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domingo, 6 de junho de 2021

"A Reencarnação" - Parte 1

 


                                     " A Reencarnação

- estudo sobre as vidas sucessivas."

por Aurélio A. Valente 

Editora: Moderna - Ano: 1946

Biblioteca Espírita Brasileira

 

"Não vos admireis do que vos digo:

é preciso nascer de novo." 

Jesus em João Cap. 3, vv. 1\15


  “Nascer, viver, morrer, renascer ainda; progredir sempre, tal é a lei.”  

Allan Kardec

 

        “Este livro é uma afirmação incontestável da influência e assistência dos espíritos sobre nós. Algum tempo depois de terminarmos a assistência dos espíritos sobre nós. Algum tempo depois de terminarmos “Sessões Práticas e Doutrinárias do Espiritismo”, tivemos desejo de escrever este livro. Ocorrências diversas impediram-nos de trabalhar imediatamente, mas, para não perder tempo, íamos colhendo fatos, concatenando ideias, armazenando tudo na memória apenas, como um homem pobre, que vai adquirindo conforme as suas posses, areia, tijolos, telhas, cimento, ferro, para construção de uma casa, para depois pensar nos operários.

           Um dia, os obreiros do Senhor advertiram que a hora do serviço era chegada. Iniciamos a nossa tarefa em fevereiro e em abril estava terminada. Vezes havia que quinze, vinte e mais folhas eram escritas de uma vez, sem que houvesse tempo de grafar convenientemente cada palavra. Deste modo, leitor amigo, o que houver de bom é proveniente dos bons espíritos, mensageiros de Jesus, o que tiver de falho é nosso.

           Esses amigos do Alto são ainda aqueles, bem o sentimos, que carinhosamente, nos encaminharam na senda da Verdade, em Belém do Pará, no jamais esquecido “Grupo dos Filhos Pródigos”. A eles, portanto, manifestamos a nossa imorredoura gratidão, e aos velhos companheiros que naquela cidade ainda mourejam (vivem), o nosso abraço saudoso e fraterno.
Rio, Fevereiro-Abril, 1944
                                                                                            A. A. V.         

 Introdução

           Fracassaram, lamentavelmente, as doutrinas religiosas, filosóficas e políticas no objetivo de fraternizarem os homens. As lutas mais cruentas se desenrolam; as cidades que suportavam sítios de meses e anos debaixo do fogo da artilharia, arrasam-se em horas sob os bombardeios aéreos; no mar, os tranquilos e confiantes passageiros mudaram o rumo da sua viagem, para o fundo das águas, obrigados pela guerra mais desumana e covarde dos submarinos. Tem-se a impressão que a inteligência do homem está possuída pela volúpia de descobrir os segredos da natureza, para usá-los como meios de destruição dos infelizes.

           A miséria e o egoísmo sob todos os prismas dominam a humanidade. Cada um cuida exclusivamente de si, esperando o momento oportuno para obter algo, com ou sem direito. Não lhe preocupa se os meios são lícitos, se alguém fica prejudicado, pois, primeiro a sua posição e os seus proventos, segundo os seus caprichos e paixões, terceiro ainda os seus gozos, o seu estômago insaciável, e para os outros... nada.

          As minorias audazes e inescrupulosas em numerosos países dominam prepotentes, porque as massas ignaras (incultas)  não têm sentimento de solidariedade.

            Por toda parte, as corporações mais numerosas, as instituições mais respeitáveis têm as suas leis e regulamentos violados, sem que uma só voz de protesto se faça ouvir. Todos sentem-se prejudicados, entretanto, ninguém reclama porque teme descontentar os superiores e, assim, a subserviência tornou-se um culto consagrado.

           De dia para dia, cresce o número de assassínios, suicídios, roubos, estelionatos, seduções, desmoronamento de lares, em consequência de vidas de ostentação, de luxo desmedido, de frequência de cassinos onde campeiam os vícios elegantes.

           Os medíocres, à custa de sindicatos de elogios mútuos, aparecem no cenário mundano como capacidades extraordinárias e insubstituíveis, mas aqueles que conhecem os bastidores sorriem de escárnio da nudez sórdida desses personagens de ópera bufa. E tudo isso acontece porque aqueles, que mais quiseram sufocar o materialismo, foram justamente os que mais contribuíram para dar-lhe vida e vigor. A humanidade tornou-se materialista por completo. Desapareceu a verdadeira espiritualidade.
O romanismo com o seu cortejo de pompas deslumbrantes, rastejante e acomodatício para viver bem em todos os climas, a ciência orgulhosa, encastelada na fortaleza dos seus princípios teóricos e dogmáticos, tais são os culpados da situação atual da humanidade. 

