sábado, 25 de novembro de 2017

Atendamos ao Senhor


Atendamos ao Senhor
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Fevereiro 1956

Deixa que a claridade do Evangelho penetre o teu coração, cada dia, a fim de que os teus pensamentos e atos sejam a carta que diriges ao Mundo e à Humanidade, em nome do Mestre Divino, a cuja sabedoria te afeiçoas.
Se recebeste o aviso da Boa Nova e se soubeste ouvir os apelos do Amigo Sublime, não vaciles na execução do mandato de amor que o Céu te confia.
A Terra aguarda o nosso testemunho de boa vontade, à maneira do campo que espera, ansioso, a devoção do cultivador.
Não hesites.
Ao redor de teus passos, a começar de teu próprio ambiente doméstico, há cipoais de aflição e charcos de angústia, espinheiros de discórdia e pedregulhos de incompreensão, desafiando-te a capacidade de servir.
Escutemos o Celeste Orientador e retiremo-nos da torre escura em que o nosso "eu" se refugia para o exame sistemático das consciências alheias, de modo a ombrearmos fraternalmente com todos aqueles que reclamam nosso entendimento e hoje mesmo é dia de começar.
Efetivamente, os falsos profetas que confundem os semelhantes são portadores de amargurosas experiências para a vida comum, tornando-se passíveis de repressão da Justiça Divina, mas não nos esqueçamos de que o aprendiz do Evangelho em fuga dos testemunhos que lhe competem, na aplicação com o Senhor, procurando enganar a si mesmo, é de todos os falsos profetas o mais lastimável e o mais infeliz.


Justiça e Amor


Justiça e Amor
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Fevereiro 1956

Enquanto alimentamos o mal em nossos pensamentos, palavras e ações, estamos sob os choques de retorno das nossas próprias criações, dentro da
vida.
As dores que recebemos são a colheita dos espinhos que arremessamos.
Agora ou amanhã, recolheremos sempre o fruto vivo de nossa sementeira. Há plantas que nascem para o serviço de um dia, quais os legumes que aparecem para o serviço da mesa, enquanto que outras surgem para as obras importantes do tempo, quais as grandes árvores, nutridas pelos séculos, destinadas à solução dos nossos problemas de moradia. Assim também praticamos atos cujos reflexos nos atingem, de imediato, e mobilizamos outros, cujos efeitos nos alcançarão, no campo de grande futuro.
Em razão disso, enquanto falhamos para com as Leis que nos regem, estamos sujeitos ao tacão da justiça.
Só o amor é bastante forte para libertar-nos do cativeiro de nossos delitos.
A justiça edifica a penitenciária.
O amor levanta a escola.
A justiça tece o grilhão.
O amor traz a bênção.
Quem fere a outrem encarcera-se nas consequências lamentáveis da própria atitude.
Quem ajuda adquire o tesouro da simpatia.
Quem perdoa, eleva-se.
Quem se vinga desce aos despenhadeiros da sombra.
Tudo é fácil para aquele que cultiva a verdadeira fraternidade, porque o amor pensa, fala e age, estabelecendo o caminho em que se arrojará, livre e feliz, à glória da vida eterna.
Quem deseje, pois, avançar para a Luz, aprenda a desculpar infinitamente, porque o céu da liberdade ou o inferno da condenação residem na intimidade de nossa própria consciência, Por isso mesmo, o Mestre Divino ensinou-nos a pedir na oração dominical: - "Pai, perdoa as nossas dívidas, assim como devemos perdoar aos nossos devedores".


Mediunidade em Marcha


Mediunidade em Marcha
S. B. Soares
Reformador (FEB) Fevereiro 1956


Com o surgimento, em nossa pátria, de um espécime extraordinário de mediunismo, que vem, ano a ano, oferecendo produções variadas, através das quais são abordados, com notável segurança, assuntos técnicos, científicos, sociológicos, históricos, políticos, apresentando-nos, ao mesmo tempo, magníficas e impecáveis páginas de poesias, e romances que empolgam, instruem e edificam nossas almas: quando, pois, já nos habituamos a receber esses trabalhos medianímicos de Francisco Cândido Xavier, acreditamos que dificilmente um novo aparelho possa surgir com aquelas características de docilidade na interpretação do pensamento, das ideias e dos conhecimentos das entidades que já deixaram o plano terráqueo, apresentadas pelo homem luz de Pedro Leopoldo.

A verdade, porém, é que o homem continua ainda muito ignorante acerca dos altos desígnios de Deus, E quem poderá, em sã consciência, perscrutá-los de maneira perfeita e acabada? Nós?... criaturas finitas? Absolutamente!

