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terça-feira, 21 de agosto de 2012

11. 'Amor à Verdade'


11
“Amor à Verdade”
por Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927


Provas e Expiações

            “Alegra-te com a dor - sinal da misericórdia divina,
 prenuncio da bem-aventurança eterna.”


            Achar felicidade até na dor é conhecer a justiça de Deus e caminhar para Ele.

            Sendo a reencarnação um dos meios concedidos ao espírito para seu aperfeiçoamento, e havendo a lei de ser cumprida - “sem faltar nem um i nem um til” - toda infração tem a sua consequência de feitio que, nas vidas sucessivas, reparamos os erros cometidos e sofremos conforme aos outros fizemos sofrer.

            Não raro se encontram pessoas que maldizem da sorte e, sem resignação, revoltam-se com a dor, mal compreendendo que o Pai é justo e não deixa padecer o filho senão para despertá-lo e mais rapidamente o elevar. “A dor é como uma asa dada à alma escravizada pela carne para ajudá-la a desprender-se dela e subir mais alto.”

            Sofrer resignadamente é amar a Deus, é prontificar-se a pagar uma dívida dentre as muitas cumuladas há séculos.

            De ver está, contudo, que, dentro da lei, podemos e devemos procurar alívio para os nossos males, a fim de que nos possamos empenhar nas lutas nobres e fecundas da existência, a fim de que possamos trabalhar e progredir. Entregar-se ao padecimento sem o esforço, passivamente, é neutralizar as próprias faculdades, é estacionar - o que significa regredir.

            A dor é providencial; as provas e expiações tem um fim corretivo: são remédios, que não castigo, auxiliares do nosso aperfeiçoamento. Sem desconfiarem que nos curam, dão no los a beber os espíritos inferiores.

            Presas ainda do ódio, sedentos de vingança, como que disparam contra nós as mesmas setas com que outrora os ferimos também. Verifica-se muita vez a pena de Talião; arcamos precisamente com o que a outrem irrogamos.

            Por agora, aqui paramos.

            Segue um ditado em que o nosso Guia sobremodo elucida o assunto.

            “Paz de Maria seja com o meu filho. É justo e natural que tenhas o conforto de um amigo do espaço para amenizar as provas e expiações terrenas.

            “O meio, como podes avaliar, está repleto de individualidades maldosas, que nem vislumbram o infinito amor do Criador pela criatura.

            “A Terra vai em franca transformação. E os obreiros do serviço mais pesado e rude, quem são senão os infelizes? Eles que, surdos às inspirações e governados pelos maus sentimentos, vão sem consciência desbastando, a golpes de dor e decepções, o terreno onde se erguerá o grandioso edifício da paz!

            “É incalculável o tempo que medeia entre a primeira vida na terra e os dias atuais.

            “A evolução é lenta, e só ao cabo de séculos consegue uma alma conhecer-se a si mesma.

            “Não podes claramente compreender a criação das almas; porém elas emanam de Deus. A vida é a suprema lei do Universo; a harmonia da criação consiste no trabalho contínuo: nunca a inação constituiu ventura; não a conhecem, e menos a querem, os mesmos que nada tiveram ou tem para resgatar na Terra.

            “Assim, bem podes calcular o sem-conta de espíritos que povoam a Terra e a vastíssima tarefa, que há de transformá-la, alçando-a de mundo de expiação a residência próspera de regenerados.

            “Se os povos são impulsionados pelos Espíritos; se qualquer ofensa às leis eternas tem a sua reação, pouco é de admirar a permanência aqui de elementos que, para mais não servindo ainda, em vista do seu atraso mesmo, são aproveitados como buriladores de quantos no passado delinquiram.

            “Não descontinua a criação; vai-se a evolução operando; vão as provas surgindo e os espíritos regenerando-se, até que as gentes se tenham lavado de todas as culpas e provado as suas virtudes. Assim nos outros mundos - outras tantas escolas mais ou menos adiantadas.
           
            “Muitos obreiros deixam de trabalhar por falta de auxílio; mas a lei do trabalho é universal, e em quanto escasseiam recursos para certos fins de caráter geral, aproveita-se o tempo em estudos e aperfeiçoamentos. Tudo se utiliza na vida, assim a dor como a alegria, em pró de qualquer que deseje evoluir.

            “Não é - disso tens sobejas provas - não é tão somente a prece o que produz beneficio; mas a prece unida à vontade, ao amor, à perseverança.

            “Não podes imaginar qual seja, sobre qualquer melhoria que se intente operar, a influência, o poder da vontade de um espírito que ainda encarnado trabalha na divina seara.”

            Segundo se colhe dessa leitura, é o trabalho uma das leis imutáveis; perene a obra do Criador; os grandes, amparo dos pequenos; os atrasados, aguilhão dos pecados e matéria de futuras lapidações, por isso que o escândalo tem de dar-se, mas infeliz daquele por onde vem o escândalo, porque pagará também.

            Sublime disposição, que tudo utiliza, tanto o bem como o mal, e nas mais impressionantes  discordâncias descobre a mais bela e inigualável harmonia.

            É o que não deixa de pensar todo espírito quando, menos ingrato à dor e chegado a certo ponto da sua trajetória, após maior ou menor número de existências, começa de sentir a satisfação de quem plenamente saldou  ponderosas dívidas e, trocando de ambição, não quer para si senão para poder dar mais. Todo o seu esforço, toda a sua inteligência, toda a sua atividade é pela humanidade e para Deus.




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