"A Igreja romana não relegou para segundo plano o pai, fazendo do filho o objeto exclusivo de seu culto de adoração? E o culto prestado a Maria já não ameaça substituir o que ela, a Igreja, presta ao filho? "Mas virá o tempo, e já veio, em que os verdadeiros adoradores adorarão o pai em ESPÍRITO E VERDADE; esses são os adoradores que o pai quer. " "Os Quatro Evangelhos" de J.-B. Roustaing, à pág. 221 - Vol 4 - 7ª Ed. (FEB) 1990.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2020
A partir de agora...
A partir
de agora...
José Brígido (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Novembro 1963
Certa vez, quando se achavam estremecidas as relações
entre os dois homens, os mentores espirituais fizerem que seus Espíritos se
encontrassem, durante o sono, no mundo invisível. Foi, então, fixado o seguinte
diálogo:
- Temos tanta necessidade de ser humildes quanto de respirar para sobreviver. Talvez até necessitemos mais da humildade... No entanto, ainda somos manejados por hábitos e preconceitos seculares, fortalecidos por uma educação moral defeituosa e mal dirigida. A verdade é que eu e você somos iguais: temos vaidade e orgulho, não gostamos que nos mostrem falhas, principalmente nos assuntos em que nos consideramos seguros.
- Pensando bem, é isso mesmo. Mas você...
- Sim, eu... Sei o que você está pensando. Não diga mais "você"; diga nós... Compreendo ser também assim, embora, às vezes, pense estar liberto dessas imperfeições.
- Curioso: lá embaixo o orgulho não nos deixa ficar
juntos e conversar assim, com sinceridade, como estamos conversando aqui. Você
me evita, eu evito você... Como as coisas mudam, não é?
- Sem dúvida. Ainda somos felizes por poder verificar
essa diferença. Tudo também pode depender, até certo ponto, do ambiente em que
vivemos. Na realidade, todos somos excessivamente individualistas. Egoístas,
diria melhor. .Julgamos sempre valer mais do que realmente valemos. Ai está o
mal.
- Agrada-me que você pense assim, tão superiormente. Se
disto nos lembrarmos quando regressarmos ao corpo que nos espera, poderemos
fazer as pazes e voltar a ser amigos.
- Se não nos lembrarmos de tudo, haveremos de guardar alguma coisa e esse nada nos ajudará a desbastar as arestas dessa desafeição idiota em que nos achamos na Terra. Se somos compreensivos agora, poderemos ser compreensivos também na Terra. Sabemos que nos falta humildade. Sabemos aqui, mas lá não nos lembramos de socalcar a nossa vaidade e dominá-la.
Nessa ocasião, uma luminosa entidade se aproximou de
ambos e entrou na conversa. A voz mansa, mas firme, denotava experiência:
- Você tem maior responsabilidade - disse para o primeiro dos interlocutores - porque está no Espiritismo, conhece a Doutrina Espírita e o Evangelho. Não deveria incorrer nos erros em que às vezes se afunda como um nadador desatento.
Voltando-se para o outro, ajuntou:
- Mas nem por isso você é menos responsável, embora não
aceite o Espiritismo e não conheça a Doutrina Espirita. Já possui uma preparação
mental capaz de lhe dar a medida da responsabilidade de cada ser humano em face
de um seu semelhante. A sua experiência já lhe permite distinguir o bem e o
mal. Portanto, não se considere isento de culpa, mesmo porque o seu passado
espiritual lhe aconselha mais vigilância nos atos e nas palavras. Os deveres
que cada uma das criaturas humanas traz ao encarnar não são diferentes só
porque um professa esta religião e outro professa religião diferente. Nada
disso. Todo homem tem um programa a cumprir, uma obrigação a realizar, quando
deixa o mundo espiritual e penetra no mundo terreno. Todos carregam o seu fardo
cármico, com as suas responsabilidades, as suas aflições, as suas dores. Todos são
devidamente instruídos ao deixarem o plano espacial e nenhum pode alegar ter
sido lançado à Terra sem prévia advertência dos mentores que trabalham pela
redenção de cada um. Além disso, nenhum anda SÓ. Todos têm um acompanhante
fiel, que procura alertá-lo, ajuda-lo nos momentos cruciais da vida. Mas nenhum
acompanhante pode agir em detrimento do livre-arbítrio daquele que lhe cumpre
seguir. Se a sua responsabilidade é menor em face deste seu companheiro de
jornada terrena, nem por isso lhe isenta de culpa. Todos os que quebram ou
favorecem a quebra dos laços de fraternidade, sejam quais forem os pretextos,
são corresponsáveis pela desarmonia. Quem o diz não sou eu, mas o espelho cármico
que todos possuímos, no qual se refletem as nossas virtudes e as nossas imperfeições
morais.
Depois de observar o efeito de suas palavras sobre os
dois Espíritos que, temporariamente divorciados da Terra, aquiesciam em trocar ideias
no Espaço, a entidade recomeçou a falar:
- Vocês estão vendo esses dois amigos que lhes estão
próximos? Não? E agora, conseguem vê-los? Bem. São os seus Espíritos-guias. Os
seus “anjos da guarda”, como costumam dizer lá em baixo. A neblina materialista
impede que vocês os vejam, mas eles estão sempre presentes em sua vida, na hora
alegre e na hora triste. Exercem a fidelidade como um sacerdócio sacrossanto.
Têm muito trabalho para evitar que vocês se desviem do bom caminho e sofrem
extraordinariamente quando falham, menos por eles do que pela impertinência de
vocês. Felizmente, dizem-me eles, vocês não são muito rebeldes. Isto já
representa alguma coisa.
Num tom ainda mais amistoso, a entidade prosseguiu:
- Vamos conversar um pouco mais intimamente, porque o
raiar do dia se aproxima e vocês terão de iniciar suas tarefas terrenas logo
que regressarem à Terra. Não pensem que sou um santo. Já fui também como vocês.
Até bem pior. Não gostava de ser contrariado, procurava fazer valer as minhas
opiniões, ainda que absurdas. Irritava-me por qualquer coisa, não admitia discordâncias.