E a prova do que afirmamos tivemos nós, entre surpresos e empolgados, com a leitura do livro intitulado NAS TELAS DO INFINITO, verdadeira dádiva do Céu, porque nesse livro são explanadas, com brilho, elegância fraseológica e pureza doutrinária, dois episódios, ou melhor, duas novelas. A primeira intitula-se UMA HISTÓRIA TRISTE, de autoria do iluminado Espírito de Bezerra de Menezes; a segunda, O TESOURO DO CASTELO, cujo poder descritivo sacode nossos nervos, provocando-nos emoções Profundas. Devemo-la ao Espírito do notável romancista Camilo Castelo Branco! E quem as psicografou? Uma criatura humilde, resignada, que ganha, com o suor do próprio rosto, o necessário para viver pobremente, escrupulosa em extremo, a fim de não macular o sacrário de sua mediunidade, com possíveis proventos que dela, direta ou indiretamente, lhe possam advir.

Trata-se, enfim, da estimado consóror Yvonne A. Pereira.

Muito se tem falado e escrito a respeito das faculdades mediúnicas em geral, mas o certo é que a todo o momento se nos deparam novas expressões medianímicas. Sim, porque essa nossa irmã Yvonne psicografa, como nos relata ela mesma de um modo que nunca pudéramos supor. Sua psicografia se processa dentro de uma técnica que até então jamais tivéramos notícia.

Os estudiosos das faculdades mediúnicas encontrarão na obra por nós aludida, isto é, NAS TELAS DO INFINITO, elementos de pesquisa de grande valia.

Temos de convir que a época anunciada pelo Cristo, em que homens, mulheres e crianças haveriam de profetizar, a ponto de estarrecer, é naturalmente a que estamos vivendo, pois que, dia após dia, mais se sintonizam as duas ondas de intercâmbio entre encarnados e desencarnados.

Através das páginas de UMA HISTÓRIA TRISTE, surgem diante de nossos olhos cenas-lições que bem precisamos reter para que saibamos situar-nos no palco do testemunho, quando inesperadamente formos atingidos pelos dardos dos sofrimentos físicos e morais, porque esses sofrimentos foram plasmados por nossas próprias mãos, embora disso não nos recordemos agora, nos desastrosos instantes em que teimosamente nos olvidamos da lei substancial do Amor!

Bastas vezes, por coisas insignificantes, por contrariedades pequeninas, por uma dessas desilusões muito comuns na vida de relação, consideramo-nos infelizes, julgamo-nos a mais desgraçada das criaturas.

Pois bem, as seguintes palavras de Bezerra de Menezes, enfeixadas em UMA HISTÓRIA TRISTE, por serem muito oportunas para todos nós, na hora que passa, vamos transladá-las para estas colunas:

Como és frágil, e como lamento tal fraqueza, imprópria que é do adepto do Testamento de Jesus!
Infeliz eu! E porquê?..
Porventura é deserdado o crente cujas mãos sustêm o Evangelho do Senhor, o qual foi escrito para ele, e que para ele não mais apresentará mistérios nem dificuldades de penetração porque gloriosa intuição condu-lo por entre suas páginas redentoras? Será desgraçado aquele que confia numa Eternidade promissora, no seio da qual espera conquistar os mais legítimos triunfos, cercado das bênçãos paternais de um Ser Todo Amoroso e Todo Poderoso?.. aquele que crê porque sabe, que sabe porque lhe foram concedidas provas convincentes e que a seu lado sente vibrar as sombras desveladas do Além como tu neste momento?.. “

UMA HISTÓRIA TRISTE é de fato um repositório de ensinamentos empolgantes a respeito da dor, do infortúnio, das desventuras, das lágrimas e das amarguras!

Do encontro do Espírito da médium, quando em seu transe sui generis, com o de Camilo Castelo Branco, que muito se popularizou na Terra como romancista lusitano, destacamos este pequeno trecho, o qual, de certo modo, nos dá uma pálida impressão do que é essa novela, O TESOURO DO CASTELO.

Assim fala o Espírito de Camilo:

- “Sei eu que te deleitam os assuntos nobres doutros tempos. Apraz-me, por isso, narrar-te uma velha história de castelos assombrados e fidalgos orgulhosos, saturada com uma parcela delicada daquela essência preciosa a que jamais se desdenha aspirar, e que conceito eterno mantém entre mortais e imortais: Amor! Concentra em mim as tuas forças e a tua confiança...
Convenhamos que o que vais presenciar se passou há uns três bons três séculos nas lendárias terras do velho Portugal, que Deus preserve. Verás, a par da distração que a ti desejo proporcionar, que o Amor, a Bondade e a Beneficência são nobres qualidades indispensáveis à paz do homem, em qualquer estado em que se encontre; e que longas horas de amargores há de sorver o desgraçado que as repudiou por cínica preguiça ou por deduções insanas feitas em torno da vida, que em geral teimamos em amoldar às paixões pessoais, em vez de nos amoldarmos a ela, como o indica o critério bom da lógica, a fim de furtar a consciência a conflitos desastrosos ..”

*


As letras espíritas estão, pois, de parabéns com o aparecimento de NAS TELAS DO INFINITO, de Yvonne A. Pereira que, para alegria nossa, promete para breve novas produções mediúnicas de real valor para edificação de nossas almas!

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Nos trilhos mais íntimos


Nos trilhos mais íntimos
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Fevereiro 1956

Além da beneficência que o dinheiro pode realizar, sem espetáculos de orgulho uma caridade existe, ao alcance de todos, que pode frondejar e frutescer nos trilhos mais íntimos da luta de cada dia, começando de nosso próprio lar.

