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quinta-feira, 24 de março de 2011

17/50 'Crônicas Espírtas'



17CM
  Meu caro padre Dubois:

Cônscio de ter, com provas esmagadoras, tiradas da História e do Evangelho, 
provado que a Igreja, isto é, a Sociedade que sob
 a presidência do papa com sede em Roma,
 pretende ser a diretriz das consciências, não é de Jesus, 
não posso deixar de me referir a mais alguns tópicos da sua carta.
Diz o amigo: “Dizer-se que a Igreja começou a errar na doutrina, 
depois que foi governada pelos sucessores dos Apóstolos, 
é assacar as maiores injúrias a Jesus Cristo. 
É proclamar o maior dos absurdos. 
Sendo a Igreja assistida pelo Espírito Santo e pelo próprio Jesus,
 as portas do inferno não podem prevalecer contra ela. 
Será possível maior garantia? Mas o senhor diz que a Igreja errou.
 Logo as portas do inferno prevaleceram contra a Igreja. 
Os sucessores dos Apóstolos, por conseguinte,
 tiveram, por virtude própria ou auxiliados pelo domínio, 
mais poder do que o Espírito Santo e Jesus Cristo, 
que garantiam a sua estabilidade. 
Eles, os sucessores dos Apóstolos, operaram assim, 
por virtude própria (por desgraça deles, diria eu), 
o maior dos portentos – expulsaram da Igreja 
o Espírito Santo e Jesus Cristo.
Em 1º lugar, convém mais uma vez dizer-lhe que Jesus
não prometeu a sua assistência nem a do Espírito Santo à Igreja, 
e sim os apóstolos, como reza a Escritura.
Em 2º lugar, a confusão do amigo está, 
como já tive também ocasião de dizer, 
em considerar a Sociedade de Auxílios Mútuos
que sob a direção do papa age, com a igreja que Jesus constituiu, 
e que, devido aos ensinos dados pelos mutuários da mesma, 
é assim considerada por todos os católicos.
 Ela, entretanto, nunca foi de Jesus.
Aulette, no seu dicionário,
 explica do seguinte modo o que significa a palavra igreja
“A assembléia dos cristãos em geral.” (teol.)
 “A reunião de todos os fiéis que professam a mesma fé.” 
Essa definição é a mesma que lhe dei há tempos, 
e o amigo insiste em considerar a assembléia de padres 
como sendo a Igreja. É preciso que medite sobre o que lhe digo, 
pois, nem eu posso estar sempre repetindo 
a mesma coisa, nem o “Correio” 
pode dispor de tanto espaço para as nossas conversas.
Ora, verdadeiros crentes, houve-os em todos os tempos: 
Abraão, Isaac, Jacob, os Profetas, muitos ilustres Israelitas, 
os Apóstolos e as multidões de humildes
 entre todos os povos cujos nomes 
não aparecem senão no Livro da Vida do Cordeiro.
 (Apocalipse, 21:27) Contra esses e todos
 os que obedeceram aos mandamentos do Senhor, 
as portas do inferno não prevaleceram, 
porque estes cumpriram o que Jesus ensinou, quando disse: 
“Aquele que tem os meus mandamentos, e os guarda, 
esse é o que me ama.” Aqueles, pois, 
que caminharam nas veredas do Senhor,
com esses ele estava sempre por intermédio 
dos seus mensageiros; aqueles, porém, 
que preferiram o reino do mundo ao do céu, 
que pactuaram com os reis e potentados, 
e tosquiaram os pequenos e indefesos, 
contra estes, pelos seus atos, prevaleceram as portas do inferno, 
e eles expulsaram o Espírito Santo e Jesus, não da Igreja, 
mas dos corações, o que é pior. 
Para expulsar Jesus, pouco é preciso, 
bastam os maus pensamentos. 
Não há nada mais fácil. 
Não é nenhum portento, é, sim, desgraça, 
grande desgraça.
Mas voltemos de novo ao assunto: já no tempo de Paulo,
 logo no princípio do Cristianismo, teve ele que reaprender os fiéis, 
como se vê da 1ª Epístola aos Coríntios, cap. 1:12-14:
 “Porque de vós, irmãos meus, me foi notificado pelos da família de Cloe,
 que há contendas entre vós. E digo isto, que cada um de vós diz:
Eu sou de Paulo; e eu de Apolo;
 e eu de Cristo. Dou graças a Deus que a nenhum de vós batizei.” 
Como isto é significativo!



Se, pois, houve desavenças e cismas entre os fiéis daquele tempo, 
pelo menos alguns haviam de ter deixado 
de ser assistidos pelo Espírito Santo, 
como não haviam deixado de sê-lo os bispos de Roma, 
que, à força, impuseram aos outros bispos 
o seu domínio a respeito do ensino de Jesus?
“Aquele que quiser ser maior, seja o servo”.
Imagine o meu amigo, “Jesus e o Espírito Santo 
protegendo e assistindo o papa Rodrigo Bórgia e 
tantos outros que comentaram toda classe de crimes, 
nclusive o incesto?!!!
Não é uma blasfêmia semelhante asserção?
Já que o amigo tem tamanha aversão ao Espiritismo, 
peço-lhe que, tomando em consideração a minha paciência, 
leia e estude o Evangelho e lá encontrará que Jesus 
mandou que “buscássemos e acharíamos, 
que pedíssemos e se nos daria; que não há coisa oculta
 que não haja de saber-se e vir à luz, 
e que a luz não foi feita para ser posta debaixo do alqueire, 
mas sim para iluminar toda treva.
E encontrará que João, na Epístola, 
manda que não se desse crédito a todo espírito, 
mas que se provasse se ele era de Deus. 
“Se isso não é Espiritismo, diga-me então o que é”.



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