           Triste, bem triste, véspera de trágica, podemos assim dizer, é a posição daqueles que tem os destinos dos povos nas mãos. Eles são acusados dos nossos sofrimentos, das nossas misérias, dos fracassos de certas doutrinas, quando tudo isso não passa de fatal consequência de erros acumulados durante séculos por gerações ignorantes, imprevidentes e fúteis. “Cada povo tem o governo que merece” – disse um célebre estadista do século passado, e assim é. Como poderá pois queixar-se dos seus dirigentes quem não coopera ativa e honestamente para o cumprimento da lei? Em geral, os que mais reclamam, que protestam mais alto, que falam em patriotismo, sabedoria, probidade, são justamente os mendigos da moral, de luz e de caráter. Em vez de fazer cada um por si para auxiliar os poderes públicos, pois do esforço individual de todos é que se forma a coletividade ansiosa de conhecimento e moralidade, cada qual só tem vistas para o argueiro do olho do seu semelhante,
Sofremos todos as consequências da nossa própria semeadura, e da dos nossos antepassados. Tínhamos que chegar ao ponto a que chegamos porque até agora só cuidávamos da matéria em detrimento do espírito. Quando líamos no Evangelho de Jesus a sua advertência de que não ficaria pedra sobre pedra, meditávamos e perguntávamos a nós mesmos como poderia ser isso se a consolidação do solo terráqueo havia afastado de há muito a possibilidade de terremotos em certos lugares? E como resposta temos as cidades seculares reduzidas a escombros, a cinzas fumegantes, pagando o pesado tributo de iniquidades de seus habitantes de outrora e atuais.

           O “princípio do fim” está se processando. Ouvimos falar de guerra, de fome, de miséria, de epidemia, tremores de terra.

          Aqueles que não tem guerra em seu território, ne por isso deixam de sentir os seus efeitos e tormentos de toda espécie, pois não haverá um só povo que não experimente a influência da transição de uma civilização decrépita para outra mais nova, idealista, espiritual que viverá numa era de luz e de verdade.

          Cada povo terá que pagar na razão direta dos seus feitos, e não vemos nenhum que esteja isento de culpas, que não tenha manchas de sangue na sua história.

         Ainda criança, ouvimos a vovozinha com aquela meiguice de segunda mãe pedir aos netinhos que nunca jogassem comida fora, mesmo que fosse um pedacinho de pão, porque isso faria falta aos pobres filhos de Deus. E contava, pata ilustrar, casos de pessoas ricas reduzidas imprevistamente à miséria, porque atiraram restos de comida ao lixo, negando-os até aos próprios cães.

           Muitos anos depois, vários exemplos encontramos na nossa peregrinação terrena, que vieram aumentar o número das histórias verdadeiras da vovozinha.

           Em certa cidade de grande vulto comercial, à porta de um hotel luxuoso, encontramos um homem em tal estado de pobreza física e moral, que era capaz de comover o coração mais endurecido. Quando ele se retirou, um empregado do hotel, aproximou-se e contou-nos a vida do desgraçado. Fora o melhor cozinheiro da zona e estava empregado no referido hotel. Anos antes, quando o dinheiro corria a granel, ele desdenhava das pequenas gorjetas e, todas as notas de cinco e dez mil réis atirava ao fogão dizendo: “para que me serve esta miséria?” Adoeceu inesperadamente e foi para um hospital, onde ficou muito mal, durante mais de dois anos, tendo esgotado todos os recursos. Ainda enfermo teve que deixar a casa de saúde e agora vive esmolando. Em outra cidade encontramos um pobre homem que havia sido riquíssimo fazendeiro, o qual acendia charutos finos com cédulas de quinhentos mil réis, sob as vistas assustadas dos matutos, para mostra que seu dinheiro era tanto que não fazia caso dele.

           Se isso acontece com os indivíduos, por que não acontecerá com as coletividades culpadas da aplicação de loucos princípios de economia política na destruição de produtos que dariam para mitigar a fome de milhares de necessitados? As coletividades responderão inexoravelmente pela cumplicidade nesse crime, porém, maior será a responsabilidade dos idealizadores dessas medidas e todos os interessados nos lucros. Aguarde, pois, cada um a sua parte, pois Jesus disse: “a cada um será dado de acordo com as suas obras”.

