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segunda-feira, 5 de março de 2012

19 'Doutrina e Prática do Espiritismo'



19      ***


            Por esses exemplos, que poderíamos multiplicar indefinidamente, se o intuito deste livro não fosse antes doutrinário que de vulgarização de fatos, (1) se vê que não exageramos, afirmando que não está por fazer a prova da sobrevivência.

            (1) Não deixemos, todavia, de mencionar ainda, entre as comunicações de além túmulo, assinaladas por um evidente cunho de identidade, em primeiro lugar, as que em grande número se encontram na obra de E. BOZZANO, DEI CASI D'IDENTIFICAZIONE SPIRITICA, rigorosamente documentada, e em seguida os ditados recebidos pelo médium Fernando de Lacerda e publicados, em três volumes, sob o titulo Do PAIZ DA LUZ, nos quais o estilo próprio de conhecidos escritores, como Eça de Queiroz, Camillo Castello Branco, Júlio Diniz, A. Herculano, João de Deus e tantos outros constitui um testemunho pessoal e inconfundível de seus invisíveis autores. 
                Na mesma categoria se devem incluir os magníficos ensinamentos contidos na obra ROMA E O EVANGELHO, particularmente os subscritos pelo evangelista João, e ainda os de que se compõe o volume JESUS PERANTE A CRJSTANDADE, ditado pelo espírito de Bittencourt Sampaio .

            O valor dessa prova, cientificamente considerada, poderá ser apreciado à luz de um tríplice critério: em relação ao numero dos fatos, à sua qualidade e, finalmente, à honorabilidade e competência dos observadores, ou por outros termos: é preciso, em primeiro lugar, que a massa dos fenômenos observados seja assaz considerável para constituir um rígido suporte da doutrina, que tem por objeto a ciência da imortalidade, assim documentada seguida, que os fatos verificados revistam um cunho de autenticidade positiva, demonstrando a intervenção de entidades extraterrestres ou, como o dizemos em nossa terminologia, de espíritos desencarnados, com exclusão das hipóteses de fraude, sugestão, individual ou coletiva, e subconsciência mediúnica, automatismo psicológico inclusive; e por último, que haja - da parte dos observadores o verdadeiro critério cientifico, duplicado do espírito de análise e de crítica, isenta de ideia preconcebida e de credulidade, em condições, portanto, de se não deixarem tais observadores iludir, sabendo bem observar, nesse tão obscuro e complexo domínio.

            A primeira dessas condições - já o dissemos - se acha satisfatoriamente preenchida. O número de fatos, quer espontâneos, quer provocados, de cinquenta anos para cá observados, por assim dizer, em todas as latitudes do planeta - pela menos entre todos os povos do ocidente -- é de molde a representar o sólido apoio de que ha mister a doutrina, que faz da imortalidade a sua base.

            Dentre esses fatos, nem todos, -  força é confessar - a mingua de uma rigorosa inspeção científica, podem ser atribuídos à intervenção de desencarnados, neles podendo algumas vezes reconhecer-se a intervenção, pelo menos parcial, dos elementos que apontamos - automatismo, sugestão e subconsciência (excluídos os fenômenos fraudulentos, que não devem ser tomados em consideração). Escoimado, porém, dos casos duvidosos o conjunto dessa fenomenologia hemisecular, a parte restante apresenta os desejados caracteres de autenticidade, em condições de demonstrar que o espírito, que vive no homem, sobrevive à decomposição do corpo e pode manifestar a sua presença ostensiva junto aos que deixara neste mundo.

            Dizemos, propositalmente, ostensiva, porque a ação oculta das entidades espirituais extraterrestres, sem que seja dos homens suspeitada, é - e mais adiante nesta obra, teremos ocasião de o demonstrar - muito mais constante e generalizada do que ordinariamente se supõe.

            Resta indagar se a terceira condição para o valor da prova da sobrevivência se acha do mesmo modo preenchida, isto é, se aos observadores de tais fenômenos não tem faltado o requisito de idoneidade indispensável.

            A nosso ver, essa idoneidade não reside exclusivamente na posse de um diploma científico, nem para ela se requer indispensavelmente um renome conquistado nos prélios da ciência. Há indivíduos dotados de um espírito de ponderação e de bom senso, adestrados no estudo e na meditação, que possuem muito mais pronunciada capacidade de observação e um critério analítico muito mais seguro que certos diplomados. Ao demais, como vimos, com o professor Charles Richet (1), poucos homens possuem esse raro talento, esse dom de observação, que não é privativo de nenhuma classe e que permite encontrar e reconhecer o que se desconhece.

