícios a combater é o
egoísmo que destrói todo o equilíbrio social. Fora de dúvida, porém, está que a
pobreza desaparecerá da terra, E com a pobreza desaparecerão muitos outros
males: ódios, lutas, opressão, traições, assaltos, prostituição, escravização,
mercantilismo, jogo, suborno, fraudes, etc., etc.
A pobreza moral ainda é grande mas a
pobreza material já vai desaparecendo. Possivelmente, com o fim da presente
guerra (*) igualmente se aproximará
o fim da miséria material. Todas as energias, todos os elementos, toda a inteligência
que estão produzindo material de guerra passarão a produzir nas indústrias de
paz, e haverá o enriquecimento de todas as coisas necessárias à vida e ao bem-estar
da humanidade. Será chegado o fim da pobreza. O mundo estará rico, porém, não
feliz. A felicidade tem que ser conquistada mais lentamente. O enriquecimento do
mundo será somente um passo a mais na conquista da felicidade.
(1) Os
Quatro Evangelhos, de J. B. Roustaing. Vol. III, pág. 385/7
(*) Do
blogueiro: Nosso prezadíssimo Ismael Gomes Braga colocou-se muito otimista
neste trecho de sua bela mensagem. Estamos em 2022 mas ainda muito longe do
cenário por ele descrito como possível para a nossa atualidade.
A felicidade deve ser conquistada lentamente.
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