          E porque fracassaram religiões, ciência, política? As religiões, principalmente o romanismo, porque a casta clerical de todos os credos, em todas as épocas sempre foi exclusivista e exploradora da ignorância e boa fé do povo. Essa casta parasita teme perder o seu prestígio, o seu fausto, o domínio, e por isso entrava todo o progresso e persegue os inovadores e libertadores.

           Foi o clero quem crucificou Jesus – quem forçou Sócrates a beber cicuta – quem queimou Joana d’Arc – Giordano Bruno – Jerônimo de Praga, esquartejou Hypatia em Alexandria, foi ele ainda quem queimou a fogo lento Miguel Serveto. Foi ele o criador da Inquisição, quem sacrificou inúmeras vítimas na célebre noite de São Bartolomeu, quem exterminou os Albigenses, quem fomentou guerras de toda espécie. Entretanto, por ironia da Justiça, que terrível irrisão! O Tribunal da Inquisição não condenou ninguém por assassínio, roubo, adultério, incesto, violações. Para o clero só havia um crime: heresia – isto é, não aceitar, mesmo em sonhos, um só ensinamento que não fosse imposto por ele; bastava uma só dúvida, uma vacilação. Admitia-se delações de pais contra filhos, de filhos contra pais, e os testemunhos das rameiras eram de maior valor que os dos homens mais respeitáveis. Os denunciados nunca chegavam a saber quem os tinha acusado.

           Os mártires tudo sofreram porque queriam um Deus grandioso, Bom, Misericordioso, adorado e, Espírito e Verdade, sem a intromissão de castas intermediárias e parasitas. Jesus disse que ninguém iria ao Pai sem ser por seu intermédio, assim, não temos necessidade de quem se jacta de ser seu procurador, visto como todos nós não passamos de “sepulcros caiados de branco”.

          “Os méritos dos apóstolos de modo algum poderia ser automaticamente transferidos aos sacerdotes degenerados pelos interesses políticos e financeiros de determinados grupos terrestres, depreendendo-se daí que a igreja romana, a que mais tem abusado desses conceitos, mais uma vez desviou o sentido sagrado da lição do Cristo.

          Importa, porém, lembramos, neste particular, a promessa de Jesus de que estaria sempre entre aqueles que se reunissem sinceramente em seu nome”. Estas palavras encontramos no admirável livro “O Consolador”, ditado a Francisco Cândido Xavier por Emmanuel, pág. 155.
 
           A ciência, orgulhosa das suas conquistas, não quer aceitar nada que contrarie os seus conhecimentos. Os “doutos” esquecem que W. Harvey muito sofreu quando afirmou que o sangue corria em nossas veias, Pasteur foi ridicularizado com os micróbios, Erlich, Paracelso, Bacon, Galvani, Fulton, todos, enfim, que tiveram a coragem moral de apresentar coisas até então desconhecidas. O caso do fonógrafo apresentado na Academia de França pelo emissário de Edison, não causa somente riso, mas revolta. O homem sábio é humilde e simples, tudo deseja examinar e para ele não existe a palavra “impossível”, mas o seu número é bem pequeno; maior é o dos “sabichões”, pretenciosos, orgulhosos a tal extremo que se aproximam dos limites da estupidez. O seu lema é: “não creio, não é possível, é contrário a todas as leis conhecidas, logo não é verdade.

            A política, que é a arte de governar os povos, fracassou, porque ela sempre foi o reflexo da religião e da ciência da sua época.  Não poderia fazer melhor com homens tão descrentes e interesseiros, quanto néscios e pedantes.

           Todavia, Deus, o nosso Pai de Infinita Misericórdia; que enviou há dois mil anos o Seu Filho bem Amado – Jesus -, em Sua Onisciência, achou que havia chegado o momento propício para enviar-nos o “Consolador” prometido -, essa legião de espíritos mensageiros do Bem, sob a luminosa direção do Espírito de Verdade.

           Esses habitantes do Além espalharam-se então, desde o meado do século passado, por toda a Terra, para despertar na humanidade indiferente, sofredora e egoísta, o amor a Deus, ao próximo, o desejo de progresso, de sabedoria, de solidariedade e fraternidade.