É o verbo que se cala, tolerante e bondoso diante da maledicência ou da palavra otimista que alimenta as boas intenções, convertendo-as em obras elogiáveis.

É a gentileza silenciosa que dispensamos ao vizinho, no cultivo da cordialidade, e a compreensão que perdoa sem alarde o gesto infeliz do companheiro de luta.

É o pensamento amigo que a bondade exterioriza, em favor do necessitado, e a prece oculta que podemos formular em benefício das vítimas do infortúnio ou das trevas.

É o servicinho aparentemente insignificante que somos capazes de prestar aos que seguem conosco na viagem do mundo, quais sejam a informação útil e espontânea ou a condução de um fardo pequenino.

É a generosidade com que será justo suportar a irreflexão do nosso interlocutor e a desculpa sincera para com as ofensas recebidas.

Dessa benemerência que parece perder-se no turbilhão da existência agitada, repleta de minúsculas manifestações supostamente desvaliosas de amor e entendimento, nasce a harmonia do mundo.

Aprendamos a tolerar-nos uns aos outros, sem atrito, sem mágoa e sem acusações.

Reconheçamos que a falta ou a enfermidade de alguém representam igualmente problemas nossos.

E não olvidemos que o nosso beneficiário de hoje poderá ser o nosso benfeitor de amanhã.

Situando, pois, o coração em todos os nossos gestos na vida, marcando a nossa romagem com o selo da boa vontade, em todos os acontecimentos e em todas as situações, estaremos efetivamente seguindo os exemplos e os passos de Amigo Celeste, que nos ajuda e socorre, de instante a instante, sem que possamos perceber.


Arma de dois Gumes


Arma de dois Gumes
Lino Teles (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Fevereiro de 1956

O pensamento é uma força criadora, sempre ativa, capaz de realizar milagres, quando exercitada com perseverança e intensidade.

Essa poderosa força não é, quase nunca, acionada pela lógica, com finalidade superior. É movida pelo sentimento, bom ou mau, e pode tornar-se arma muito perigosa, criando tormentos para o agente e para outrem quando mal dirigida.

Quando movida pelo medo, essa força engendra coisas pavorosas como a guerra, a tirania, o despotismo, as doenças graves, a loucura, o suicídio etc.

Pensando medrosamente que estamos ameaçados de um perigo, praticamos as maiores loucuras.

Quando dirigida pelo amor, essa força cria um paraíso para o pensador: retira-o de todas as realidades penosas e fá-lo viver em seu próprio mundo mental, povoado de alegrias que podem ser ilusórias, passageiras, mas de qualquer modo são deliciosas. É esta a situação do verdadeiro idealista que já goza os encantos de um futuro belíssimo, ainda inexistente no mundo objetivo mas para ele já real e vivo.

             Entre esses dois extremos, do bem e do mal, há um campo muito vasto de banalidades no qual o pensamento está sempre criando coisas de pouco valor, muitas vezes inspiradas pela sede de gozos pelas vaidades fúteis, por egoísmos infantis, pelo desejo de salientar-se. Poderíamos dar-lhe o nome de “campo de passatempo” ou “campo do tempo perdido”, porque nele realmente ficamos estacionados durante tempo incalculável, até que a dor caridosamente nos venha despertar da ociosidade.

As doutrinas que nos amedrontam com ameaças de sofrimentos eternos no Além-Túmulo, como as das igrejas, engendrando em nossa alma sentimentos negativos e desânimo, acionam nosso pensamento para a criação de doenças, privações, desespero, profundas tristezas, insucesso em todos os empreendimentos. Tais doutrinas, enquanto foram realmente aceitas, causaram tremendos males à Humanidade. O último mal que criaram, e que não foi o menor, foi a descrença generalizada em qualquer forma de sobrevivência à morte do corpo, a negação pura e simples da vida espiritual e de Deus, e, consequentemente, o desprezo pelo homem e pela vida. A Humanidade passa hoje pela fase penosa dessa descrença que se originou do pessimismo religioso das igrejas que criaram o Inferno para a quase totalidade dos homens e negaram qualquer princípio espiritual aos animais.

As doutrinas sublimes que ensinam a Salvação universa!, como o Espiritismo, a Teosofia, o Budismo, criam pensamentos de fé que remove montanhas, engendram ideais para realização, a longo prazo ou sem prazo, dentro da eternidade e do infinito. Transformam tudo tais doutrinas de otimismo, e nos dão força de criarmos desde já o mundo ideal que ambicionamos e que sabemos com absoluta certeza que virá a existir, porque todos os seres são progressivos, quer queiram quer não, e rumam para a perfeição moral que há de santificá-los e levá-los a organizações harmoniosas e belas.

Com a posse de tais doutrinas que ensinam e provam a reencarnação e o aperfeiçoamento espiritual, o pensamento deixa de ser uma força perigosa e passa a funcionar como a mais construtiva das ferramentas.

