Diferença
capital
Lincóia Araucano (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Dezembro
1963
Ora, o correio não tem importância, é apenas condutor da
mensagem. Se a mensagem é respeitável e por isso tem sido respeitada, que
importa saber se o correio é bonito ou feio?
Como explicar-se essa anomalia?
O combate contra o Cristianismo nascente era
completamente outro; não se combatiam fenômenos, combatiam-se os ensinos, a
Doutrina mesma trazida por Jesus de Nazaré e seus discípulos. Essa Doutrina
nova vinha de encontro a toda a organização social do tempo, era uma revolução
que ameaçava a ordem social. A sociedade era dividida em classes de senhores e
de escravos. Estes eram privados de todos os direitos, só tinham deveres e os
mais duros deveres. O Cristianismo proclamava a igualdade de todos os homens,
ricos e pobres, escravos e senhores, cultos e ignorantes, homens e mulheres,
todos eram tratados como irmãos, filhos do mesmo Pai.
Os pregadores dessa nova moral eram perigosos
revolucionários contra os detentores do poder político-religioso, e a reação
era lógica e compreensível, como veio com toda a severidade. A crueldade da
reação não venceu as ideias novas daqueles sublimes revolucionários que morriam
sob tormentos, que eram lançados as feras no circo romano, sem renunciar à sua
crença.
Hoje a moral evangélica está teoricamente aceita e
ninguém ousa levantar-se contra ela, e como os fenômenos espíritas a confirmam
integralmente e a interpretam e a comentam com inteligência, justificando-a,
poucos se atrevem a insurgir-se contra os ensinos dos Espíritos. Mas só teoricamente
a moral cristã está aprovada; na prática vivemos divididos entre pobres e
ricos, sábios e ignorantes, com muito dos costumes anteriores ao Cristianismo e
muito pouca prática cristã.
Temos rótulo cristão e vida pagã. É preciso pregar,
ensinar de novo o Evangelho com explicações e exemplos de suas consequências. É
isto que está fazendo o Espiritismo. O Espiritismo não aceita este estado de
hipocrisia em que vivemos, dizendo-nos cristãos e praticando como pagãos. Como
não se tem coragem de atacar a moral cristã, guarda-se parcial silêncio sobre
os ensinos dos Espíritos e limita-se a atacar os fenômenos.
A diferença capital é que os adversários do Cristianismo
nascente não eram hipócritas: - batiam-se abertamente pela conservação de suas
prerrogativas político-religiosas; mas os adversários do Espiritismo não ousam
combater o Evangelho e tentam vencer a nova mensagem evangélica, denunciando os
correios que no-la entregam.
Terão força de vencer o Governador do Planeta? É evidente
que não. Se a Doutrina do Evangelho não for posta em prática pacificamente pelo
amor, sua falta ocasionará duras revoluções e a Humanidade progredirá pelo
caminho das grandes dores, rumando de qualquer modo para O Evangelho. Apenas
daremos uma grande volta pôr vias pedregosas, para irmos chegar ao alvo que nos
foi traçado por Deus como nosso destino. A moral evangélica terá que ser posta
em prática, por mais que o homem recalcitre contra o aguilhão do progresso
moral.
Os ataques ao Espiritismo revertem-se todos em sua
defesa, pelo fato mesmo de silenciarem quanto aos belos ensinos evangélicos
recebidos em grandiosos livros como “Parnaso de Além - Túmulo”, “Antologia dos
Imortais”, “Paulo e Estêvão”, “Agenda Cristã”, “O Evangelho segundo Espiritismo”,
e tantos outros.
A literatura doutrinária cresce e eleva-se de nível dia a
dia, e os adversários que se limitam a atacar fenômenos, sem coragem de dizer a
verdade, de proclamar que defendem suas prerrogativas religiosas, políticas,
econômicas, terão que desaparecer diante de tanta beleza.
O Evangelho é invencível e mesmo os fenômenos negados
terão que ser aceitos - como já vão sendo - pela repetição incessante e em
formas sempre mais belas.
Entre os negadores enfileiram-se alguns padres católicos
que confirmam os fenômenos, mas os atribuem ao demônio. Então nos aparece
Satanás transformado em anjo de luz, reverente diante de Jesus, ensinando-nos o
Evangelho com todo o respeito e exemplificando sua imperiosa necessidade na
vida. “Deus abençoe o Diabo” que nos
ensina bela moral evangélica, como escreveu o Sr. Luís Rodríguez num belo livro
com esse título.
Repitamos: o Evangelho é invencível e por isso o
Espiritismo é invencível.
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