Como sofri! Eu mesmo criava em torno de mim uma atmosfera desfavorável, fluidos
que impressionavam desagradavelmente a quantos de mim se acercavam. Em lugar de
compreender que eu era o causador desse ambiente inferior, queixava-me de
todos. Ninguém servia para mim, todos, por melhor que fossem, tinham um
defeitozinho... A questão era observar. Em vez de me contentar com as qualidades
das pessoas, eu procurava, com a tenacidade de um garimpeiro, descobrir lhes as
deficiências. E, ao apontá-las, nunca me ocorria que eu as tinha duplicadamente...
Sofri muito!
Suspirou com certa tristeza, recomeçando logo:
- O sofrimento exerceu sobre mim, paulatinamente, uma
ação retificadora. Foi dando polimento ao meu estado moral. Reencarnei diversas
vezes sem melhorar muito até que, numa dessas reencarnações, apesar da
descrença que me dominava a respeito de religiões, encontrei no Espiritismo a
bússola que me irá fazer reencontrar o rumo perdido, o caminho da minha
educação. Não foi fácil. Os princípios da Doutrina Espírita nos ensinam a arte
do bem viver na Terra e os meios de cultivar a amizade e a simpatia dos nossos
semelhantes, a fim de que, ao voltarmos ao mundo espiritual, achemos a subida
menos difícil. Mas, tudo custou muito. Eu lia muito, frequentava muitos
Centros, ouvia palestras, porém não conseguia reter os belos ensinamentos para
cumpri-los sem defecção. Falhei muito, vendo malogradas inúmeras tentativas de
exemplificação, porque o meu Espiritismo era para uso externo. Eu aconselhava a
Doutrina a outros irmãos, mas não a seguia.
Citava passagens do Evangelho, sem,
contudo, delas me recordar quando precisava dar o exemplo. Semelhante
procedimento fez que eu sofresse ainda mais. Lutei, perseverei, vendo magníficas
oportunidades perdidas. Sinto-me agora menos inseguro e mais animado para
continuar o meu trabalho de auto aperfeiçoamento. A dor causada pela falta de
exemplificação, pela oportunidade que nos é oferecida e não a aproveitamos, é indescritível.
É uma dor moral profunda, meus amigos. Mais vale sofrer por fidelidade à
Doutrina do que por apego a hábitos e costumes que a contrariam. Ninguém pode
exemplificar bem a Doutrina sem exercer a humildade legitima.
Ouvimos em silêncio todas as palavras do mentor esclarecido.
Que poderíamos dizer, se o nosso nível espiritual não nos permitia sequer
sentir sem abalo a forte vibração fluídica desse amigo? É fácil conquistar a humildade?
Ele sentiu a nossa pergunta e respondeu:
- Não, é difícil, muito difícil. Ela tem de ser
conseguida através da renúncia diária ao que presumimos ser indispensável à
importância da nossa vida terrena, moralmente falando. A sua conquista pode ser
fácil quando o passado cármico não é demasiadamente denso. Caso contrário, não
será trabalho de um dia. Pode levar anos. Para ser sólida, precisa de cultivo
permanente, de todos os instantes, cotidianamente. É fruto de ação pertinaz e
indefectível. Não é humildade o sentimento que se exerce esporadicamente. Exige
a reforma do sentimento íntimo. Não é tarefa difícil de realizar, mas a sua
conquista constituí a maior vitória do Espírito. Mas não confundam humildade
com subserviência. A humildade dignifica o Espírito; a subserviência o rebaixa.
Ninguém deve renunciar ao esforço reconstrutivo quando fracassar. A cada queda,
nova tentativa, novo esforço para não cair, até que consiga manter-se de pé e,
com alegria, verificar a vitória obtida sobre si mesmo. A reeducação espiritual
é trabalho tão precioso na Terra quanto o da alimentação cotidiana a que vocês
estão sujeitos na vida material. Mas cuida-se pouco do Espírito. Não é só
frequentar Centros Espíritas e igrejas que promove o apuramento da alma. É mister
seguir o itinerário espiritual com coragem e persistência para obter
benefícios. Esses benefícios serão tanto maiores quanto maior for o interesse
que tomarmos pelos nossos semelhantes. Há muitas formas de ajudar, muitas
maneiras de fazer o bem. O exercício da caridade é o caminho mais curto da
salvação, diz “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Ditas essas palavras, a entidade espiritual se despediu,
deixando nos dois ouvintes inefável sensação de paz. Eles, então, se abraçaram
e se desculparam mutuamente dos agravos que haviam trocado.
- A partir de agora, seremos mesmo amigos. Os laços da
amizade que tecíamos estavam fracos. Os incidentes em que nos vimos envolvidos
serviram para nos tornar mais lúcidos em relação aos deveres que temos com os
outros, na vida de relação. Portanto, a partir de agora ...
A verdade é que os dois homens despertaram mais humanos, mais fraternos. Não se lembraram do que havia ocorrido durante o sono do corpo, mas sentiam estar predispostos a olhar os semelhantes com maior boa-vontade e tolerância. E quando se encontraram, em vez de passarem silenciosamente, cumprimentaram-se, a princípio discretamente e mais tarde com menor reserva. Até que o dia de conversarem amistosamente chegou e se abraçaram.
Esta é uma lição verídica e demonstra quanto podem fazer os
Espíritos esclarecidos acerca do cultivo da fraternidade na Terra.
Vocês que leram esta história, se tiverem algum caso a
resolver, tomem uma decisão, prefiram ter a iniciativa da reconciliação, porque
isso será importante para o futuro espiritual de cada um, encarnado ou
desencarnado. Portanto, decida, pondo de lado preconceitos e temores, vaidade e
orgulho. Diga como aqueles dois amigos o fizeram:
- A partir de agora...
Como é bom ser bom
Como é bom ser bom
José Brígido (Indalício Mendes) Reformador (FEB) Junho 1963
- Deixe disso, Tiago, deixe disso. Tenho tanto que fazer e você ainda quer que eu vá perder a noite para ajudar a quem não conheço?
- Não vejo nada demais nisso. Eu também trabalho muito e
sempre que posso “dou uma mãozinha” a quem precisa mais do que eu.
Depois de curto diálogo, Macário ficou pensativo. As
palavras do seu amigo Tiago lhe ficaram dançando no cérebro, o dia todo.
Afinal - monologava -, que ganharei com isso? Tempo é
dinheiro. A gente faz o bem e recebe o quê? A vida está difícil, tenho de “dar
duro”, porque, se eu não ganhar dinheiro, ninguém terá pena de mim...