Sabemos que uma grande parte dos terrícolas não se acha com evolução bastante para assimilar as doutrinas idealistas como a do Espiritismo, porque conservam os velhos hábitos da maledicência, da descrença, e passam superficialmente pelos grandes princípios que nos são revelados. Fazem do Espiritismo novo campo de batalha contra os adversários ou até contra companheiros, São espíritos que em tudo encontram motivo para se aborrecerem; mas esta situação é passageira, terá que ser substituída pelo otimismo sadio dos que já sabem criar seu mundo feliz e nele habitar, ao abrigo de todos os perigos.

No movimento espírita brasileiro, que já vem realizando obras maravilhosas em relação ao número percentual da população, sentimos a força do pensamento canalizado para grandes transformações, para uma verdadeira revolução do mundo. É dentro do movimento espírita brasileiro que surgem os esperantistas mais ardorosos, crentes fervorosos na vitória do ideal esperantista. A fé dos espíritas esperantistas remove todas as montanhas na criação de um mundo melhor; firma a segurança da vitória de todos os grandes ideais.

Para o espírita esperantista consciente, não existe a força perigosa do pensamento; só existe a força criadora invencível do pensamento. E como salário antecipado ele já vive desde hoje no mundo ideal que seu pensamento sabe criar; já leva o seu céu no coração, quer esteja na masmorra da carne ou nas luzes da Espiritualidade.

domingo, 19 de novembro de 2017

O Sentido da Humildade


O Sentido da Humildade
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Fevereiro 1956

Devemos enaltecer a humildade? Sem dúvida alguma porque ela exprime a simplicidade de coração. Ser simples de coração é ser bom. A bondade não justifica simulações porque, então, seria apenas hipocrisia. O homem humilde, segundo o conceito evangélico da humildade, tem de ser substancialmente bondoso. Um celerado nunca poderá ser verdadeiramente humilde, porque não há bondade em seu coração. Pode parecer simples e temo, mas seus atos provarão logo tratar-se de um mistificador. Quando Jesus disse: “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”, não admitiu, por certo, que se pudesse confundir humildade com simulação.

*

Acreditamos nos bons frutos da humildade, porque é preciso possuir força espiritual para cultivar essa virtude extraordinariamente bela.

Quando nos referimos à conveniência de ser humilde, não estamos pensando na humildade simulada, mas na humildade virtude, que é sincera e sendo sincera não pode casar-se senão com outra virtude. Cremos na humildade como atributo superior do espírito, e Jesus foi e é o símbolo dessa virtude magnífica, de que deu provas exuberantes em todo o decurso de sua passagem visível pela Terra. Os humildes são limpos de coração e, consequentemente, bem-aventurados, e porque eles verão a Deus”. Que seríamos nós, perante o Mestre, se não procurássemos realizar cotidianas tentativas de progredir na humildade, nós que a achamos tão bela? Como, pois, devemos encarar o comentário injusto e amargo em torno do que pensamos sobre a condição de ser humilde, senão com serena humildade? Não ensinou o Mestre que devemos ser mansos de coração? “Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa.”

*

Jesus foi humilde perante o Sinédrio e diante de Pilatos. Foi humilde sempre, mas dessa humildade dignificadora, porque construtiva e exemplar. Nem outra é a humildade a que nos temos referido. Ainda quando traído, o Nazareno, entre os guardas que o haviam prendido, não se exaltou, não esboçou nenhum protesto, mas se manteve em uma humildade que era força. A um guarda mais violento, ponderou com a voz tranquila: “Viestes armados de espadas e varapaus, para me prender, como se eu fosse salteador... Todos os dias eu estava convosco no Templo ensinando, e não me prendestes; mas isto é para se cumprir as Escrituras.” E as Escrituras se cumpriram.

*

São várias as maneiras de cultivar a humildade. O homem que não se envaidece com o que faz ou com o que dele dizem, é um humilde. O homem que não procura notoriedade, preferindo realizar seu bom trabalho apenas com a preocupação de cumprir os deveres, é um humilde. O homem que exerce a tolerância, silenciando ante os agravos, reconhecendo que acima da precária justiça humana se encontra a superior Justiça de Deus, é um humilde. O homem que domina seus impulsos inferiores, educando-se a todo instante, está, sem dúvida alguma, na trilha da humildade. Finalmente, ser humilde é ser simples; ser simples, é ser bom; ser bom, é estar realizando o programa evangélico. 

“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus”.


O Olhar de Jesus


O Olhar de Jesus
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1956

Recordemos o olhar compreensivo e amoroso de Jesus, a fim de esquecermos a viciosa preocupação com o argueiro que, por vezes, aparece no campo visual dos nossos irmãos de luta.  

O Mestre Divino jamais se deteve na faixa escura dos companheiros de caminhada humana.

Em Bartimeu, o cego de Jericó, não encontra o homem inutilizado pelas trevas mas sim o amigo que poderia tornar a ver, restituindo-lhe, desse modo, a visão que passa, de novo, a enriquecer-lhe a existência.