          Eles vieram dizer-nos que erem as almas das pessoas que haviam estado neste mundo, dando vida a corpos de homens como nós e que eram felizes ou desventurados conforme as suas obras, que o paraíso celeste não era mansão de beatitudes místicas e improdutivas, nem o inferno lugar de penas eternas, pois a qualquer criminoso era dado ensejo paro resgate de culpas e acolhimento na casa do Pai Celestial, de acordo com a sublime parábola do Filho Pródigo. Assim, o céu e o inferno deixaram de ser utopias para transformarem-se em verdades mais consentâneas com a Bondade e Misericórdia Infinitos de Deus.

          Eles vieram afirmar-nos de maneira insofismável a sua existência, forçando-nos a não lhes chamar de “mortos”, visto que estão vivos quanto nós.  

          Na infância, quantas vezes ouvimos em certas casas, ao sair um enterro, parentes e amigos despedirem-se do cadáver com esta angustiosa frase: “nunca mais”, e apesar da nossa inexperiência, essas palavras não foram esquecidas até a juventude, quando a luz do Espiritismo iluminou a nossa inteligência. Frequentemente, triste, meditávamos na “morte”, o aniquilamento completo do homem que levava para o túmulo as suas ilusões, o seu patrimônio de sabedoria e probidade, o anseio de ser bom e também um rosário de misérias. 

           E hoje, o Consolador, o Espírito de Verdade, fez as lágrimas secarem, as dores suavizarem, trazendo-nos a Esperança para lançar sobre os sofredores do corpo e da alma, o seu manto de consolação. Os semblantes tristonhos transmudaram-se em fisionomias alegres, confiantes na luz que irradia da Doutrina de Jesus, que sempre foi para a humanidade o Pão, o Caminho e a Luz.
 Os Espíritos do Senhor continuam a sua faina de estimular o nosso desejo de redenção. Eles agem de todas as formas despertando a nossa atenção por meio de fenômenos, da dor e do amor.
 Mas... que tristeza atrás, como no tempo de Jesus, quando lhe pediam para produzir milagres uns após outros para convencer os fariseus, os desconfiados, os céticos duvidam da sinceridade das pessoas mais respeitáveis e desinteressadas de mundanismo e pedem também fenômenos e mais fenômenos.

           Os espíritos advertem-nos constantemente que o valor da Doutrina Espírita não tem alicerces nos fenômenos, mas na consequência dos seus ensinamentos, que transformam o homem mal e viciado, no homem bom e regenerado.  Apesar disso, insistem sempre: desejamos fenômenos, queremos ver. Entretanto, se ao menos tivessem a sinceridade de Tomé que viu e acreditou, ainda seria perdoável, mas infelizmente as suas vistas curtas e inteligência medíocre, o orgulho de um falso saber e a vaidade, não favorecem a compreensão de coisa alguma. Esses presumidos são aqueles de que nos falou Jesus, que tem olhos e não querem ver, tem ouvidos e não querem ouvir.

           Um dos mandamentos do código na Maçonaria, a Sublime Ordem, cuja admirável filosofia é puramente cristã pela identidade dos ensinamentos, ao ponto de apresentar Jesus como o símbolo do maçon perfeito, grau trinta e três, impõe a todo iniciado o dever de transmitir aos homens aquilo que houver apreendido, a fim de contribuir para expurgar do mundo os três grandes flagelos da humanidade: a ignorância, o fanatismo e a hipocrisia. 

           Eis a razão deste livro. Consideramos a nossa maior felicidade o batismo de luz da Doutrina Espírita nos primeiros anos da nossa juventude, e por isso temos tomado parte ativa, desde essa época, na propaganda do Espiritismo, porque desejamos partilhar com os nossos semelhantes a fortuna espiritual que Jesus já nos proporcionou.

          O Espiritismo dominará o mundo porque fala a tríplice linguagem do coração e do espírito. É amor – é inteligência, é partícula divina.

          A Doutrina Espírita não tem dogmas, se por tal entendemos postulados idênticos aos da igreja romana, impostos mesmo sem compreensão, ainda que absurdos. Entretanto, se considerarmos dogmas como pontos fundamentais de uma religião, firmados pela lógica, diremos que o Espiritismo tem três, sem os quais ele não existe: Deus, Alma – Reencarnação.
          
          Deus é a causa primária de todas as coisas, disseram em síntese os espíritos a Allan Kardec. Deus é infinitamente Bom, Justo e Misericordioso, reúne em si todas as perfeições imagináveis pelo homem. Onde houver falha não pode ser obra divina.