Dizendo isto, de si para consigo, Macário decidiu
definitivamente esquecer o apelo de Tiago. E os dias se passaram.
Por outro lado, o amigo, que se esfalfava no trabalho
diário pelo pão da família, ainda se dispunha, nas horas de folga, a ajudar um
pouco aos que necessitavam mais do que ele. Se não podia dar dinheiro, dava
cooperação, procurando com outras pessoas, melhor arrumadas na vida, um meio de
auxiliar os infelizes.
* * *
Alguns anos se passam sem alteração no ritmo da vida dos
dois amigos. Tiago, humilde e prestante; Macário, ativo, ambicioso e egoísta,
seguiam paralelamente o seu destino. O primeiro, modesto, progredira o
suficiente para dar à família um pouco mais de conforto; o segundo, entretanto,
alçara altos postos no comércio e já estava em situação magnifica, morando em
apartamento luxuoso, no Leblon, com três automóveis, lancha a gasolina, casa de
campo ampla e vistosa em Nova Friburgo. Ganhara notoriedade e de quando em
quando seu nome surgia com elogios nos Jornais e o Rádio e a TV disputavam a
sua palavra sobre questões de economia e finanças.
Tanta felicidade, tanta grandeza, tanta projeção:
entretanto, não duraram muito tempo. Certa vez Macário, ao regressar longa
visita ao estrangeiro, encontrou o filho gravemente enfermo. Isto não o
preocupou muito tempo, porque tinha dinheiro e com dinheiro seria fácil
convocar luminares da Medicina para debelarem o mal que ameaçava a vida do
menino.
0s dias, porém, foram-se passando e os luminares não
conseguiram positivar a origem da moléstia que entristecera o lar de Macário.
Não desanimando, ele fez vir dos Estados Unidos vários especialistas, que,
tanto quanto os médicos nacionais e europeus, se mostraram incapazes de uma
ação realmente efetiva.
Enquanto isto ocorria, a mulher de Macário, dona Mirtes,
se acabava de sofrimento. Não largava a cabeceira do filho. Ainda que corajosa,
percebia que o filho morreria dentro de alguns meses. A alegria que, antes,
morava naquele lar, desertara. Poucos amigos acompanhavam com sincero interesse
a doença de Silvio. Muitos e muitos, entretanto, faziam visitas convencionais,
porque não podiam deixar de agradar a Macário, de quem dependiam. Como negócios
são negócios, era mister dar presença em casa de Macário, telefonar-lhe,
mostrar, enfim, que estavam também preocupados com a moléstia do menino.
E tudo corria assim, num ambiente de hipocrisia, porque
eles precisavam da influência do prestigioso homem de negócios. Só uns poucos
amigos acompanhavam os desvelos de dona Mirtes e a ajudavam, permitindo pudesse
ela repousar alguns instantes, sem comprometer o horário da medicação prescrita
pelos médicos.
Macário não tinha muito tempo para estar com o doente. Os
negócios o absorviam. Só à noite, quando chegava, bastante fatigado, ia vê-lo e
sentir, então, mais de perto, a dor que realmente o acabrunhava, mas que a
febre dos negócios atenuava nas agitadíssimas horas de todo o dia.
***
Mas, vejam vocês
como as coisas acontecem nesta vida. Macário só andava de automóvel. Uma tarde,
no entanto, bem próximo da estrada de Tairetá, zona de trabalho de Tiago, eles
se encontram, quando o automóvel de Macário enguiçou.
Macário não pareceu lembrar-se logo do antigo amigo. Subira
tanto, tanto, que as antigas amizades humildes pareciam ter-se apequenado a
ponto de desaparecerem da sua lembrança. Como acontece quando se sobe num
avião. A princípio, tudo é visto em suas normais proporções. Depois, à medida
que o avião se eleva no espaço, tudo vai diminuindo, diminuindo, que acaba por
se sumir à nossa visão limitada. Os campos, as casas e as pessoas vão ficando
reduzidas, parecem brinquedos infantis, de tão pequenos, e logo após se apagam
à nossa vista.
- O Macário! Há quanto tempo não vejo você! - exclamou,
alegre e feliz, o modesto o Tiago.
No primeiro instante, Macário olhou com indiferença o
homem que a ele se dirigiu com tanto entusiasmo e maior intimidade. Como é que
se julgava com o direito de lhe falar daquele jeito? Depois, a memória lhe
permitiu identificar Tiago e, então, discreto, respondeu:
- Ah, Tiago! Como vai?
- Na boa luta de sempre ... E você?
- Sempre muito ocupado e preocupado. Tenho um filho, o
Silvio, que está muito doente...
Na sua simplicidade, Tiago o interrompeu:
- Sinto que posso ajudar-lhe, Macário. Permite-me que o
vá ver?
- Muito obrigado. Agora, não. Ele está em mãos de médicos
excelentes. Muito obrigado.
Tiago percebeu a distância que os separava. Assim mesmo,
cedendo a um impulso íntimo, ofereceu-lhe a casa:
- Olhe, Macário. Eu moro ali, naquela casinha branca e de
grades azuis. Quando passar por aqui e nos quiser dar a honra de tomar um cafezinho
feito na hora...
- Obrigado, Tiago. Raramente passo por aqui. Meu
automóvel “afogou” e por isso tivemos a oportunidade deste encontro. Se precisar
de alguma coisa, procure-me. Tiago, no Pa1âcio do Comércio, na Esplanada do Castelo.
E se separaram.
Macário depressa se esqueceu do encontro. Preocupava-o a conclusão
de importante negócio entabulado com capitalistas norte-americanos. Não queria
atrasar-se, porque tempo é dinheiro.
Tiago, porém, ficou
parado na estrada, vendo o carro sumir-se na poeira do caminho. Sorria um
sorriso tímido e melancólico, pensando consigo mesmo: - Pobre amigo: sempre
preocupado em ganhar tempo...
***
Naquela noite, no
humilde centro espírita que dirigia, Tiago consultou o Guia a respeito do
estado e saúde do menino.
- Não é bom. Até
agora os médicos, apesar de competentes e dedicados, não acertaram com o
diagnóstico. O que ele tem é menos material do que espiritual. Mas o organismo
está sendo minado por um obsessor. Nada poderemos fazer de longe.
