Pesquisar este blog

sábado, 25 de fevereiro de 2012

17 'Doutrina e Prática do Espiritismo'




17      ***


            Não menos demonstrativo é o caso de Hudson Tuttle, um jovem agricultor norte-americano, médium, como James, iletrado e que, como este, se tornou instrumento para a publicação de uma obra, não já de índole romântica, mas de um elevado cunho científico, incomparavelmente superior, por conseguinte, à sua modesta capacidade intelectual.

            Como a ele se refere apenas incidentemente Aksakof (1), por já o haver feito com grande desenvolvimento na revista PSYCHISCHE STUDIEN, (2) que entretanto não temos à mão, é Léon Denis (3) quem nos vai fornecer os pormenores desse interessante caso.

            (1) Ver obra e págs. citadas.
                (2) Coleccão de 1874, págs. 93.
                (3) Ver No INVISIVEL--ESPIRTISMO E MEDIUNIDADE, págs. 279.

            "Hudson Tuttle, de Cleveland (Ohio) - refere o eminente escritor francês - era aos 18 anos um simples lavrador, sem educação nem preparo intelectual, ocupado todo o dia nos penosos trabalhos dos campos. Escreveu durante noites consecutivas, sob a inspiração dos espíritos, um livro admirável, ARCANOS DA NATUREZA, que excedia de muito os conhecimentos científicos da época. Não tinha à sua disposição nem livros, nem biblioteca, porque seus pais moravam na roça e só se ocupavam de agricultura. A obra foi publicada em 1860, com um apêndice indicando a sua origem.

            "Teve três edições na América, foi depois reeditada na Inglaterra, traduzida em alemão pelo doutor Aschenbrenner e publicada em Leipzig.

                "Particularidade curiosa: o doutor Büchner, chefe da escola materialista alemã, leu a obra sem prestar a mínima atenção ao apêndice, acreditou que a produzira um homem de ciência e dela extraiu numerosas citações, que figuram em seu célebre livro FORÇA E MATÉRIA, sem designação de autor.

                "O doutor Cyriax o fez notar, e quando Büchner foi à América realizar uma série de conferências, passou por Cleveland e pediu para ver Hudson Tuttle, "desejoso que estava - dizia ele - de travar conhecimento com um homem que tão valioso auxílio lhe prestara para a confecção de sua obra."

            "O médium lhe foi apresentado por ocasião de um banquete. Grande foi, porém, a decepção de Büchner ao ver o rapaz; e quando soube de que modo haviam sido escritos os ARCANOS, acreditou que era uma farsa. O doutor Cyriax e o Sr. Teime, editor do jornal alemão de Cleveland,  tiveram grande dificuldade em o dissuadir. (Carl du Prel, DER SPIRITISMUS, págs. 44)."

            Por inacreditáveis, a poder de singulares e, mesmo, perturbadores, que tais casos pareçam aos ignorantes da doutrina e dos sucessos do Espiritismo, não são, entretanto, os únicos em que médiuns iletrados, ou de medíocre instrução, têm sido instrumentos de ensinos ou revelações incomparavelmente acima de suas capacidades ordinárias.

            O Sr. J.P. Barkas, membro da Sociedade de Geologia de Newcastle (1), publicou, em 1885, no LIGHT, de Londres, uma série de artigos contendo "Respostas de improviso a questões científicas, por uma médium de educação ordinária", nas quais se encontram desenvolvidas, com admirável proficiência, teorias sobre assuntos técnicos, como por exemplo, "o modo por que a percepção do som atinge a nossa consciência", o motivo da neutralização de dois sons de igual intensidade vibratória, uma descrição, rigorosamente anatômica, do olho humano, etc., das quais não possuía a médium a mínima noção.

            (1) Ver Aksakof, ANIMISME ET SPIRITISME, págs. 332 e seguintes.

            A seu turno, o major-general A. W. Drayson comunicou igualmente ao LIGHT (edição de 1884, págs.  499) uma observação pessoal, subordinada à epigrafe THE SOLUTION OF SCIENTIFIC PROBLEMS BY SPIRITS (Solução de problemas científicos pelos Espíritos), a qual constitui um eloquente desmentido aos que, não tendo dos fenômenos uma demorada e múltipla observação que os habilite a formar juízo autorizado, pretendem que as comunicações espíritas jamais ultrapassam o nível dos conhecimentos, não só do médium, como do círculo em que sejam transmitidas, havendo neste caso mera sugestão mental inconsciente.

            Sem dúvida, não têm por missão os espíritos antecipar-se ostensivamente aos homens na pesquisa da verdade, cujo conhecimento deve ser para estes o prêmio do esforço e um elemento de progresso, limitando-se em geral a assistência com suas inspirações ocultas, como o teremos ocasião de oportunamente apreciar. Casos há, todavia, em que, segundo um critério de utilidade que ao arbítrio humano escapará, mas não deve ser estranho ao plano providencial a que todas as coisas obedecem, a revelação de uma verdade ignorada é transmitida, vindo a ser mais tarde confirmada, como sucedeu com o major-general Drayson, cujo depoimento é o seguinte (1):

                (1) Aksakof, obra cit., págs. 341 a 343.

            "Tendo recebido do Sr. George Stock uma carta em que me perguntava se eu poderia citar um exemplo que fosse de ter um espirito, ou pretenso espírito, resolvido, em sessão, um desses problemas científicos que têm feito a preocupação dos sábios no século passado, tenho a honra de vos comunicar (2) o seguinte fato, de que fui testemunha pessoal.

            (2) A narrativa era, como o dissemos, dirigida ao LIGHT de Londres.