          Deus é a única incógnita para a qual o Espiritismo não procura solução. Para os seus adeptos basta acreditar na sua existência, respeitá-lo, venerá-lo cumprindo rigorosamente as suas sábias e imutáveis leis. Se Ele é infinito como poderemos compreende-lo? Como poderá o finito compreender o infinito? Que ele existe não há dúvida alguma. Por um princípio filosófico nós sabemos que “todo efeito tem uma causa e todo efeito é da mesma natureza da causa”- logo, um efeito inteligente é gerado por uma causa inteligente. Só uma força sumamente inteligente seria capaz de criar e dirigir a mecânica celeste, onde milhares de mundo de todos os tamanhos movimentam-se sem haver colisão, obedecendo a uma lei. Aqueles que estudam a natureza descobrem em suas leis uma sabedoria incalculável. Poderá o nada formar o nada?  Uma força cega formar alguma coisa bela e perfeita?

           Chame-se a essa força – Deus – Alá – Grande Todo – Desconhecido – Grande Arquiteto do Universo -, o fato é que sentimos a sua existência e somos beneficiados pela sua Bondade.
 
           Não podemos olhar para uma coisa sem termos logo a ideia do seu autor. Este livro é o atestado da existência de quem o escreveu. O leitor poderá não o conhecer. Não sabe se é magro ou gordo, jovem ou velho, jovial ou circunspecto, mas sabe que ele existe. E que são para nós os reinos mineral, vegetal, animal e hominal, senão obras admiráveis de beleza e perfeição de alguma força poderosa e Onisciente? Deus – a quem convencionamos chamar Pai – para fazer brotar em nossos corações o respeito e um meigo sentimento de amor. Ele está em toda a parte, integrado em tudo, como bem o entendeu o mavioso vate português Guerra Junqueiro, quando disse:
 
..”Deus, o Deus em que acredito,
“Essa luz que alumia essa noite – o infinito,
“Esse eflúvio d’amor que em tudo anda disperso,
“Cabe com todo o seu vastíssimo esplendor
“Num olhar de criança ou num cálix de flor.”

            Alma – eis o segundo dogma do Espiritismo. Ela anima todos os seres muito embora a nossa inteligência pouco evoluída não tenha da sua essência uma exata compreensão. “Atração no mineral, sensação no vegetal, instinto no animal, razão no homem, divindade no anjo” – eis a alma, assim disse Emmanuel no maravilhoso e instrutivo livro “O Consolador”.

          O Espírito não é, como julgam os nossos contraditores, uma abstração. É alguma coisa que tem vida própria limitada por um corpo de matéria quintessenciada que lhe dá forma, ao qual chamamos “perispírito”. A eletricidade também é alguma coisa. Embora indefinida, ninguém contesta a sua existência, devido às múltiplas aplicações na vida da humanidade.

           O magnetismo também já é admitido por numerosos sábios, apesar de também não conhecerem a sua essência.

           A criação da alma e a sua evolução, até alcançar a humanidade, não serão objeto do nosso estudo pela sua transcendência. Vamos apenas tentar a explicação, simples e intuitiva aos humildes, da trajetória da alma na terra e no além, no escopo de alcançar a perfeição relativa, justificar a razão da diversidade de dons intelectuais e morais, alegrias e sofrimentos, riqueza e pobreza, posições altas e baixas, vidas curtas e longas, problemas até hoje sem solução para todas as doutrinas conhecidas.

          A alma tem por toda parte liberdade de ação, a qual está na razão direta da sua evolução harmônica de saber e de amor, como para nós está a infância, a juventude e a maturidade. A criança goza de uma liberdade restritiva, o moço de forma relativa e o adulto de modo amplo. Este age como bem entende e lhe apraz, de acordo com a sua vontade, pois as leis humanas, por mais rigorosas que sejam, não tiram da mão do assassino a arma homicida, nem fazem parar à porta do lar honesto o miserável Don Juan.           

           Deus, o Nosso Pai de Infinita Misericórdia, favoreceu-nos com uma lei sábia que nos permite a conquista de tudo quanto é preciso para a nossa evolução – a Reencarnação. Submissos a essa lei, nascemos, morremos, tornamos a nascer tantas vezes quantas sejam necessárias para alcançar a nossa perfeição.
 
           “Nascer, morrer, tornar a nascer, progredir sempre, tal é a lei”, foi a frase com que Allan Kardec definiu a Reencarnação.
 
