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segunda-feira, 1 de julho de 2013

08. 'É preciso estudar mais...'


08) É preciso estudar mais
 a Doutrina Espírita
por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Setembro 1959



            Onde quer que se estude e se busque a interpretação correta da Doutrina Espírita, com a consequente exemplificação de seus postulados, haverá uma orientação sadia, conducente ao desenvolvimento do Espiritismo. Por isto, é preciso formar doutrinadores que não se empolguem por fantasias oratórias, mas que permaneçam adstritos às necessidades do esclarecimento do povo, esmiuçando os textos de Kardec, explicando-os com simplicidade, clareza e poder de síntese.

            Espiritismo não é uma superstição: é uma doutrina racional, que se baseia na lógica, na realidade da vida e, sobretudo, na comunhão da vida física com a vida espiritual. Não se é espírita somente por receber "passes" ou frequentar sessões práticas. É-se espírita pela exemplificação evangélica, pela observância dos preceitos doutrinários do Espiritismo, pela realização permanente do esforço destinado à melhoria moral do indivíduo que aceita e procura pôr em prática esses preceitos, interessando na obra de soerguimento todos aqueles que com ele se põem em contato. De nada adianta dizer-se alguém espírita, se a sua conduta e suas obras não comprovem a veracidade dessa afirmativa. O espírita não tem outra maneira de demonstrar que o é, a não ser pela exemplificação cotidiana.

            Muitas vezes um orador sobe à tribuna de um centro espírita e, como tem facilidade de expressão, fala muito, fala bonito, criando imagens que extasiam os ouvintes. Todavia, depois de haver falado trinta ou quarenta minutos, pouco terá dito, pela falta de objetividade doutrinária em sua oração. Há mais forma do que essência no seu arrazoado. Tudo espremido, quase não dá sumo... Porquê? A resposta não é difícil: porque o orador não tem sólido conhecimento doutrinário ou se preocupa muito mais consigo mesmo do que com a obra espírita.

            A preparação de doutrinadores é tarefa de grande importância dentro do Espiritismo. Conhecer o Evangelho, os livros de Allan Kardec, de J. B. Roustaing, de maneira a poder transmitir aos ouvintes, com plena segurança, as prodigiosas lições que contribuem para a melhoria do caráter humano, isso, sim, será obra espírita. Estudar esses livros, assim como outros de autores consagrados, como Léon Denis, Delanne, André Luiz, Emmanuel, Padre Alta, Irmão X, Flammarion, será seguir caminho certo para a formação ou consolidação da cultura espírita.

            Dentro do Espiritismo religião, o Evangelho do Cristo ocupa lugar preeminente. Os benefícios que a Humanidade vem alcançando com o Espiritismo Cristão provam a realidade da nossa crença como força capaz de levar o homem a um estágio superior de vida moral, sem esquecer os seus problemas terrenos, sem divorciar-se das necessidades e conveniências inerentes à vida física. O Espiritismo prepara a criatura humana para viver bem na Terra e lhe abre o caminho para a vida espiritual a que, um dia, terá de regressar.

            Allan Kardec aconselhou se instituíssem nos lares as sessões de estudo doutrinário do Espiritismo e que se fizesse também o culto do Evangelho segundo o Espiritismo. Numerosos são, hoje, aqueles que seguem essa prática louvável, superiormente orientados. O Espiritismo precisa de ser fundado em todos os lares, para que todos os lares se habituem ao estudo dó Cristianismo puro, do Cristianismo redivivo, do Espiritismo Cristão, sem dogmas, sem ritos, sem imagens, mas absolutamente Espiritismo e absolutamente cristão.