Em Maria de Magdala não enxerga a mulher possuída pelos gênios da sombra, mas sim a irmã sofredora, e, por esse motivo, restaura-lhe a dignidade própria, nela plasmando a beleza espiritual renovada que lhe é transmitiria, mais tarde, a mensagem divina da ressureição eterna.

Em Zaqueu, não identifica o expoente da usura ou da apropriação indébita, e sim o missionário do progresso enganado pelos desvarios da posse e, por essa razão, devolve-lhe o trabalho e o raciocínio à administração sábia e justa.

Em Pedro, no dia da negação, não repara no cooperador enfraquecido, mas sim, o aprendiz invigilante, a exigir-lhe compreensão e carinho, e, por isso, transforma-o, com o tempo, no baluarte seguro do Evangelho nascente, operoso e fiel até o martírio e a crucificação.

Em Judas, não surpreende o discípulo ingrato, mas sim o colaborador traído pela própria ilusão e, embora sabendo-o fascinado pela honraria terrestre, sacrifica-se, até o fim, aceitando a flagelação e a morte para doar-lhe o amor e o perdão que se estenderiam pelos séculos, soerguendo os vencidos e amparando a  justiça das nações.

           Busquemos algo do olhar de Jesus para nossos olhos e a crítica será definitivamente banida do mundo de nossas consciências, porque, então, teremos atingido o Grande Entendimento que nos fará discernir em cada ser do caminho, ainda mesmo quando nos mais inquietantes espinheiros do mal, um irmão nosso, necessitado, antes de tudo, de nosso auxílio e de nossa compaixão. 

Um caso original




Um caso original
H. Magalhães
Reformador (FEB) Abril 1943

O Dr. Alberto Freire, jovem médico, é um cientista de alto valor. Educado num colégio protestante, em Juiz de Fora, abraçou essa religião. Teve por mestre um missionário do bem, o que muito o auxiliou a formar um caráter probo, com raízes
no Cristianismo...

Sua esposa apresentava sinais evidentes de mediunidade, repelidos, no entanto, pelo esposo, por serem tais manifestações proibidas pela seita protestante. Aliás, essa faculdade de há muito vinha sendo notada por uma tia do facultativo, médium, em sua sobrinha, desde tenra Idade.

- Você chame-me de maníaca - dizia ela ao sobrinho - mas, tenho a certeza de que em breve será um dos nossos.

- Qual - revidava ele, dando uma gargalhada - jamais acreditarei nessa balela. Só aceito o que a ciência demonstra.

Nesses momentos trazia à colação nomes laureados pela chamada ciência oficial, com a sua bagagem de argumentos contrários ao Espiritismo. A tia esperava a ocasião oportuna e esta chegou afinal.

Um belo dia a esposa foi tomada na rua por Espíritos rebeldes, não regressando ao lar à hora costumeira. O esposo falou para as pessoas da família, Assistência e Polícia, sem lhe descobrir o paradeiro. Quando começava a desesperar, surge-lhe ela em casa, acompanhada de um guarda municipal.

- O que aconteceu? - perguntou o cientista, com a alma apreensiva.

- Encontrei-a na rua, falando sozinha! - disse o guarda, designando o local do encontro. Interrogando-a, disse-me que morava aqui. Desconfiei tratar-se de um desequilíbrio mental, por isso resolvi acompanhá-la à sua residência. Peço-lhe ir, amanhã, ao Distrito, para explicações, afim de salvaguardar a minha responsabilidade.

O facultativo ficou macambuzio. Logo que a esposa melhorou, perguntou-lhe:

           - Porque saiu, sem me comunicar? O que foi fazer para aqueles lados?

- De nada me lembro - respondeu. Não sei o que se passou comigo. Estou deveras impressionada.

Ela era o que chamamos médium inconsciente. Contudo, passado o primeiro susto, caiu tudo no esquecimento, apesar das advertências sinceras da boa tia. Tempos depois, há aproximadamente dois anos, o jovem cientista chegou à casa, encontrando tudo em alvoroço. Os livros da estante estavam espalhados pelo chão, o mesmo acontecendo à louça e a outros objetos. No quarto de dormir um amontoado de vestidos e roupas.

- Fulana, chamou ele pela esposa. Silêncio absoluto. - Fulana! - Ia repetindo. Ninguém respondia. Foi ao quintal, revistou toda a casa e nada. - Fui roubado -  pensou. - e minha mulher fugiu apavorada. Dirigiu-se, pois, à porta, a fim de ir comunicar o caso à polícia. Quando pegou no trinco e puxou, ele se negou a correr. Que diabo tem aqui dentro? - monologava.

Instintivamente voltou ao quarto de dormir, já agora bastante contrariado, dando um pontapé no montão de roupas espalhadas. Descobriu então a esposa, inerte, no chão, tendo enfiada na cabeça e amarrada no pescoço uma fronha. As mãos, igualmente amarradas nas costas com a borracha dum irrigador, que se achava no local. Dentes cerrados, respiração fraca, olhos fechados. Chamou-a pelo nome sem, no entanto, obter resposta.  

Desamarrou, como pode, os complicados nós, perdendo nessa operação um tempo precioso.