Precisamos penetrar o
ambiente em que vive a família, para melhor realizarmos a tarefa. Ele, além das
responsabilidades que trouxe da reencarnação anterior, sofre os efeitos do
materialismo do pai; cuja frieza tem causado muitos males e desapontamentos,
atraindo sobre ele as mais negativas vibrações.
- Desconfio, entretanto, que não poderemos ser úteis,
pois a família não nos dará acesso, quando souber que somos espíritas.
- Tente, Tiago. Há
lá uma criatura boníssima, que sofre muito. É católica, mas não intolerante.
Procure falar-lhe. Quem sabe se não concordará em nos auxiliar em favor do
filho? O amor de mãe pode tudo, Tiago.
***
Já no dia imediato, Tiago, depois de haver conseguido
localizar a residência de Macário, o que não foi difícil, dada a sua projeção
na sociedade, bateu à porta.
- Desejo falar à senhora do Dr. Macário.
- A quem devo anunciar? - perguntou o criado.
- Peço dizer que Tiago Vilares deseja falar-lhe a
respeito do menino Sílvio.
Depois de admitido à sala de visitas luxuosa e
confortável, Tiago compreendeu a situação de ampla prosperidade do amigo. Imediatamente,
apareceu dona Mirtes, simples, distinta, bastante abatida, mas de olhar
brilhante.
- Sim, senhor... Tiago. A que devo sua visita?
- Minha senhora: durante muitos anos fui amigo do seu
marido, o Macário. Há dias o vi e soube do estado de saúde do seu filho, Se me
permitir, procurarei ajudá-la.
- O senhor é médico?
- Não, minha senhora. Sou apenas um espírita entregue ao
trabalho de ajudar o próximo no que puder. Soube que os médicos até hoje não
lograram desvendar a origem do mal do seu pequeno Silvio. A Medicina não poderá
curá-lo, acredite. Se confiar em mim...
- Nada farei sem
autorização do meu marido. O senhor compreende a enorme responsabilidade que eu
teria de assumir. Falarei com ele.
- Está bem, minha senhora, está bem. Devo adiantar-lhe
que o seu filho está envolto em pesadas influências espirituais. Temos de andar
depressa para salvá-lo. Assim, logo que puder, se concordar conosco, queira
chamar-nos. Somos obreiros do Cristo. Nada fazemos por nós, que nos constituímos
meros instrumentos do Alto.
Quando Tiago saiu, dona Mirtes ficou pensativa. Não
tardou que chorasse muito. Não sabia o que decidir, pois cabia-lhe o dever de
dar ciência a Macário do ocorrido.
Quando este chegou,
ao anoitecer, e soube da visita de Tiago, teve um impulso de raiva:
- Era só o que faltava; deixar de lado médicos eminentes
para dar crédito a um bobalhão desses metido em bruxarias. Não, Mirtes, nada
disso. Você acha que um sujeito de poucas letras, sem posição relevante no
mundo social, pode, por meio de mágicas, restituir a saúde do nosso filho? Não!
Não acredito nessas asneiras.
E tudo ficou como estava.
No Centro espírita, Tiago não deixava de trabalhar por
Silvio, por meio de irradiações frequentes. Isto, no entanto, não poderia curá-lo.
Apenas lhe dava um certo alívio porque os bons Espíritos buscavam animá-lo para
que pudesse resistir galhardamente à prova a que estava sendo submetido por um
obsessor poderoso, contra o qual nada podiam fazer sem que tivessem a ajuda dos
familiares do menino.
Um mês depois, o estado de Silvio se agravou muito. Os
médicos foram francos, desenganando-o. Dona Mirtes definhava cada vez mais,
suportando mal a tortura que era para ela o sofrimento do filho amado. O próprio
Macário chegara a ponto de renunciar a todos os sérios compromissos que o
prendiam à vida dos negócios para ficar ao lado do filho.
Certa noite, Jogo após uma crise de Sílvio, dona Mirtes
desfaleceu. Foi um reboliço em casa. Todos ficaram atarantados com a situação.
E Macário, tão hábil em sua especialidade, estava apalermado. Enchera a casa de
médicos, mas estes não chegavam a um acordo acerca do estado de Silvio. Quando
dona Mirtes recuperou os sentidos, mandou chamar Macário:
- Ouça, Macário: tudo está perdido?
- Sim, Mirtes. Pelo que afirmam os médicos os dias de Sílvio
estão contados...
- Se assim é, quero que chames aquele teu antigo amigo
Tiago, com urgência, para tentar alguma coisa em favor do nosso filho.
- Mas, como?! Você é católica fervorosa, não pode
meter-se com essas bruxarias de espiritismo, não pode ombrear com macumbeiros, Mirtes!
Que dirá o padre Alexandre? Em que situação ficarei diante do arcebispo e do
cardeal? Você sabe que preciso da simpatia deles para conservar o alto nível
das minhas relações profissionais com influentes homens de negócio e com o
Governo. Que pretende você fazer?
- Estou resolvida a tudo, Macário. A vida do meu filho
vale mais do que tudo isto. Prefiro ser pobre e viver feliz na mais estrita modéstia,
a continuar mergulhada no fausto e trazer o coração despedaçado pela dúvida e
pela dor. Além disso, antes de ser católica, sou mãe, Macário. Se a religião me
impõe uma atitude de preconceito e intolerância, romperei com ela. Já fiz
inúmeras promessas, desde que Sílvio adoeceu. Nada alcancei, não obstante a
minha sinceridade e tudo quanto tenho feito pela Igreja. Se tudo está perdido,
na opinião do Ciência, deixa-me, agora, fazer eu mesma a minha última
tentativa.
Acabrunhado,
Macário, que amava intensamente o filho, acabou concordando. Meteu-se num automóvel
e partiu, na noite escura e quente, em busca de Tiago. Este se achava no
Centro, em pleno trabalho.
Quando Macário chegou, disseram-lhe:
- Faz favor de esperar um pouco, aqui. “Seu” Tiago está
falando com o Guia. Vou avisá-lo.
Nessa mesma ocasião, já o Guia havia prevenido Tiago:
- Vá; há visita para você, meu irmão. Traga-o cá.
