segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Diferença capital

                          

Diferença capital

Lincóia Araucano (Ismael Gomes Braga)

Reformador (FEB) Dezembro 1963

             Temos lido e ouvido quantidade incalculável de ataques ao Espiritismo em artigos, livros, palestras, e notamos que todos condenam de preferência os fenômenos, deixando em silêncio quase total os ensinos decorrentes desses fenômenos. Esse silêncio equivale talvez a uma respeitosa aprovação da Doutrina Espírita. Combatem-se os correios que nos trazem a mensagem, mas não a mensagem mesma.

            Ora, o correio não tem importância, é apenas condutor da mensagem. Se a mensagem é respeitável e por isso tem sido respeitada, que importa saber se o correio é bonito ou feio?

            Como explicar-se essa anomalia?

            O combate contra o Cristianismo nascente era completamente outro; não se combatiam fenômenos, combatiam-se os ensinos, a Doutrina mesma trazida por Jesus de Nazaré e seus discípulos. Essa Doutrina nova vinha de encontro a toda a organização social do tempo, era uma revolução que ameaçava a ordem social. A sociedade era dividida em classes de senhores e de escravos. Estes eram privados de todos os direitos, só tinham deveres e os mais duros deveres. O Cristianismo proclamava a igualdade de todos os homens, ricos e pobres, escravos e senhores, cultos e ignorantes, homens e mulheres, todos eram tratados como irmãos, filhos do mesmo Pai.

            Os pregadores dessa nova moral eram perigosos revolucionários contra os detentores do poder político-religioso, e a reação era lógica e compreensível, como veio com toda a severidade. A crueldade da reação não venceu as ideias novas daqueles sublimes revolucionários que morriam sob tormentos, que eram lançados as feras no circo romano, sem renunciar à sua crença.

            Hoje a moral evangélica está teoricamente aceita e ninguém ousa levantar-se contra ela, e como os fenômenos espíritas a confirmam integralmente e a interpretam e a comentam com inteligência, justificando-a, poucos se atrevem a insurgir-se contra os ensinos dos Espíritos. Mas só teoricamente a moral cristã está aprovada; na prática vivemos divididos entre pobres e ricos, sábios e ignorantes, com muito dos costumes anteriores ao Cristianismo e muito pouca prática cristã.

            Temos rótulo cristão e vida pagã. É preciso pregar, ensinar de novo o Evangelho com explicações e exemplos de suas consequências. É isto que está fazendo o Espiritismo. O Espiritismo não aceita este estado de hipocrisia em que vivemos, dizendo-nos cristãos e praticando como pagãos. Como não se tem coragem de atacar a moral cristã, guarda-se parcial silêncio sobre os ensinos dos Espíritos e limita-se a atacar os fenômenos.

            A diferença capital é que os adversários do Cristianismo nascente não eram hipócritas: - batiam-se abertamente pela conservação de suas prerrogativas político-religiosas; mas os adversários do Espiritismo não ousam combater o Evangelho e tentam vencer a nova mensagem evangélica, denunciando os correios que no-la entregam.

            Terão força de vencer o Governador do Planeta? É evidente que não. Se a Doutrina do Evangelho não for posta em prática pacificamente pelo amor, sua falta ocasionará duras revoluções e a Humanidade progredirá pelo caminho das grandes dores, rumando de qualquer modo para O Evangelho. Apenas daremos uma grande volta pôr vias pedregosas, para irmos chegar ao alvo que nos foi traçado por Deus como nosso destino. A moral evangélica terá que ser posta em prática, por mais que o homem recalcitre contra o aguilhão do progresso moral.

            Os ataques ao Espiritismo revertem-se todos em sua defesa, pelo fato mesmo de silenciarem quanto aos belos ensinos evangélicos recebidos em grandiosos livros como “Parnaso de Além - Túmulo”, “Antologia dos Imortais”, “Paulo e Estêvão”, “Agenda Cristã”, “O Evangelho segundo Espiritismo”, e tantos outros.

            A literatura doutrinária cresce e eleva-se de nível dia a dia, e os adversários que se limitam a atacar fenômenos, sem coragem de dizer a verdade, de proclamar que defendem suas prerrogativas religiosas, políticas, econômicas, terão que desaparecer diante de tanta beleza.

            O Evangelho é invencível e mesmo os fenômenos negados terão que ser aceitos - como já vão sendo - pela repetição incessante e em formas sempre mais belas.

            Entre os negadores enfileiram-se alguns padres católicos que confirmam os fenômenos, mas os atribuem ao demônio. Então nos aparece Satanás transformado em anjo de luz, reverente diante de Jesus, ensinando-nos o Evangelho com todo o respeito e exemplificando sua imperiosa necessidade na vida. “Deus abençoe o Diabo” que nos ensina bela moral evangélica, como escreveu o Sr. Luís Rodríguez num belo livro com esse título.

            Repitamos: o Evangelho é invencível e por isso o Espiritismo é invencível.


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