Rei dos Judeus
por Epiphanio Bezerra
Reformador
(FEB) Fevereiro 1943
... "esses homens ainda. vivem na
Terra, mas em corpos imortais; e, desconhecidos, vão de um lugar para outro do
mundo, trabalhando sempre para o direito, protegendo o inocente, guardando o
desprotegido e aliviando o sofredor. Outros mais elevados estão além do alcance
da morte, existem no invisível." – W. L. Garver
Sempre se me afigurou estapafúrdia essa concepção
desarrazoada de um povo privilegiado e eleito por Deus, à semelhança de determinadas
religiões de nossos dias, a imparem de presunção e santidade, em detrimento das
demais. Pois, se “Deus não faz acepção de pessoas", como atribuir tamanho
despautério de parcialidade ao Divino Absoluto?!
Desde a eternidade dos tempos, o
orgulho e a presunção perderam a humanidade, atirando-a ao abismo insondável do
sofrimento reparador. Essa a razão por que o povo judeu ainda hoje não quis compreender
que isso de “escolhido e privilegiado” de Deus é simplesmente um simbolismo,
como tantos outros das sagradas letras; que, admitir um povo eleito, seria
admitir um Deus parcial. tão apaixonado e defeituoso quanto o homem da terra. E
tudo culminaria no absurdo das religiosidades amorais.
Povo judeu, em espírito, é pura e
simplesmente símbolo da Humanidade terrena, como Jerusalém é símbolo do planeta
Terra. E Jesus Cristo, o seu Diretor e Governador, "cujas saídas são desde
os tempos antigos, desde os dias da eternidade” (Miqueias, 5:2), isto é, as
suas aparições tangíveis, na terra em relação com os homens, vêm desde a formação
do planeta.
Também não há outra interpretação àquele
"Rei dos Judeus", inspirado a Pilatos, confirmando as palavras do Divino
Mestre: “Tu o dizes: eu sou Rei” não como entendem os preconceitos dogmatizantes
dos homens; mas, Rei dos Judeus no verdadeiro sentido de Diretor e Governador
Espiritual do Planeta Terra.
O Velho Testamento é um repositório de
verdades ainda ignoradas pela maioria dos homens. Ali estão palpitantes as provas
das atividades, diretas e indiretas, do Cristo de Deus, guiando e protegendo o “seu
povo” - todos os homens, onde quer que ocasião se lhe ofereça, mesmo os não “escolhidos
e eleitos”, como, por vezes, a Nabucodonosor (Daniel, 4: 1 a 3, etc.), ora em
pessoa, aparecendo a Moisés, ora., por seus prepostos, a Moisés e outros, em Israel,
até a sua longa tangibilidade permanente, entre os homens, na sua missão
redentora e gloriosa. ensinando-lhes a viver, a amar, a perdoar e a morrer.
E, neste instante, vêm-nos à mente
para cair da pena a repisada arenga: “Cristo seria um embuste e farsante, se não
tivesse tido um corpo igual aos dos homens. Mistificador! Ensinar a resignação
e o sofrimento. quando não teve um corpo de carne para sofrer.” Pois, se ele
comia e bebia, como todos os mortais!?
O Velho Testamento responde a essas
objeções infantis, sem precisarmos recorrer ao Novo: “Depois apareceu-lhe o
Senhor nos carvalhais de Manre, estando ele, Abraão, sentado à porta... levantou
os olhos, e olhou e eis três varões estavam de pé juntos a ele. Vendo-os ...
inclinou-se à terra e disse:
Meu Senhor... traga-se agora uma pouca
d’agua e lavai os vossos pés... e trazei um bocado de pão... E disseram: Assim
faze como tens dito. Abraão... tomou uma vitela tenra e boa... e tomou manteiga
e leite preparados... e comeram...” (Gen., 18:1 a 8).
