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quarta-feira, 7 de março de 2012

O Descanso do Líder

Antônio Wantuil de Freitas



inReformador’ (FEB) Outubro 1970

            Após ingentes e incessantes esforços despendidos a serviço da causa de Ismael, que lhe custaram o esgotamento quase completo de seu organismo físico, Antônio Wantuil de Freitas[1], septuagenário, não pode, desta vez, atender aos apelos que lhe foram feitos pelos confrades e renunciou à sua candidatura à Presidência da Federação Espírita Brasileira. Seu antigo Vice-Presidente já lhe ocupa o lugar eleito que foi na reunião do Conselho Superior de 22 de Agosto último.

            A nova Diretoria da Casa de Ismael não pode deixar sem um registro especial a passagem de Wantuil de Freitas pelo seu mais alto cargo. Foram 27 anos duma jornada ardorosa, durante a qual não faltaram, desde o início, todas as modalidades de luta, principalmente as que decorriam da crise internacional por que passava o mundo.

            LUIZ OLIMPIO GUILLON RIBEIRO desencarnava em 1943 e era sucedido pelo companheiro de Diretoria. Não foram nada tranquilos os primeiros passos. A Guerra de 39 ainda ía em meio e refletia sobre a civilização atônita suas consequências imprevisíveis. Plasmava-se, ante o trágico processo, uma renovação social, política, econômica, cultural, que não se sabia aonde conduziria. Como vencedores ou vencidos, os povos aliados,  de cujo bloco o Brasil participava, afetariam forçosamente uma nova realidade histórica, fruto das conquistas científicas, tecnológicas e sociais, tais as que todo após-guerra enseja .

             Dificilmente se arriscaria antever em que termos se colocariam alguns problemas primordiais do homem, como, por exemplo, o religioso e o moral. Mas, o Espiritismo não era nem é - todos sabemos - apenas mais uma religião e por isso mesmo guardávamos a certeza de que ele sobrenadaria ao tumulto das dúvidas que as novas diretrizes da Guerra avizinhavam. Importante, porém, era saber como e através de quem.  Antônio Wantuil de Freitas assume a Presidência da FEB, órgão de cúpula do Espiritismo no Brasil, talvez no mundo. Se os ânimos estavam desgovernados era preciso reorientá-los; se a desesperança estava medrando,  era preciso compensá-ia; se a religiosidade estava declinando, era preciso galvanizá-la. Outras religiões, outras filosofias davam mostra de cansaço, esgotamento, esvaziamento. A Guerra é um fantasma repleno de paradoxo que dispara o progresso e pulveriza os sentimentos, que aprimora a matéria e alui a metafísica. Restava porém uma última e bruxuleante centelha: a do Espiritismo, cuja propaganda e propagação estavam agora em mãos do farmacêutico mineiro Antônio Wantuil de Freitas. Com inteligência, com labor, com dedicação e acima de tudo com a renúncia da própria vida, lançou-se à tarefa e dela vimos nascer, a par do término da Guerra, em 45, o primeiro grande esforço com vistas à recuperação da fé, começado e promovido dentro das nossas próprias fileiras: o Pacto Áureo, assinado em 1949.

            Talvez isso, apenas isso bastasse para marcar a passagem de Wantuil de Freitas pela Presidência da FEB. Mas não ficou aí seu empenho. Um "coup d'oeil", sem maiores detenças, sobre a sua administração, permite-nos o reqistro de pelo menos mais três iniciativas profícuas: o lançamento dos primeiros selos espíritas do mundo, a concretização da sede de Brasília, e a consolidação do Departamento Editorial da Federação.

            Cansado, idoso, combatido, adoentado, Wantuil de Freitas renuncia à sua reeleição e vê seu Vice-Presidente substituí-lo. Ele sabe que o clima mundial não é muito diferente daquele que comprometia o ano de 1943. Sabe também que a hora é igualmente dramática e que talvez não se tenha o vigor e a acuidade que ele teve para contornar as crises do novo e atual ciclo histórico. Mas sabe que legou meios para suprir as deficiências dos seus sucessores e que, apesar de tudo, tanto quanto ontem, hoje, amanhã e sempre, Ismael estará atento à sua missão e intercederá junto ao Cristo para que a Casa-Máter do Espiritismo continue a ser o fanal de amor e de paz a nortear o mundo do Terceiro Milênio, através da consolidação do trabalho de fé e da edificação da moral cristã.

            Neste último sentido, Antônio Wantuil de Freitas pautou todo o seu esforço. Cabe apenas dar-lhe continuidade.

    



[1] Do blogueiro: Seu filho, Zêus Wantuil, segue entre nós. Lamentavelmente, não encontramos uma só foto deste trabalhador que tanto contribuiu para a Cultura Espírita através de seus maravilhosos artigos publicados em ‘Reformador’, entre outras tantas atividades.



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