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quarta-feira, 21 de setembro de 2011

'Educar e Proteger'


Educar e Proteger
            
            Não argumentes com o que julgas serem as injustiças do mundo, porque tais injustiças, apenas aparentes, podem ser somente fantasiosas ou precárias, e por isso não influem tanto quanto parecem, e tornam seus autores responsáveis por todas as suas consequências.

            Ponderas-me, contudo, que tudo isso é muito belo, porém quase impraticável neste mundo. Tens razão.

            Para quase todas as pessoas, a vivência integral desse ideário ainda é deveras impossível. Nossa taxa de animalidade permanece muito alta, e as próprias condições de nossa vida planetária ainda não comportam semelhante realidade. Como se diz, a Natureza não dá saltos, nem se pode escamotear impunemente a verdade. Sublimação não se improvisa e qualquer progresso só lentamente se conquista, pouco a pouco, passo a passo, dia a dia, sempre ao preço de custoso esforço.

            É justo reconhecer que já avançamos bastante em nossos hábitos pessoais e sociais, embora continuemos na essência sempre os mesmos. Apesar dos vernizes de nossa cultura mais requintada, prosseguimos vivendo, uns com os outros, como animais ferozes, disputando espaços, precedências, regalias, vantagens e direitos, utilizando todos os recursos da sagacidade e da violência para satisfazer necessidades e caprichos.

            Nesse estado de guerra generalizada conflitam-se pessoas e países, tribos e nações, famílias e empresas, raças e religiões, invocando costumeiramente os princípios mais nobres e mais santos para mascarar e justificar as atrocidades, injustiças e ignomínias que perpetram nas selvas, nos campos, nas cidades, nos templos e nos lares.

            As diferenças são, porém, consideráveis e notórias entre os grupamentos e as pessoas, revelando os mais diversos graus de evolução que caracterizam indivíduos e coletividades. Nesse caldeirão de desigualdades, onde todos necessariamente são forçados a conviver, as dificuldades de afirmação dos melhores são inevitáveis e vultosas.

            Mas é esse o plano superior da evolução, que obriga os mais fortes a conduzir os mais fracos, os mais sábios a ensinar aos menos experientes, e os melhores a aprimorar os mais rudes.
            Situamo-nos, na verdade, numa posição intermediária na corrente da vida, entre os que estão acima e os que estão abaixo de nós, entre os irmãos maiores que nos educam e protegem, e os irmãos menores que o Pai, na sua sabedoria e no seu amor, nos impele a educar e proteger.
           
 Letícia
por Hernani T. Sant’Anna
inEm Busca da Verdade” (1ª Ed ‘Auta de Souza’ – 1996)



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