Não forçaríamos muito o entendimento
destes versículos, se disséssemos que o Senhor Jesus, fazendo-se acompanhar de
dois de seus prepostos, visita Abraão e com ele faz um repasto. E, porque, sendo
três os visitantes, Abraão só põe em evidência um deles, chamando-o de “Meu
Senhor”? Não teria sido esse mesmo o “Senhor” de quem Abraão se afirmou “servo”,
quando lhe aparecera com o nome de “Melquisedec, sacerdote do Deus Altíssimo”? (Gen.,
14).
No decurso dessa visita a Abraão, o
Senhor anuncia a destruição de Sodoma, onde residia Lot, por quem Abraão intercede.
Retirando-se o Senhor, os dois outros visitantes se dirigem à Sodoma, ao encontro
de Lot: “E vieram os dois anjos a Sodoma...” e vendo-os Lot, levantou-se e
inclinou-se com o rosto em terra... e porfiou com eles... Fez-lhes banquete, e
coseu-lhe bolos... e comeram. E antes que se deitassem... então disseram
aqueles varões (os dois anjos) a Lot: Nós vamos destruir este lugar, o seu
clamor tem engrossado diante da face do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo.”
(Gen., 19:1 a 13).
Aí ficam os esclarecimentos precisos:
O Senhor Jesus, Diretor e Governador do planeta, visita Abraão, avisando-o de
seus propósitos, afasta-se em seguida, enquanto os seus dois prepostos se
dirigem a Sodoma para prevenir Lot, a quem fazem ciente da incumbência de “destruir
aquele lugar, por ordem do Senhor”.
Esses Espíritos, em seus corpos
tangíveis comem e bebem e são hospedes de Abraão e de Lot, como qualquer
mortal, satisfazendo mesmo aos mais comezinhos preceitos de higiene pessoal,
como ensinamento para os homens e prova de que tudo quanto se haveria de dizer
a respeito do Mestre Excelso se cumpriria a seu tempo, conforme mais tarde Lucas
afirmaria: "São estas as palavras que eu disse estando ainda convosco:
Que convinha que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés,
e nos profetas, e nos salmos” (Lucas, 24 :44), e em nossos dias na
revelação dada a Roustaing.
É preciso ter a paixão da cegueira
para se não querer enxergar a verdade à luz meridiana: Três varões do espaço
visitam Abraão e somente um deles merece o tratamento particular de “Senhor”, cabendo
aos dois restantes a execução das determinações do Alto, conforme ensinos dos
próprios Espíritos a Kardec, em seu livro.
E não iremos muito adiante, talvez,
sem que consigamos saber quais os dois prepostos executores dessas “determinações
do Alto”. Não seria demasiada temeridade dizer-se serem os Anjos Miguel e Gabriel,
“assistentes à face do Senhor”, conforme Daniel, caps. 8:16, 9:21, 10:13, etc.,
confirmado por Lucas, 1.
Múltiplas são as passagens das Escrituras,
por onde se prova que Jesus Cristo é o próprio “Senhor” insistentemente invocado
pelo povo de Israel, falando a Moisés, e dado mesmo como o próprio Deus em
pessoa, na linguagem dos profetas israelitas: “E tu Belém... posto que pequena...
de ti me sairá o que será Senhor em Israel, e cujas saídas são desde os tempos
antigos, desde a eternidade.” (Miquéias, 5:2). “Eis que eu envio o meu anjo que
preparará o caminho diante de mim... vós, filhos de Jacó, não sois consumidos.”
(Malaquias,3:1 a 6).
Jesus, o enviado de Deus, seu Verbo
na Terra tem autoridade sobre todos, motivo por que: “Senhor, tu és mais formoso
do que os filhos dos homens... por isso Deus te abençoou para sempre. O teu trono,
oh! Deus, é eterno e perpetuo... Tu amas a justiça... por isso Deus, o teu Deus
te ungiu com o óleo de alegria, mais do que a teus companheiros.” (Salmos 45).
Por sua vez, envia o seu anjo - o Batista, visto como Ele é o Senhor em Israel.
Também Davi, como tantos outros em Israel, tão grande sente a Jesus Cristo, que
não vacila em proclamá-lo Deus: “O teu caminho, oh! Deus, está no santuário.