A seguir, tentou suspendê-la, mas o seu corpo tinha redobrado de peso. Parecia de chumbo. Na suposição de que tivesse sido vítima dum ataque, preparou uma injeção. Quando ia aplicá-la, quebrou a agulha. Preparou outra, mas a agulha envergou.  Tentando injetar pela terceira vez, a esposa suspendeu a mão espalmada, fazendo sinal que parasse. Parece um caso de Espiritismo - raciocinou o nosso herói, ao mesmo tempo que seus cabelos se eriçavam. Resolveu chamar uma vizinha, a fim de o auxiliar.

Nessa ocasião a porta se abriu, sem a menor dificuldade. Quando a vizinha chegou e viu aquilo, começou a tremer. - Isto é coisa do outro mundo, seu doutor - disse ela, com os olhos arregalados. - Vá embora, ordenou ele, irritado. A senhora tem menos coragem do que eu.

Nesse instante, lembrou-se de que alguém lhe tinha falado dum espírita, morador nas proximidades. Para lá se dirigiu, implorando o auxílio do bom homem.

Chegando este, fez uma prece. A certa altura, a atuada deu um pulo e pôs-se de pé. Meio atordoada, manteve-se nesse estado pelo espaço de uma semana.

A conselho do espírita o marido levou-a a uma sessão. O remédio - disseram-lhe os guias – é o desenvolvimento mediúnico. Trouxe essa missão e, se não a cumprir, sofrerá as consequências. Como da outra vez, a moça não se lembrava do acontecido. Nada desaparecera da casa; excluída ficou, portanto, a hipótese de roubo. Que teria sido, então? Porque a porta não se abrira? Quem teria amarrado a senhora, cobrindo-a com roupas e espalhando tudo pelo chão? Puro mistério.

Diante desse amontoado de provas, rendeu-se à evidência o médico, - Então - argumentou a tia satisfeita, logo após o fato - não lhe disse que você ainda viria a fazer parte dos malucos?! ...

É verdade - respondeu-lhe o jovem – até aqui andava no mundo da lua. Agora, graças a Deus, arranque! as escamas dos olhos!

*


É autêntico, em todos os pontos, o caso que acabamos de narrar. Somente não damos o nome verdadeiro do protagonista, para lhe poupar incômodos oriundos da curiosidade malsã. 

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Humildade e fraternidade


Humildade e fraternidade
Luiz Gomes da Silva
Reformador (FEB) Abril 1943

Ao relermos os Evangelhos de Jesus, afigura-se nos que as lições ali contidas são mais belas do que quando as estudamos pela primeira vez. São sublimes todos os ensinos evangélicos; mas, o que Jesus nos deu, de humildade e fraternidade, ao se dispor a lavar os pés dos seus discípulos, não encontra paralelo na história da humanidade. É tão grandioso que desejáramos o tivessem de contínuo todos os espíritas em suas mentes, para que o Espiritismo não fosse desviado do curso por Deus traçado.

Não há quem ignore que diariamente as fileiras espiritas se engrossam de novos crentes que, recrutados pela dor no seio do materialismo, onde predominam o orgulho, a vaidade, o egoísmo, trazem para os meios espiritas toda essa bagagem, da qual dificilmente consegue desembaraçar-se o homem. Dessas criaturas não seria cabível esperar-se que seus atos se caracterizassem, desde o primeiro momento, pelo cunho da humildade e da fraternidade. Fora querer o impossível. O que é inacreditável é que os espíritas militantes, que já perlustraram centenas de vezes o Evangelho e propagam a sua doutrina ainda manifestem, através de seus escritos, falta de fraternidade para com aqueles que tudo sacrificam, na intenção de servirem a Jesus. Isto somente porque entendem ser sábio, justo e infalível o critério de que usam, devendo, pois, todos orientar-se por ele.

A história da santa inquisição está cheia de atentados à liberdade de pensamento. Precisamos não esquecer que o Mestre, Allan Kardec, foi vítima dessa santa inquisição; que foi ferido no íntimo da sua alma de missionário, ao receber a notícia de que seus livros, enviados para Barcelona, seriam aí queimados em praça pública, por ordem do bispo daquela cidade, como obras heréticas, Ninguém duvida de que o bispo de Barcelona fosse um homem culto e se considerasse fervoroso servo de Jesus; mas, como todas as criaturas humanas, não era senhor de toda a verdade, razão por que, não podendo compreender as que se continham nas obras espíritas, sobre estas lançava anátema.

Não estarão no caso do bispo de Barcelona os nossos irmãos que com tanta aspereza combatem a obra de Roustaing? Não conterá ela verdades que ainda escapam aos seus Espíritos, por não as poderem assimilar? Deixemos que os espíritas não só leiam o Roustaing, como também tudo quanto possa contribuir para a evolução de seus espíritos, a fim de que, se Allan Kardec novamente reencarnar em nosso planeta, não sejamos nós os primeiros a apedrejá-lo, pelo dizer coisas que na sua encarnação anterior não disse, por não nos acharmos em condições de as compreender.