Para encurtar razões, diremos logo que Macário, muito sem
jeito, sentindo-se mal em ambiente tão humilde, se aproximou do Guia, que o
recebeu cordialmente.
- Quanto a você, procure também um médico, antes que seja
tarde. O seu caso pode ser resolvido pela Medicina da Terra. Não se descuide.
Seu filho ficará bom. Vai custar um pouco, porque demoraram muito. Mas tudo
terá de melhorar. Há coisas na vida que valem mais do que dinheiro. Reduza as
suas preocupações com os negócios e devote algum tempo aos problemas da alma.
Pense um pouco em Cristo meu amigo. Há muita gente que passa fome, que não tom
roupa que substitua os farrapos que veste! Há tanta criança precisando de
assistência, tantos pais reclamando um emprego para não permitir que os filhos
se estingam de inanição! E você sentirá a vida melhor, meu amigo, quando
compreender que a vida não tem por finalidade o luxo e que o dinheiro não é o
objetivo da nossa vinda à Terra.
***
Após dois meses de
trabalho exaustivo, Tiago e seus companheiros foram recompensados. Silvio
ficara salvo. Seu obsessor, devidamente instruído pelos doutrinadores espíritas,
acabou por se arrepender do mal que praticava e se mostrou mesmo inclinado a renunciar
para sempre à ideia de vingança, incorporando-se aos obreiros do bem que
colaboravam com o modesto Centro Espírita dirigido por Tiago.
De uns anos a esta parte, o nome de Macário não anda nas
páginas dedicadas aos altos negócios, nos jornais importantes. Mas é comum vê-lo
entre aqueles que, por seu espírito caritativo, concorrem para aliviar as dores
do mundo. O homem frio e interesseiro desapareceu. Surgiu nele um outro, mais
humano porque mais compreensivo e mais generoso.
Por isto, com lágrimas nos olhos, abraçado a Tiago, ele
confessou com deliciosa humildade:
- Meu querido amigo Tiago: Como é bom ser bom!
quarta-feira, 30 de dezembro de 2020
Jesus perante as mulheres
28,09 Neste momento, Jesus apresentou-se diante delas e disse-lhes: “Salve!” Aproximaram-se elas e prostradas diante Dele, beijaram-Lhe os pés. 28,10 Disse-lhes Jesus: “Não temais! Ide dizer aos meus irmãos que se dirijam à Galiléia, pois é lá que eles Me verão.”
“Todos os evangelistas narram as aparições de Jesus, após sua morte, com circunstanciados pormenores que não permitem se duvide da realidade do fato.
Elas, aliás, se explicam perfeitamente pelas
leis fluídicas e pelas propriedades do perispírito e nada de anômalo apresentam
em face dos fenômenos do mesmo gênero, cuja história, antiga e contemporânea,
oferece numerosos exemplos, sem lhes faltar sequer a tangibilidade.
Se notarmos as circunstâncias em que
se deram as suas diversas aparições, nele reconheceremos, em tais ocasiões,
todos os caracteres de um ser fluídico.
Aparece
inopinadamente e do mesmo modo desaparece; uns o vêem, outros não, sob
aparências que não o tornam reconhecível nem sequer por seus discípulos;
mostra-se em recintos fechados, onde um
corpo carnal não poderia penetrar; sua própria linguagem carece de vivacidade
da de um ser corpóreo; fala em tom breve e sentencioso, peculiar aos Espíritos
que se manifestam daquele maneira; todas as atitudes, numa palavra, denotam
alguma coisa que não é do mundo terreno.
Sua presença causa simultaneamente
surpresa e medo; ao vê-lo, seus discípulos não lhe falam com a mesma liberdade
de antes; sentem que já não é um homem.
Jesus, portanto, se mostrou com o seu corpo
perispiritual, o que explica que só tenha sido visto pelos que ele quis que o
vissem. Se estivesse com o seu corpo carnal, todos o veriam, como quando estava
vivo. Ignorando a causa originária do fenômeno das aparições, seus discípulos
não se apercebiam dessas particularidades, a que, provavelmente, não davam
atenção. Desde que viam o Senhor e o
tocavam, haviam de achar que aquele era o seu corpo ressuscitado.
Ao passo
que a incredulidade rejeita todos os fatos que
Jesus produziu, por terem uma aparência sobrenatural, e os considera,
sem exceção, lendários, o Espiritismo dá explicação natural à maior parte
desses fatos.
Prova a possibilidade deles, não só
pela teoria das leis fluídicas, como pela identidade que apresentam com
análogos fatos produzidos por uma imensidade de pessoas, nas mais vulgares
condições.
Por serem, de certo modo, tais fatos
de domínio público, eles nada provam, em princípio, com relação à natureza
excepcional de Jesus.”
“Os inúmeros fatos contemporâneos de
curas, aparições, possessões, dupla vista e outros, que se encontram relatados
na Revue Spirite e lembrados nas
observações acima, oferecem, até quanto aos pormenores, tão flagrante analogia
com os que o Evangelho narra, que ressalta evidente a identidade dos efeitos e
das causas. Não se compreende que o mesmo fato tivesse hoje uma causa natural e
que essa causa fosse sobrenatural outrora; diabólica com uns e divina com os
outros. Se fora possível pô-los aqui em confronto uns com os outros, a
comparação mais fácil se tornaria...”
O futuro está em nossas mãos
O futuro
está em nossas mãos
Tasso Porciúncula (Indalício Mendes) Reformador (FEB) Abril 1963
Cada ser humano tem de trabalhar pela própria felicidade. Se o seu carma é pesado, poderá amortizá-lo em tantas encarnações quantas sejam necessárias à sua reabilitação. Por sobre a Humanidade paira o Cristo, vigilante, caridoso, terno, que estimula os fracos, encoraja os tíbios, suaviza as dores dos enfermos, acalma os desesperados, iluminando lhes a jornada com a esperança. Nunca, porém, concedendo privilégios a este ou àquele, por ser desta ou daquela religião, por professar este ou aquele credo. Nunca, porém, impedindo que cada qual se levante por si mesmo e por si mesmo busque, à custa de lutas e sacrifícios, se necessário, a redenção final.