            O ensino da lei da Reencarnação é o meio mais seguro para forçar o homem à meditação sobre a Justiça Divina, à regeneração e ao progresso tal é a moral e intelectual. O conhecimento dessa lei por toda a humanidade revolucionará o mundo, porque os homens ficarão sabendo que não há predestinados para a felicidade, nem réprobos, que todos nós sofremos as consequências dos nossos atos, que não há falta sem punição, nem prejuízos sem reparo, pois Jesus avisou-nos que não entraríamos na casa do Pai sem havermos pago o último ceitil. Somente a divulgação da lei da Reencarnação facilitará a implantação no mundo, das doutrinas que nos parecem utopias, facultando-nos uma vida de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, tão sonhada pelos homens de boa vontade e desejada pelos espíritos mensageiros do Bem, que nos exortam continuamente a termos por lema de vida o lábaro “Trabalho, Tolerância, Solidariedade”.

              A Reencarnação é o objetivo do nosso estudo. Procuremos aplica-la por todos os meios ao nosso alcance, apresentando sempre fatos que justifiquem a nossa dialética. Allan Kardec, Leon Denis e outros escritores espíritas dedicaram capítulos inteiros ao estudo da lei da reencarnação, tendo Gabriel Delanne publicado um livro exclusivamente sobre o assunto, e outro que se relaciona com o mesmo: “A Evolução anímica”, mas, a profundeza da sua exposição, a sua argumentação rica para os cérebros esclarecidos, talvez não tenham iluminado suficientemente o entendimento dos humildes, por isso, de há tempos vimos alimentando o desejo de escrever também algo, com a mesma simplicidade com que apresentamos o nosso livrinho “Sessões Práticas e Doutrinárias do Espiritismo”, sob a orientação dos nossos amados guias.

           Desejamos sinceramente que a “Reencarnação” tenha a mais vasta aceitação, pois só assim a humanidade tornar-se-á melhor. O perdão de Deus será compreendido de uma forma mais racional. Deus não cobre com o mesmo manto de piedade um passado de erros e crimes de toda espécie., equiparando os maus arrependidos aos bons perseverantes. Os arrependimentos originados pela dor e não pelo desgosto de haver cometido o crime levariam os culpados mais perversos e cínicos a serem nivelados, no paraíso, às almas simples, que sempre aceitaram com humildade as leis do Senhor.
 O perdão divino consiste nos meios de resgate de todo mal, proporcionando àqueles que se arrependem e querem expiar e reparar todo mal produzido.  O homem pobre de hoje é o mal rico de vida anterior; o trabalhador honesto e infatigável, que sofre injustiças, é o mesmo que anos antes, talvez no mesmo lugar, explorava miseravelmente os que estavam sob as suas ordens; o idiota, que causa riso e dó ao mesmo tempo, é a encarnação do sábio que fez mal uso das suas faculdades intelectuais; o surdo-mudo foi em vida passada o fomentador de discórdias e lutas sangrentas.

            Tudo isso procuraremos demonstrar e, confiantes na assistência dos nossos guias, é que empreendemos esta árdua tarefa. 

            O conhecimento da lei da Reencarnação mudará a face do mundo, pois os homens ficarão sabendo que praticando sempre o bem, nove sobre dez serão as probabilidades de uma vida ulterior melhor. Se hoje trabalhamos para ter uma velhice confortável e feliz, porque deixaremos de preocupar-nos com a próxima vida, sabendo que ela será boa ou má, conforme o nosso esforço presente?

            A vida de hoje é uma consequência das existências anteriores, como a de amanhã – a futura – será um reflexo da que estamos vivendo. Pratiquemos, pois, a maior quantidade de bem que nos for possível, pois o Espiritismo, ampliando o panorama da Fraternidade, ensina também que não sofremos apenas pelos males que fizemos, mas também pelo bem que deixamos de fazer. Resignemo-nos com a nossa dor sem deixarmos que o desalento se apodere de nossa alma, porque resignação não significa abatimento, desolação, mas simplesmente conformação humilde com a pena imposta pela Providência Divina, e o anseio de libertação do erro para a felicidade celestial.

          Quando moramos próximo de um rio sujeito a inundações, que tudo arrasta, o nosso apego ao mundo faz-nos lutar para arrancar das águas aquilo que ela pode carregar e, passada a tormenta, nós tratamos de reconstituir tudo, aproveitando a experiência para o futuro, assim, pois, temos o dever de fazer tudo que estiver ao nosso alcance em benefício do espírito, porque ele é que é imortal e não o corpo.
 
          Olhemos com mais amor para o nosso irmão e pratiquemos o sentimento da solidariedade que nos dá forças para defesa comum.

                       

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