                (1) Cap. II, págs. 16.

            Pois bem, entre os observadores dos fenômenos espíritas, mesmo nos casos que ainda há pouco mencionamos, não têm faltado homens de culta inteligência e claro descortino, diplomados ou não, que à sua análise se tenham levado esse curso de aptidões que conferem ao seu depoimentos requerida autoridade.

            Mas - que dizemos? - nem mesmo cientistas de consagrado e universal renome têm recusado, uns a veracidade dos fenômenos, outros, além dessa veracidade, ao conjunto dos incomparáveis ensinamentos doutrinários do Espiritismo, o testemunho de sua convicção publicamente confessada. Incrédulos ao começo, terminaram por se render á evidencia.

            Por mais que nos queiramos subtrair, como argumento à sugestão dos grandes nomes, como dizíamos atrás, não há remédio senão reportar-nos a alguns deles.

            Lembraremos, em primeiro lugar, que o professor J. Hyslop, da Universidade de Colúmbia, observando os fatos que se produziam com o concurso da notável médium Ms. Piper, ao fim de uma longa série de experiências, tornou-se um convencido. Levava ao começo o excesso de precaução de conservar-se incógnito ao ponto de se apresentar nas sessões do doutor Hodgson com uma máscara no rosto, a fim de não saber o médium quem era o interlocutor.

            Tais foram, porém, as provas de identidade que obteve de espíritos seus conhecidos, entre eles de seu próprio pai, que com este por fim conversava desembaraçadamente, por aquele médium, "com tanta facilidade como se estivesse vivo."

            A seu turno, o próprio doutor Richard Hodgson, vice-presidente da Sociedade de Investigações Psíquicas (seção americana), cognominado, por sua sagacidade em desmascarar vários médiuns, "o caçador de fraudes" (fraud Hunter), chegou em tais experiências ao seguinte resultado:

            "Há doze anos - disse ele - que estudo a mediunidade da Sra. Piper, No começo eu só queria nela descobrir a fraude. Entrei em sua casa profundamente materialista, com o intuito de a desmascarar. Hoje, digo simplesmente : eu creio!... A demonstração me foi feita de modo a afastar a possibilidade sequer da menor dúvida."

            Não menos concludente é o testemunho de Sir Oliver Lodge, o ilustre reitor da Universidade de Birmingham (Inglaterra) -e membro da Sociedade Real de Londres, que em reunião especial da aludida Sociedade de Investigações Psíquicas, a 30 de janeiro 1908, comunicando o resultado de observações feitas com outros colegas, mediante o concurso mediúnico das Sras. Piper e Verrall, afirmava a convicção de haver conversado com os espíritos de membros desencarnados daquela associação, como Frederic H. Myers, Edmond Gurney e outros, acentuando :

            "Vemo-los responder às diversas perguntas de um modo característico e próprio de suas personalidades. Exigimos severas provas, tão difíceis de imaginar como de obter." E acrescenta: "Comunicações cruzadas (1), isto é, parte por um médium e parte por outro, foram obtidas, não podendo nenhuma dessas partes por si só, separadamente, ser compreendida pelo médium .

                (1) Em inglês, cross-correspondence, processo ideado pelos próprios espíritos e que consiste em ditarem um trecho truncado de comunicação a um médium e o trecho restante, que lhe completa o sentido, a outro médium.

            "Isto nos parece provar que a mesma inteligência dirigiu os diversos médiuns, e a linguagem  caraterística do  falecido parece me provar suficientemente a continuação da atividade intelectual daquele indivíduo.
                "Se, além disso, nós obtemos dele um trecho de critica literária ia no seu estilo peculiar, então a prova, já convincente, se torna esmagadora." (2).

            (2) Testemunho mais recente, divulgado muito depois de terem sido escritas estas páginas e coligidos esses depoimentos, é o que deu a público esse mesmo Sir O. Lodge no livro intitulado RAYMOND - nome de um filho seu, tenente do exercito, morto em combate na França, durante a conflagração europeia - no qual vem relatadas as numerosas manifestações desse espírito e consignadas interessantes informações acerca da outra vida e de suas peculiaridades.


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