Ninguém ficará eternamente
condenado ao sofrimento, ninguém padecerá de penas eternas, porque a todos é dado
o ensejo de melhorar, de compreender a diferença que há entre o bem e o mal. As
provações representam o compromisso cármico de cada um, compromisso que terá de
ser cumprido integralmente, através das encarnações. Portanto, o Espírito terá
diante de si, como uma estrada aberta a seus passos, o Tempo. Quanto mais depressa
resgatar seus débitos, mais depressa conhecerá a ventura. Dependerá de si
próprio o destino que cumprirá em cada estágio reencarnacionista.
Dizer-se que Jesus morreu para salvar a Humanidade é uma
burla, porque nunca a Humanidade sofreu tanto quanto depois do sacrifício brutal
imposto ao meigo Nazareno. Se fosse verdade a assertiva, o mundo não conheceria
guerras, os homens seriam felizes, viveriam em paz, amar-se-iam sinceramente,
abominariam a hipocrisia, a intriga, a falsidade, a felonia, a traição. Jesus
veio ao mundo para deixar o seu Evangelho - roteiro de paz, amor e felicidade -
e firmar o exemplo grandiloquente de coragem e fé nos ideais que pregou e
defendeu. Se todos seguissem esses ideais, com a mesma fé, a mesma coragem, o
mesmo entusiasmo e a mesma determinação, o mundo não estaria hoje sofrendo mil
e uma torturas. O homem não continuaria sendo escravo do homem e reinaria na
Terra a fraternidade aconselhada por Jesus. Ele nos traçou o caminho.
Nós, no Espiritismo, não ensinamos que Jesus morreu para
redimir a Humanidade, porque, decorridos quase dois mil anos da implantação de
um cristianismo que não revela a verdadeira estrutura do pensamento do Cristo,
não há paz na Terra, nos lares, onde quer que haja agrupamentos humanos.
Enche-se a boca de prédicas bonitas, pendura-se Jesus nos lábios, mas os
corações nem sempre o admitem lá dentro.
Os
que se afirmam herdeiros do Cristo muitas vezes espalham o fermento da desarmonia,
acendendo as fogueiras da intolerância, do desamor e do sectarismo.
O que ensinamos, no Espiritismo, é o modo de seguir o
itinerário traçado pelo Mestre no Evangelho, mas sem fantasia nem mistério. A
Doutrina Espírita é um farol que leva ao infinito a luz do conhecimento acerca
do destino do homem na Terra e do Espírito no Além. Esse itinerário nos deixará
um dia no porto da redenção espiritual, através dos esforços que realizarmos
para conquistar, palmo a palmo, o terreno perdido em encarnações mal orientadas,
e para expungir do nosso “eu” os vícios e defeitos que retardam a nossa
evolução.
Jesus deu o exemplo de irmos até ao sacrifício, se
preciso, na defesa dos ideais de aperfeiçoamento moral, fazendo o bem,
exercendo a tolerância e sem nos vingarmos daqueles que nos fazem mal. Só assim
alcançaremos a melhoria e o fortalecimento da nossa condição cármica. Temos,
pois, de persistir na luta para lhe seguir as pegadas gloriosas, sem lamúrias
nem desesperos. É mister, contudo, distinguir o Espiritismo do “espiritismo”.
Ninguém pode ser espírita à sua moda. Somente pode ser espírita quem conforma
sua conduta pelas normas doutrinárias, procurando delas não se afastar, haja o
que houver, reerguendo-se sempre que cair.
Ser espírita é obedecer
à Doutrina codificada por Allan Kardec, fugindo ao sectarismo, à intolerância e
a tudo quanto desvirtue o conceito ético do Espiritismo. Ser espírita é
manter-se fiel a essa Doutrina, mostrando-se absolutamente isento de
influências de outras religiões incompatíveis com os princípios que adotamos.
Ou somos peixe ou somos carne. Não podemos ser as duas coisas ao mesmo tempo.
Devemos evitar a “miscigenação” que se vai insinuando em nosso meio, sem,
entretanto, cairmos na ortodoxia, que é fonte geradora da intolerância. Assim,
não teremos mais tarde que lamentar as consequências do descaso e só assim
imporemos limites ao mistifório “doutrinário” que está aflorando em Centros mal
dirigidos.
No Espiritismo, o fundamental é sua Doutrina, porque somente através dela, e só com ela, será possível o progresso moral e espiritual do homem. Não interessa aparentar erudição, mas conhecimentos seguros da Doutrina e subordinação a seus princípios. O que interessa é doutrinar, educar, orientando, fazendo que retifiquem seus passos aqueles que se desencaminharam na vida terrena, para que experimentem o reconforto do coração esclarecido. O Espiritismo ensina ao homem o porquê da vida terrena, dos sofrimentos, das desigualdades sociais. Mostra a vida espiritual, feliz, não como um Paraíso destinado aos favorecidos pelo “pistolão” de credos supostamente privilegiados, mas como um direito que cada qual pode conquistar por seu próprio mérito. É um direito que se terá de adquirir pelo trabalho, nunca por dinheiro.
Até hoje o Espiritismo tem sido coerente com os seus
princípios fundamentais, não obstante o esgalhamento que se observa, alheio a
essas normas indispensáveis e insubstituíveis. É preciso que continue coerente,
embora os obstáculos sejam cada vez maiores, pois, à medida que se aproxima o
advento do Terceiro Milênio, mais fundas e demoradas serão as dores do mundo. E
os que não estiverem preparados para suportar o que ainda está por vir,
demonstrando coragem e resignação valorosa, soçobrarão fatalmente no mar
revolto dos entrechoques ideológicos e sociais.
“O Livro dos Espíritos” contém os "Princípios da
Doutrina Espírita.” Estudá-lo sempre e sempre, na ânsia louvável de assimilar-lhe
os ensinamentos, é dever de cada um de nós. Só se define como espírita quem
saiba exemplificar as normas doutrinárias, pautando suas ações terrenas, na
vida íntima do lar e na vida fora do lar, pelas lições prodigiosas da Doutrina
codificada por Allan Kardec.
terça-feira, 29 de dezembro de 2020
Leviana afirmativa
Leviana
afirmativa
Percival Antunes (Indalício Mendes) Reformador (FEB) Julho 1963
A nossa religião é
visceralmente democrática.