            "Em 1781, William Herschel descobriu o planeta Urano e seus satélites. Observou que esses satélites, contrariamente a todos os outros do sistema solar, percorriam suas órbitas de oriente a ocidente. Diz J.-F. Herschel em seus ESBOÇOS ASTR0NÔMICOS : "As órbitas desses satélites apresentam particularidades inteiramente inesperadas e excepcionais, contrárias às leis gerais que regem os corpos do sistema solar. Os planos de suas órbitas são quase perpendiculares à eclíptica, formando um ângulo de 70° 58', e eles as percorrem com um movimento retrógrado, O que quer dizer que a revolução que efetuam em torno do centro de seu planeta é de leste a oeste, em vez de seguir a direção inversa."

            "Desde que Laplace emitiu a teoria de que o sol e todos os planetas se formaram a expensas de uma matéria nebulosa, esses satélites eram um enigma para ele.

            “O almirante Smith menciona em seu CICLO CELESTE que o movimento de tais satélites, com estupefação de todos os astrônomos, é retrogrado, contrariamente ao de todos os outros corpos até então observados.
           
            "NA GALLERY OF NATURE igualmente se diz que os satélites de Urano descrevem sua órbita de este a oeste, singular anomalia que constitui exceção no sistema solar.

            "Todas as obras de astronomia publicadas antes de 1860 contêm o mesmo raciocínio acerca dos satélites de Urano. Por minha parte, não encontrava explicação alguma para essa particularidade; era mistério para mim, como para os mencionados escritores.

            "Em 1858 hospedei em minha casa uma senhora, que era médium e com quem organizei sessões quotidianas. Uma noite me disse ela estar vendo ao meu lado uma pessoa que pretendia ter sido, em sua existência terrestre, um astrônomo.

            - "Perguntei a esse personagem se era atualmente mais sábio que na terra. - "Muito mais" - respondeu ele.

            "Tive então a ideia de submeter a esse pretenso espírito uma questão, a fim de por à prova os seus conhecimentos. "Pode me dizer - lhe perguntei - porque os satélites de Urano fazem sua revolução de leste a oeste e não de oeste a leste?"

                "Recebi imediatamente a seguinte resposta:

            "Os satélites de Urano não percorrem sua órbita do oriente ao ocidente; giram em torno de seu planeta de ocidente a oriente, no mesmo sentido em que a lua gira ao redor da terra . 0 erro proveio de estar o polo sul de Urano voltado para a terra na ocasião da descoberta desse planeta; assim como o sol, visto do hemisfério austral, parece efetuar seu percurso quotidiano da direita para a esquerda e não da esquerda para a direita, os satélites de Urano se moviam da esquerda para a direita, o que não quer dizer que percorressem sua órbita de oriente a o ocidente. 

            "Em resposta a outra questão que propus, acrescentou o meu interlocutor:

                "Enquanto se achava o polo sul de Urano voltado para a terra, para um observador terrestre os satélites parecia se deslocarem da esquerda para a direita, e dai se concluiu, erradamente, que se encaminhavam do oriente para o ocidente. Esse estado de coisas durou cerca de quarenta e dois anos. Quando o polo norte de Urano se acha voltado para a terra, os seus satélites percorrem seu trajeto da esquerda para a direita e sempre de ocidente a oriente."

                "Perguntei então como é que aquele erro não fora reconhecido até quarenta e dois anos depois da descoberta do planeta Urano por W. Herschel, ao que me foi dada esta resposta:

            É porque, em regra, os homens não fazem mais que repetir o que disseram as autoridades que os precederam; deslumbrados pelos resultados obtidos por seus predecessores, não se dão ao trabalho de refletir."

            "Guiado por esse ensino, apliquei-me a resolver o problema geometricamente, e verifiquei que a explicação era exatíssima e a solução bem simples. Em consequência, escrevi sobre o assunto um tratado que foi inserto nas Memórias do Instituto real de artilharia, em 1859.

            "Dei, em 1862, essa mesma explicação do pretenso enigma em uma pequena obra sobre astronomia, COMMON SIGHTS IN THE HEAVENS (Vista d'olhos nos céus) ; mas a influência "opinião autorizada" é tão funesta que somente agora os escritores que se ocupam de astronomia começam a reconhecer que o mistério dos satélites de Urano deve ser provavelmente atribuído à posição do eixo desse planeta.

                "Na primavera de 1859 tive, uma vez mais, ocasião de conversar, pelo mesmo médium, com a personalidade que dizia ser o mesmo espírito e perguntei se me poderia esclarecer sobre algum outro fato astronômico ainda ignorado. Possuía eu então um telescópio com uma objetiva de 4 polegadas e de uma distância focal de 5 pés. Fui informado de que o planeta Marte tinha dois satélites, que ainda ninguém tinha visto e que eu poderia descobrir, em favoráveis condições. Aproveitei a primeira ocasião, que se me ofereceu, para fazer observações em tal sentido, mas não descobri coisa alguma.

            "Dei ciência dessa comunicação a três ou quatro amigos com quem fazia experiências espiritas. e ficou decidido que guardaríamos segredo a tal respeito, pois que nenhuma prova possuíamos em apoio das afirmações do meu interlocutor -e ficaríamos expostos à risota geral.

                "Durante a minha estada nas Índias, falei dessas revelações ao Sr. Sinnet ; em que época não o posso dizer exatamente.

                "Dezoito anos mais tarde, em 1877, esses satélites foram descobertos por um astrônomo em Washington."







Nenhum comentário:

Postar um comentário