            Muitos se queixam de mistificações e embustes e os adversários do Espiritismo estão vendo sempre, mesmo sem provas, charlatanices e tapeações. Ora, ninguém mais do que os espíritas têm interesse em descobrir e eliminar as mistificações de falsos médiuns ou de médiuns que se prestam a pantomimas dessa ordem. Às vezes, porém, a mistificação é involuntária, porque os indivíduos acusados de praticá-la são iludidos também pelo animismo. Supõem estar recebendo Espíritos, quando apenas servem de veículos a manifestações simples de animismo. Desta maneira, será necessário que se aja com tolerância e boa vontade com eles, esclarecendo-os, sujeitando-os a um controle superior por meio de guias capazes de restabelecer a ordem natural dos fatos. Não é difícil que, em alguns casos, o animista, que pode ser um médium ainda não desenvolvido, se transforme num excelente trabalhador da causa espírita e a sua peculiaridade animista poderá também ser controlada, educada, conduzida a uma situação tal que se torne benéfica. Mercê de um "tratamento" contínuo em sessões mediúnicas seguramente dirigidas, é possível "curar" o animista, que, recuperado para o bom serviço no Espiritismo, poderá ter oportunidade de prestar serviços à Causa.

            Aconselhamos, portanto, que, mesmo nos casos de mistificação, convirá não agir precipitadamente, porque poderá tratar-se de uma manifestação de animismo e, nesta hipótese, toda a cautela será aconselhável. A notável obra de Bozzano - "Animismo ou Espiritismo?" e o excelente livro de Aksakof - '.'Animismo e Espiritismo" devem merecer a atenção dos estudiosos. O Dr. Aksakof foi homem de sólida cultura, dotado de uma probidade inatacável. Cientista de renome, era, além disto, um extraordinário e nobre caráter. Suas lições devem ser estudadas com carinho. E não se acuse ninguém por ser vítima da ilusão animista. Mediunidade é uma coisa, animismo, outra. Todavia, há sempre uma certa correlação entre ambos. O espírita fortalecido no conhecimento da Doutrina de Kardec não se equivoca tão facilmente no exame desses casos, qual sói acontecer com aquele que procura orientar-se apenas por sua "intuição". O indivíduo dotado de grande sensibilidade é, geralmente, médium. E o médium pode ser vítima do animismo, sendo, neste caso, o primeiro a ser iludido, mas não ludibria voluntariamente os que acreditam nas suas manifestações. Submetido a "tratamento" em sessões mediúnicas adequadas, sob a orientação espirítico-evangélica de um diretor de trabalhos bem orientado, poderá libertar-se das pseudomanifestações mediúnicas, desenvolver-se normalmente e vir a ser prestimoso médium.

            O Espiritismo não é uma religião para ser seguida cegamente. Não tem dogmas nem sacerdotes profissionais interessados em fazer que os profitentes sejam autômatos e fanáticos. Ao Espiritismo interessa que todos os que o aceitam se esclareçam e façam uso do discernimento que Deus costuma dar a todas as criaturas. Não deseja o Espiritismo que os espíritas se tornem presas da superstição. Por isto, Kardec aconselhou sempre o estudo da Doutrina como a primeira condição para alcançar a liberdade dentro do Espiritismo.

            Incrementemos o culto espirítico-evangélico nos lares, sob orientação segura, e os benefícios abençoarão aqueles que se devotarem santamente a esses esforços. Procuremos. formar doutrinadores esclarecidos, doutrinadores que conheçam realmente a Doutrina espírita e procurem disseminá-la sem fantasias oratórias nem literárias. A unificação espírita será melhormente mantida através do estudo da Doutrina e de sua interpretação legítima, que é dada pela Casa Máter do Espiritismo, que é a Federação Espírita Brasileira. Unificar mais e mais o trabalho doutrinário, para que as discrepâncias de interpretação, se houver, sejam eliminadas, é trabalhar para o gigantesco trabalho de consolidação do Espiritismo no Brasil. Nestas condições, merecerão todos, mais do que nunca, as luzes maravilhosas de Ismael, Espírito que vela pelo progresso espiritual deste País.



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