Aceita qualquer pessoa, sem cogitar do seu passado, do
seu presente, da sua nacionalidade, do seu idioma, da sua raça e da cor da sua pele
ou se é física ou mentalmente perfeita ou imperfeita. A todos acolhe com o
mesmo espirito fraterno, procurando atender a quantos a procuram, em busca de
uma esperança ou atrás de um lenitivo. É uma religião universalista, se assim
podemos dizer, que se preocupa exclusivamente com os problemas humanos em face
do Espírito, mostrando ao homem os seus deveres morais e espirituais, as suas
obrigações terrenas, os meios de alcançar o aprimoramento indispensável à sua
ascensão na escala evolutiva.
O Espiritismo não faz seleções, não envereda pelo
tortuoso caminho das discriminações. Sua ação acolhedora se exerce principalmente
sobre aqueles que se mostrem mais retardados na pauta da evolução moral. 0s
sãos não precisam de assistência, mas os enfermos. É natural, portanto, que
pessoas que vieram para a nossa religião, egressas de outros credos ou sem
credo algum, ainda não tenham podido assimilar bem os ensinamentos do Espiritismo
e, assim sendo, às vezes se manifestem descaridosamente a respeito de outras
criaturas com as quais não tenham afinidade de nenhuma ordem superior.
Todavia, a
afirmativa de que são líderes espirituais que pregam o ódio é mais específica.
Se há alguém que se rotule de líder e proceda assim, está “ab initio” provando
que não é líder de coisa alguma. Ninguém que possua qualquer parcela de
responsabilidade real, dentro do movimento espírita kardequista, será capaz de
abrigar sentimentos tão rasteiros, que anulam a mais mínima presunção de
respeito à Doutrina codificada por Allan Kardec. E quem o faça, não é espirita.
É sempre perigosa,
pelas injustiças que produz, a generalização de conceitos dessa natureza. Não
desejamos remontar à origem de uma asserção tão leviana, mas apenas lamentar
que se busque combater o Espiritismo e os espíritas com processos incompatíveis
com os mais corriqueiros princípios da verdade. Já o iluminado Léon Denis, em “O
Problema do Ser, do Destino e da Dor”, obra maravilhosa que ninguém deve deixar
de reler, pontifica “Somos o que
pensamos, com a condição de pensarmos com força, vontade e persistência. Mas,
quase sempre, nossos pensamentos passam constantemente de um a outro assunto.
Pensamos raras vezes por nós mesmos, refletimos os mil pensamentos incoerentes
do meio em que vivemos. Poucos homens sabem viver do próprio pensamento, beber
nas fontes profundas, nesse grande reservatório da inspiração que cada um traz
consigo, mas que a maior parte ignora. Primeiro que tudo, é preciso aprender a
fiscalizar os pensamentos, a discipliná-los, a imprimir-lhes uma direção determinada um fim nobre e digno.
“A
fiscalização dos pensamentos implica a fiscalização dos atos, porque, se uns
são bons, os outros sê-lo-ão igualmente, e todo o nosso procedimento achar-se-á
regulado por uma concatenação harmônica. Ao passo que, se nossos atos são bons
e nossos pensamentos maus, apenas haverá uma falsa aparência do bem e
continuaremos a trazer em nós um foco malfazejo, cujas influências mais cedo ou
mais tarde se derramarão fatalmente sobre nossa vida.”
Pior ainda é o processo
de alguém procurar valorizar suas próprias opiniões à custa de afirmações malevolentes
e sem fundamento.
Léon Denis pondera com segurança: “o homem só é grande, só tem valor, pelo seu pensamento.”
O "Dia do Papa"
O “Dia do Papa”
por I. Pequeno (A. Wantuil de Freitas)
Reformador (FEB) Julho 1947
S. Eminência o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro distribuiu por todos os nossos jornais as suas instruções referentes às celebrações do “Dia do Papa", marcado para o dia 29 de Junho, dia de S. Pedro. É natural, portanto, que a data correspondesse ao dia daquele de quem S. S. se diz sucessor; todavia, quando nos lembramos de que o Cristo logo após proferir aquelas palavras em que se basearam todos os papas, como justificativa dos seus direitos de herança, também nos vêm à memória aquelas que lhe saíram dos lábios, quase em seguida, quando se dirigiu ao Pedro que o negou mais tarde: - Afasta-te de mim, satanás! Nada temos, porém, com isso. Somos filhos do demônio, viciosos, hereges, salteadores e não sei mais o quê. Somos tudo isso e mais alguma coisa, tal como nos classificam; contudo, iremos fazer a vontade de sua eminência, transcrevendo de “O Globo”, de 26 de Junho, a letra b da sua circular à imprensa, auxiliando-o, portanto, colaborando em benefício da paupérrima arca do Vaticano, cuja “pobreza” foi exibida em nossos cinemas.
b) - “coleta”, em todas as igrejas, capelas e Comunidades, não só à estação de todas as missas “como nos outros atos religiosos e reuniões” desse dia “integralmente” destinado ao óbolo de S. Pedro
segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
No bem de todos
No bem
de todos
Emmanuel por Chico Xavier Reformador (FEB) Agosto 1963
Não te encarceres, assim, nos tormentos do supérfluo que
a avareza retém, como sendo recurso indispensável à vida, na cegueira com que inventa
fantasiosas necessidades.
O dono do pomar não comerá dos frutos senão a quota
compatível com os recursos do estômago.
O atacadista de algodão vestirá uma camisa de cada vez.
Entretanto, o cultivador e o negociante serão abençoados
nos Céus se libertam os valores que administram, em louvor do trabalho que
dignifica, da educação que eleva, da beneficência que restaura ou da
fraternidade que sublima.
Atendamos aos deveres que as circunstâncias nos atribuem,
acalentando ideais de melhoria, mas aprendemos a contentar-nos com o que temos,
sem ambicionar o que não possuímos, em matéria de aquisições passageiras, a fim
de conquistarmos, sem atritos desnecessários, os talentos que nos faltam.
Ainda não se viu homem no mundo, cercado de tesouros
infrutíferos que se livrasse, tão somente por isso, das leis que regem o
sofrimento e a enfermidade, a velhice e a morte. Respeitemos os princípios divinos do bem para todos.
Confiemos, trabalhando.
Caminhemos, servindo.
“Não te deixarei, nem te desampararei” – disse-nos o
Senhor.