Jesus, ao lavar os pés dos apóstolos, bem sabia que eles ainda não estavam à altura de compreender a lição que lhes dava, que só mais tarde a entenderiam, como também as gerações futuras, ás quais se dirigiam sempre seus ensinos. Mediante o lava-pés, firmou Ele, com grande relevo, o dever de serem humildes e fraternos todos os homens. Apesar de ter consciência de que era um Espírito superior, nivelou-se aos seus apóstolos, dizendo: "Não é o servo mais do que o Senhor, nem o Senhor mais do que o servo". Quando disse a Pedro que, se lhe não lavasse os pés, esse apóstolo não teria parte com Ele, foi como se houvera dito, antecipadamente, que sem o amor fraterno nós, os espíritas, também com Ele não teríamos parte.

Até há pouco, foi-nos dito que "fora da caridade não há salvação", a fim de abrirmos mão de algumas migalhas guardadas pelo nosso egoísmo e as darmos aos chamados pobres. Hoje, dar de comer a quem tem fome, vestir os nus e velar pela velhice desamparada constitui obrigação de que nem os ateus se esquivam; o amor ao próximo, porém, como a nós mesmos, a lealdade e a sinceridade em nossas expressões para com os nossos irmãos, o apertar-lhes a mão e abraçar, como se abraça um filho que esteve ausente, com a alma a vibrar de amor, como fez Jesus, isto ainda é difícil. Faz-se apenas na aparência, pois temos observado haver
criaturas que, quando se encontram, não dispensam o aperto de mão e o abraço, como expressão de estima fraternal, mas que, dias depois, se voltam umas contra as outras, como se foram sempre inimigas.

É de lastimar-se que tal aconteça; infelizmente, porém, ainda tem que ser assim, por mal nosso, devido à nossa grande inferioridade moral. Anima-nos, entretanto, o podermos reconhecer que nem tudo está perdido. Como disse Jesus, já se veem ao longe os campos a branquear. Graças a Deus e ao mesmo Jesus, já vemos nalguns lugares os espíritas darem prova de amor fraterno. Em vários pontos do nosso país, esboça-se entre os espíritas um movimento no sentido de se organizarem, conjugando esforços em prol dos ideais cristãos, movimento esse que implica uma aproximação fraterna, que necessariamente há de produzir bons frutos, a atestarem a edificação de suas almas nos ensinos evangélicos.

Permita o Senhor possam esses irmãos prosseguir na tarefa empreendida, pois que seus esforços certamente serão abençoados e servirão de estímulo a muitos outros, que ainda se comprazem no isolacionismo e no separatismo, que nada têm de espíritas, nem de cristãos, em face dos Evangelhos em espírito e verdade, onde
rebrilha a palavra de Jesus, pregando a união, a fraternidade, a humildade, a tolerância, sem as quais não pode haver o amor recíproco, que Ele declarou ser a característica única dos seus verdadeiros discípulos.


O Panteísmo de Allan Kardec


O panteísmo de Allan Kardec
Carlos Imbassahy
Reformador (FEB) Abril 1943

No seu livro de ataque ao Espiritismo, descobriu o muito digno Sr. padre Zioni que Kardec é panteísta. E se bem o disse, melhor o provou.

Vejam, agora, a documentação que ele apresenta, deixando no ânimo dos leitores, em geral, em especial no dos alunos do Seminário, a convicção do panteísmo de Kardec. Assim, transcreve ele de “Le Spiritisme à sa plus simple expression.”:

"Deus atrai todos a si mesmo”.

Entre parênteses, acrescenta o professor: "Note-se a ideia panteísta".

Notaram? Agora, por exemplo, diz alguém: O mestre chamou a si todos os alunos. É uma ideia panteísta, notaram?

A Irmã Paula chamou a si todos os necessitados... Quem não notará o panteísmo da irmã Paula?

"O reverendo foi de porta em porta e, procurando encaminhar aquelas almas para Deus chamou-as todas a si".

Panteísmo no caso.

O professor, a irmã Paula e o reverendo estavam emitindo ideias panteístas. Note-se.

É muito comum e as histórias estão cheias de tais relatos, dizer alguém, quando invoca auxilio ou socorro: - "A mim, a mim!" "é: mim, os mosqueteiros do rei!".

Os pedintes, sem o saberem, provavelmente estão fazendo panteísmo.

Notará, entretanto, na frase atribuída ao Kardec (quem não tiver preconceitos eclesiásticos, que a Deus se atribuía a bondade de chamar ao seu seio, ou ao seu reino ou a mansão da felicidade, indistintamente, todas as criaturas.

É isto o que é chamar a si.

Outro lanço em que o reverendo deixa irretorquivelmente provado o panteísmo kardecista:

"Pela morte do ser orgânico os elementos que o formavam sofrem outras combinações para construírem outros seres, os quais tiram da fonte universal o princípio da vida e atividade absorvendo-o e assimilando-o para o restituírem a esta fonte, quando cessarem de viver.

Notaram? Eu, com franqueza, não consegui notar coisa nenhuma.