Que Deus é tão grande como o nosso Deus. (Salmo 77-13). “Deus era a sua
rocha, e o Deus Altíssimo o seu Redentor.” (Salmo 78-36). E, como se ainda não
fosse suficiente, sentencia: “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão
direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés... Jurou o
Senhor e não se arrependerá; tu és um sacerdote eterno, segundo a ordem de
Melquisedec." (Salmo 110).
Entretanto, se alguns confundem o Cristo
com o próprio Deus, outros mais avisados deixam ver as diferenças entre Deus e
Jesus Cristo, embora tratem indistintamente, a um e a outro, de “Senhor”. Vejamos:
Falou Deus a Moisés e disse: “Eu sou o Senhor. E eu apareci a Abraão, Isaac
e Jacó como o Deus Todo Poderoso, mas pelo meu nome, o Senhor, não lhes fui perfeitamente
conhecido.” (Êxodo, 6:2 e 3).
Porventura, não foi dito já que “ninguém
jamais viu a Deus?” E o Senhor a quem se referem os versículos não afirma que
Abraão, Isaac e Jacó, aos quais aparecera, “não o conheceram perfeitamente”,
que, pelo contrário, o tomaram como o Deus Todo Poderoso? Não seria muito
difícil, com um pouco de boa vontade, verificar que, na Bíblia, os profetas e
patriarcas tratam de Deus propriamente dito e de Jesus Cristo, seu enviado, o
Diretor e Governador do planeta, usando da mesma linguagem e reverencia: “O
Senhor está em volta do seu povo, ao nosso lado.” Salmo 124-1 e 2. Ainda Davi
diz que a sua “alma
anseia pelo Senhor, por ter misericórdia e nele há redenção abundante” e porque
remirá as impiedades” Salmo 130. “O Senhor respondeu a Jó do redemoinho: “Quem
é este..., responde-me; Onde estavas tu" quando eu fundava a terra? Jó,
38.
As citações que aí ficam provam à saciedade,
pois falam por si, que o Senhor Jesus, Diretor do Planeta, seu fundador, a cuja
humanidade assiste e conduz, “está em volta do seu povo” e "vive ao nosso lado”,
conduzindo à perfeição “seu povo”, porquanto “os filhos são herança do Senhor e
o fruto do seu ventre galardão.” Salmo 127-3; enquanto Davi, ansiosamente
espera o dia do Senhor Jesus, a sua vinda prometida. para redenção dos homens.
E quem, senão Jesus, redimiu Israel (o gênero humano) de suas culpas?
Basta de redundâncias demasiadas,
desde que a atuação do Ungido de Deus ressalta a cada página do Livro Santo - a
Bíblia, E a sua missão nada teve de misteriosa “aos que tenham olhos de ver.”
A história da Terra é a do próprio seu
Diretor e Governador - o Cristo de Deus. Sentir de outro modo seria calculada
cegueira, incompatível com os fatos e os tempos que chegam.,. Porque incidir nos
mesmos erros de nossos antepassados?
Espíritas, meus irmãos, vejamos o
Cristo como os antigos de Israel o viam: “mais formoso do que os filhos dos homens”.
Sim, “mais formoso do que os filhos dos homens”, desde que ele não era filho de
homem, mas o “ungido com o óleo de alegria, mais que os seus companheiros”,
visto ser sobre todos, “tido por digno de tanto maior glória que Moisés, quanto
mais honra do que a casa que tem aquele que a edificou”, porquanto “vive sobre
a sua própria casa, a qual somos nós”.
Jesus, em espírito e verdade, é o “Rei
dos Judeus”, não à maneira dos discípulos de Loiola e seus adeptos, imitadores
do Judaísmo crucificador de Jesus; porém, como bem o define a Revelação Nova -
Rei dos Judeus, imperando sobre a Jerusalém Nova e redimida, “esposa do Cordeiro”,
na qual “habitará a justiça”, depois que incendidos os céus, os elementos ardendo
se desfarão”.
Não deixemos que os círculos evolutivos
se fechem dentro de nossa indiferença; vamos ao Cristo de Deus, enquanto é
tempo...
Paraúna - Dezembro de 1942.