Sim, o Senhor jamais nos deixará, nem nos desamparará,
mas, se não queremos experiências dolorosas, espera naturalmente que não nos
releguemos à ilusão, sem lhe desprezemos a companhia.
Diferença capital
Diferença
capital
Lincóia Araucano (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Dezembro
1963
Ora, o correio não tem importância, é apenas condutor da
mensagem. Se a mensagem é respeitável e por isso tem sido respeitada, que
importa saber se o correio é bonito ou feio?
Como explicar-se essa anomalia?
O combate contra o Cristianismo nascente era
completamente outro; não se combatiam fenômenos, combatiam-se os ensinos, a
Doutrina mesma trazida por Jesus de Nazaré e seus discípulos. Essa Doutrina
nova vinha de encontro a toda a organização social do tempo, era uma revolução
que ameaçava a ordem social. A sociedade era dividida em classes de senhores e
de escravos. Estes eram privados de todos os direitos, só tinham deveres e os
mais duros deveres. O Cristianismo proclamava a igualdade de todos os homens,
ricos e pobres, escravos e senhores, cultos e ignorantes, homens e mulheres,
todos eram tratados como irmãos, filhos do mesmo Pai.
Os pregadores dessa nova moral eram perigosos
revolucionários contra os detentores do poder político-religioso, e a reação
era lógica e compreensível, como veio com toda a severidade. A crueldade da
reação não venceu as ideias novas daqueles sublimes revolucionários que morriam
sob tormentos, que eram lançados as feras no circo romano, sem renunciar à sua
crença.
Hoje a moral evangélica está teoricamente aceita e
ninguém ousa levantar-se contra ela, e como os fenômenos espíritas a confirmam
integralmente e a interpretam e a comentam com inteligência, justificando-a,
poucos se atrevem a insurgir-se contra os ensinos dos Espíritos. Mas só teoricamente
a moral cristã está aprovada; na prática vivemos divididos entre pobres e
ricos, sábios e ignorantes, com muito dos costumes anteriores ao Cristianismo e
muito pouca prática cristã.
Temos rótulo cristão e vida pagã. É preciso pregar,
ensinar de novo o Evangelho com explicações e exemplos de suas consequências. É
isto que está fazendo o Espiritismo. O Espiritismo não aceita este estado de
hipocrisia em que vivemos, dizendo-nos cristãos e praticando como pagãos. Como
não se tem coragem de atacar a moral cristã, guarda-se parcial silêncio sobre
os ensinos dos Espíritos e limita-se a atacar os fenômenos.
A diferença capital é que os adversários do Cristianismo
nascente não eram hipócritas: - batiam-se abertamente pela conservação de suas
prerrogativas político-religiosas; mas os adversários do Espiritismo não ousam
combater o Evangelho e tentam vencer a nova mensagem evangélica, denunciando os
correios que no-la entregam.
Terão força de vencer o Governador do Planeta? É evidente
que não. Se a Doutrina do Evangelho não for posta em prática pacificamente pelo
amor, sua falta ocasionará duras revoluções e a Humanidade progredirá pelo
caminho das grandes dores, rumando de qualquer modo para O Evangelho. Apenas
daremos uma grande volta pôr vias pedregosas, para irmos chegar ao alvo que nos
foi traçado por Deus como nosso destino. A moral evangélica terá que ser posta
em prática, por mais que o homem recalcitre contra o aguilhão do progresso
moral.
Os ataques ao Espiritismo revertem-se todos em sua
defesa, pelo fato mesmo de silenciarem quanto aos belos ensinos evangélicos
recebidos em grandiosos livros como “Parnaso de Além - Túmulo”, “Antologia dos
Imortais”, “Paulo e Estêvão”, “Agenda Cristã”, “O Evangelho segundo Espiritismo”,
e tantos outros.
A literatura doutrinária cresce e eleva-se de nível dia a
dia, e os adversários que se limitam a atacar fenômenos, sem coragem de dizer a
verdade, de proclamar que defendem suas prerrogativas religiosas, políticas,
econômicas, terão que desaparecer diante de tanta beleza.
O Evangelho é invencível e mesmo os fenômenos negados
terão que ser aceitos - como já vão sendo - pela repetição incessante e em
formas sempre mais belas.
Entre os negadores enfileiram-se alguns padres católicos
que confirmam os fenômenos, mas os atribuem ao demônio. Então nos aparece
Satanás transformado em anjo de luz, reverente diante de Jesus, ensinando-nos o
Evangelho com todo o respeito e exemplificando sua imperiosa necessidade na
vida. “Deus abençoe o Diabo” que nos
ensina bela moral evangélica, como escreveu o Sr. Luís Rodríguez num belo livro
com esse título.
Repitamos: o Evangelho é invencível e por isso o
Espiritismo é invencível.
domingo, 27 de dezembro de 2020
Hospitalidade
Hospitalidade
Emmanuel por Chico Xavier Reformador
(FEB) Janeiro 1967
“Não vos esqueçais da hospitalidade, porque,
por ela, alguns, não o sabendo,
hospedaram anjos."
Paulo aos Hebreus 13:2.
É provável que nem
sempre disponhas dos recursos necessários à hospedagem de companheiros em casa.
Obstáculos e vínculos domésticos, em muitas ocasiões,
determinam impedimentos.
Se a parentela ainda não se compraz contigo, na cultura
da gentileza, não é justo violentes a harmonia do lar, estabelecendo discórdia,
em nome do Evangelho que te recomenda servi-los.
Nada razoável empilhar amigos em espaço irrisório,
impondo-lhes constrangimentos, à conta de bem-querer.
Todos nós, porém, conseguimos descerrar as portas da alma
e oferecer acolhimento moral.
Nem todos os desabrigados se classificam entre os que
jornadeiam sem teto.
Aqui e ali, surpreendemos os que vagueiam, deserdados de
apoio e convivência...
Observa e tê-los-ás no caminho, a te pedirem asilo no
entendimento.
Dá-lhes uma frase de coragem, um pensamento de paz, um
gesto de amizade, um momento de atenção.
Às vezes, aquele que hoje se reergue com a tua migalha de
amor é quem te vai solucionar as necessidades de amanhã, num carro de bênçãos.
Não te digas inútil, nem te afirmes incapaz.
Ninguém existe que não possa auxiliar alguém, estendendo
o agasalho da simpatia pelos fios do coração.