Que é que tem aquilo com panteísmo? 

Porque as diversas combinações sofridas pelos seres orgânicos importariam em ideias panteístas? Ou o padre ensinará aos seus alunos que seres orgânicos são seres espirituais?

Orgânico é aquilo que tem órgãos. Refere-se a corpos, corpos organizados.
Todos sabem, os que têm ligeira tintura de história natural - que os corpos vegetais e animais nascem, crescem, vivem e morrem. Mortos, voltam ao laboratório da natureza, onde se transformam em novos corpos. O cadáver decompõe-se e nos imensos fornos da natura transmuda-se, e o corpo disforme, infecto, pútrido renasce em cotilédones, em hastes, em folhas, em galhos, em flores, em frutos...

Qualquer colegial sabe disto, provavelmente com exceção dos seminaristas do Central do Ipiranga. Kardec, consequentemente, não ensinou coisa nenhuma de panteísmo; apresentou, apenas, uma noção que se encontra, com pequenos acréscimos, em qualquer epitome de ciências físicas e naturais.

Outra demonstração. Transcreve do Kardec o reverendo:

"Deus sendo eterno, deve haver criado incessantemente. Deus, espírito e Matéria constituem o princípio de tudo o que existe - a trindade universal.

Fomos procurar onde Kardec teria dito aquilo, pelo menos para saber se ele tinha, de fato, escrito, ou porque escrevera espírito com ‘e’ pequeno e Matéria com ‘M’ grande.

Baldado empenho.             

A citação é de Justino Mendes. O padre Zioni cita Allan Kardec através do Padre Justino.

Qual o processo de verificar o que disse o Kardec, onde o disse, como disse? Não o sabemos.

Já Ruy Barbosa censurava esse processo de citar, principalmente quando tais citas constituíam prova.

Assim se exprimia o notável jurista:

"O costume que o professor seguiu, de citar unicamente o nome do clássico, sem a obra e o lugar onde se acha a passagem transcrita, não satisfaz, nem se explica. Admite-se nos manuais escolares, por não os carregar de notas e lhes avultar o porte. Mas, em trabalhos de crítica, maiormente nas polêmicas, é injustificável. Ou o escritor cita de primeira mão, e nada lhe custará declarar de onde o faz; ou de segunda e terceira, e então, se o livro de onde tirou, for igualmente omisso, os seus documentos não estão verificados, nem são verificáveis; o que os priva inteiramente de valor." (Réplica, 14.)

Cabe inteira a carapuça no ilustre reverendo.

Qualquer, porém, que fosse a mão em que ele houvesse apanhado o texto que transcreveu, o que não notamos é onde ressumbra ali algo de panteísmo.
O que diria o Kardec é que existe Deus, espírito e matéria, e tudo no Universo se resume nessa trindade. Pois não é?..

Pois não sabe o reverendo e não sabe todo o mundo que existe Deus, que existe o espírito, e que existe a matéria?

E há alguma coisa fora da matéria, espírito e Deus?

A existência de Deus não a negará o reverendo.

Que tudo o mais que existe ou é matéria ou é espirito, ou promana de uma ou de outro, proclama-o a ciência, a filosofia e a religião.

Kardec, pois, não fez mais que repetir um axioma velhíssimo, estafadíssimo. Se o reverendo acha que isto é panteísmo - doutrina interessante pela sua originalidade - a culpa não cabe ao Kardec.

*

Se em questões de tão pequena monta, e tão triviais, tropeça, claudica e erra o professor do Seminário, imagine-se o que poderá ser a sua ofensiva aos conceitos, aos ensinos, aos postulados do Espiritismo.

Temos um pequeno exemplo na maneira por que trata do perispírito e o discute.

Vejamos as suas proposições:

"A função do Perispírito é servir de substratum para as materializações..."

Pelo dito, parece que o perispírito só tem essa finalidade: servir de substratum às materializações.

Temos ainda:

O Perispírito prende-se ao corpo, pelo chamado cordão umbilical, visível nas sessões como um fio luminoso. Este último torna-se visível se leva consigo moléculas do corpo do médium.

Esta visibilidade do cordão umbilical quando leva consigo moléculas do corpo do médium foi ensinada pelo padre Lacroix e por d. Otavio Chagas de Miranda.

O que não sabemos quem ensinou é o trecho que se segue:

"Sua finalidade (a do perispírito) é prender a alma ao corpo. Não pode portanto separar-se do seu espírito, sem que advenha a morte do indivíduo."

O que nós sabemos é que o perispírito nunca se separa do espírito. A hipótese de que se possa separar, palpita-nos que seja teoria ou ensinamento do reverendo Lacroix ou de Monsenhor Miranda, nunca de Allan Kardec.

"Os presentes a uma sessão espirita que têm vibrações iguais às do médium, podem fornecer parte do seu Perispírito para as materializações."


Os presentes a fornecerem parte do seu perispírito para as materializações, deve ser ainda, um luminoso ensino de d. Miranda ou do padre Lacroix; nunca, porém, de Allan Kardec ou espírita que saiba alguma coisa.